A reação dos evangélicos progressistas à entrevista do presidente do bloco parlamentar
Frente pelo Estado de Direito divulgou repúdio às declarações do deputado federal Gilberto Nascimento

A Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito divulgou, nesta quinta-feira, 3, uma carta em que repudia declarações do deputado federal e presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Gilberto Nascimento (PSD/SP). Em entrevista a VEJA, o parlamentar afirmou que o presidente “Lula faz um governo que, infelizmente, é muito diferente do que nós, evangélicos, pensamos”. Para o grupo, mais alinhado ao progressismo, a fala “invisibiliza milhares de evangélicos que, à luz da fé cristã, se dedicam à luta por justiça social, ao combate à fome, à valorização da democracia, da paz e da dignidade humana”.
Em sua entrevista, Nascimento foi enfático ao afirmar que a agenda da esquerda é incompatível com o pensamento evangélico e que acha “muito difícil” reverter isso. Questionado sobre a mobilização de líderes evangélicos pela anistia aos réus e condenados pelo 8 de janeiro de 2023, o parlamentar disse que tal movimento “questão de Justiça” e que “não se pode dar uma pena de catorze, quinze anos de prisão mesmo para aqueles que não causaram danos ao patrimônio”. Ele também afirmou que, na sua visão, “Bolsonaro não praticou nenhum crime”.
Para a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, “a entrevista parte de uma premissa equivocada: a de que os evangélicos formam um bloco homogêneo, alinhado a uma pauta político-ideológica de extrema direita”. “Essa visão desconsidera a pluralidade de pensamentos e vivências dentro das igrejas evangélicas brasileiras, além de desrespeitar a memória de um Evangelho que sempre foi boa notícia aos pobres, libertação aos oprimidos e denúncia profética à injustiça”, diz a carta.
O texto também manifesta discordância da “tentativa de normalizar ou relativizar os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023”. “Há dezenas de réus condenados com base em provas documentais e imagens que revelam tentativa clara de ruptura da ordem democrática. Também causa estranhamento a afirmação de que Jair Bolsonaro “não praticou nenhum crime”, considerando que o ex-presidente figura em investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF), algumas das quais já resultaram em denúncias formais”, prossegue.
Em seguida, o texto lista as investigações às quais Bolsonaro responde. Entre elas, além da suposta participação na trama golpista após as eleições de 2022, está a condenação no Tribunal Superior Eleitoral por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação oficiais, além da condução do ex-presidente durante a pandemia da Covid-19.
Ainda sobre a postura de Nascimento em relação a Bolsonaro, a carta é direta: “Ressaltamos que, conforme os princípios do Estado de Direito, todo cidadão tem direito à ampla defesa e ao devido processo legal, mas é responsabilidade de toda liderança política e da imprensa reconhecer a existência dessas investigações e tratá-las com a seriedade que o cargo exige. Essas práticas atentam diretamente contra os princípios da verdade, da justiça e da integridade que norteiam a vida cristã. O apoio acrítico a um líder político, em detrimento da ética e da verdade, configura idolatria política e trai o testemunho do Evangelho”, diz a carta.
“Enquanto Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, reafirmamos nosso compromisso com a democracia, os direitos humanos, a liberdade religiosa e a Constituição Federal. Rejeitamos qualquer uso da fé como instrumento de dominação ideológica, manipulação política ou exclusão de segmentos da sociedade. Seguimos vigilantes e em oração, para que a fé evangélica no Brasil continue sendo sinal de esperança, justiça e reconciliação, e não de ódio, exclusão ou autoritarismo”, conclui o texto.