A COP, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, é um dos eventos mais importantes e midiáticos do mundo. A edição de 2023, em Dubai, reuniu mais de 40 000 pessoas de 190 países, entre elas ambientalistas, cientistas, celebridades, líderes políticos, como Emmanuel Macron (França), e monarcas, como o rei Charles III, do Reino Unido. Em novembro de 2025, será a vez de Belém receber o acontecimento, dentro do plano do país para colocar a Amazônia ainda mais em posição de destaque nas discussões globais sobre o assunto. Em meio à correria visando preparar a capital do Pará para receber um encontro desse porte, há uma disputa paralela entre políticos locais, de olho na eleição municipal que já é considerada a mais importante da história de lá. Afinal, o próximo prefeito será uma das autoridades brasileiras mais importantes e com maior visibilidade durante a COP.
Para começar, a corrida pelo comando de Belém a partir de 2025 envolverá dois grupos que já estão no poder local. O prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), que tem um governo mal avaliado (75% da população reprova sua gestão, segundo o Paraná Pesquisas), tem ao menos o histórico a seu favor: já venceu três vezes a eleição para prefeito (1996, 2000 e 2020). Seu principal adversário deverá ser o ex-secretário estadual de Cidadania, Igor Normando (MDB), o nome escolhido por Helder Barbalho (MDB) para tentar retomar o controle político da capital. Trata-se de uma questão de honra, já que foi ele quem atuou, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra Marina Silva (Meio Ambiente), para trazer a COP28 à Amazônia.
Nas cordas em razão do fraco desempenho na gestão, Edmilson Rodrigues ganhou um alento na última semana. Ele conseguiu manter o apoio do PT, que hoje ocupa o cargo de vice com Edilson Moura, e vão reeditar a dobradinha na única capital comandada pelos dois partidos. O PT cogitou se desgarrar de Rodrigues e lançar candidatura própria, mas manteve a parceria, homologada pela executiva nacional na segunda-feira 10. O casamento com o petismo é essencial para o prefeito. Além do apoio de Lula, ele terá mais tempo de TV e uma fatia generosa do fundo eleitoral, já que o PT é o maior partido da aliança (os outros são Rede, PV, PCdoB e PDT).
O outro cabo eleitoral com grande poder de influência na disputa já entrou pesado no jogo. Igor Normando, nome apoiado pelo governador Barbalho, tem a seu favor o capital político das Usinas da Paz, um projeto de segurança pública e ações sociais que comandou à frente da Secretaria da Cidadania e que virou um exemplo de política para a redução da violência em comunidades críticas do estado, em especial na região metropolitana. Falta ainda definir o vice da chapa — os cotados são Ursula Vidal (União Brasil) e Cássio Andrade (PSB), que comandavam as secretarias de Cultura e Esporte e deixaram os cargos nos prazos fixados pela lei. O fato de os nomes para a chapa serem de três ex-secretários mostra o tamanho da importância dada à eleição pelo governador. Ao contrário do prefeito, Barbalho tem 78% de aprovação na capital.
A disputa entre os dois grupos pode, no entanto, ser afetada por um terceiro e barulhento personagem. O deputado federal Éder Mauro, presidente estadual do PL, vem pontuando bem nos levantamentos e também está no páreo. Delegado da Polícia Civil, ele afirma que “já matou muita gente, mas todos eram bandidos”, costuma votar contra pautas ambientais na Câmara e é autor de projetos que favorecem o garimpo em áreas de conservação. Seu principal cabo eleitoral é o ex-presidente Jair Bolsonaro (surpresa zero, portanto), que já confirmou presença em Belém em 30 de junho. No pleito de 2022, a cidade deu 50,28% dos votos a Lula e 49,72% ao então presidente.
O desafio do “prefeito da COP” não é pequeno. Será ele o responsável por dar continuidade aos preparativos em andamento, como a construção do Parque da Cidade, onde ocorrerão algumas reuniões da conferência, e do Porto Futuro II, complexo para atividades de economia e cultura — os dois projetos tocados pelo estado e União. Barbalho também assumiu a tarefa de recapear ruas e avenidas importantes, o que deveria ser papel da prefeitura. “A cidade quer fugir dessa dicotomia entre esquerda e bolsonarismo porque o que mais falta aqui é zeladoria, saneamento, coleta de lixo e recapeamento”, provoca Normando. Já o prefeito anunciou a reforma do Mercado Ver-o-Peso, um dos cartões-postais da cidade, e vai usar os menos de quatro meses que restam para tentar virar o jogo. O clima para a eleição da COP só vai esquentar daqui para a frente.
Publicado em VEJA de 14 de junho de 2024, edição nº 2897