Em diferentes análises políticas nas últimas semanas, o presidente Lula tem demonstrado preocupação com o risco de apoiadores de Jair Bolsonaro conseguirem controlar de vez o Senado a partir das eleições de 2026 e, com isso, terem armas reais para emparedar o principal moinho de vento do capitão, o Supremo Tribunal Federal (STF).
É no Senado que, de acordo com a Constituição, devem tramitar processos de impeachment contra integrantes da Suprema Corte, mas tradicionalmente, seja pela falta de justa causa seja pelo risco que o eventual afastamento de um magistrado poderia provocar nas instituições, os pedidos são arquivados pelo presidente da Casa.
De olho no risco de uma eventual ascensão de mais bolsonaristas poder dar forças para que o impeachment de um dos magistrados saia do papel, Lula tem rascunhado a seguinte estratégia: lançar candidatos competitivos e com chances reais de vitória para as vagas de senador disponíveis nas regiões Sudeste, Norte e Centro-Oeste e tentar abrir vantagem nas cadeiras disponíveis a estados do Nordeste. No Sul, onde o petista teve apenas 38% dos votos válidos no segundo turno em 2022, a situação, na avaliação de interlocutores, seria mais complicada.
No Norte, por exemplo, Lula havia amealhado mais votos que Bolsonaro no primeiro turno, mas perdeu a dianteira no turno suplementar nas últimas eleições presidenciais. Entre eleitores do Sudeste, maior colégio eleitoral do país, o petista conseguiu reduzir em três pontos percentuais a vantagem aberta pelo adversário entre os dois turnos, embora ainda tenha sido batido pelo concorrente.
No Nordeste, reduto histórico do presidente, Lula venceu por ampla margem – 69,34% contra 30,66% no segundo turno – tentos considerados cruciais para que fosse eleito para o terceiro mandato com 50,9% dos votos contra 49,10% de Bolsonaro. Nas últimas eleições, Bolsonaro conseguiu eleger 14 dos 20 candidatos ao Senado apoiados por ele, entre os quais as ex-ministras Damares Alves (Republicanos-DF) e Marcos Pontes (PL-SP) e o ex-vice Hamilton Mourão (PL-RS). Lula, oito.
Em 2026, serão eleitos dois senadores por unidade da federação, o que permite que mude consideravelmente a correlação de forças na Casa onde tramitam os processos de impeachment contra ministros do STF. No campo bolsonarista, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), por exemplo, têm candidaturas dadas como certas ao Senado.