A transformação de Rui Costa para se aproximar do Congresso
Antes desafeto preferencial dos parlamentares, chefe da Casa Civil faz as vezes de articulador político e ganha a fama de cumpridor de acordos
Cada vez mais empoderado pelo presidente Lula, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, aderiu a uma nova estratégia para se aproximar de alguns de seus antigos algozes no Congresso. Antes alvo de duras críticas por parte das principais lideranças, que chegaram a classificá-lo de “desleal” e “troglodita”, o ministro abriu as portas de seu gabinete para parlamentares, passou a frequentar a casa do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) – lugar onde o articulador oficial, Alexandre Padilha, não põe os pés –, e surpreendeu ao ser um dos primeiros a chegar à festa de aniversário do deputado Elmar Nascimento (União Brasil), um de seus mais notórios adversários políticos na Bahia, realizada no último dia 10.
Rui é apontado como o responsável pelo veto à indicação de Nascimento para assumir um ministério no início do governo Lula. Em reação, além da pressão pela demissão do ministro, corria a ameaça de que aliados do deputado baiano criariam uma CPI para investigar a fraude na compra de respiradores pelo Consórcio Nordeste durante a pandemia, à época presidido pelo chefe da Casa Civil.
São águas passadas, aparentemente. Enquanto o anfitrião chamava o ministro de “meu amigo” na festa, Rui transitava com tranquilidade entre jornalistas e políticos, mostrava-se acessível a todos e fazia a defesa enfática do governo, principalmente encampando o fim da desoneração a alguns setores empresariais. “Tem gente que não quer pagar e quer que alguém pague por ela”, afirmou em uma das rodas de conversa.
A presença do ministro na celebração foi alvo das mais diversas especulações: houve quem interpretasse como um aceno à candidatura de Nascimento à presidência da Câmara e ainda quem jura que, com uma aproximação fictícia, o gesto serviu apenas para blindá-lo da responsabilização de uma eventual resistência do governo à campanha do deputado.
Pessoas que estiveram com o ministro nos últimos dias dizem que, no trato, o estilo é o mesmo: sobra rispidez enquanto falta carisma. Tanto que, como mostrou a coluna Radar, o petista Valmir Assunção aproveitou um encontro com Rui para fazer troça e o comparar a um zagueiro da Seleção Brasileira: “Você faz jogo duro, só vai na canela”, disse, aos risos.
O diferencial é que o chefe da Casa Civil, com a caneta cheia, vem demonstrando ser um exímio cumpridor de acordos e tem ajudado a destravar os impasses com o Congresso. Assumindo a função de articulador político, ele negocia previamente as matérias de interesse do governo que serão levadas a votação, entrega a liberação de cargos e emendas dentro do prazo estipulado e até mesmo faz ofertas de saltar os olhos, como um ministério a Lira ao fim de seu mandato no comando da Câmara.
Rui 2026
O ministro da Casa Civil também vem trabalhando o seu próprio futuro. Ele é apontado como um possível herdeiro político de Lula quando o presidente aposentar-se da política, posição que, desde o início do governo, rende uma disputa fratricida dentro do PT. Mas, diante de todos os indicativos de que o mandatário tentará a reeleição, Rui Costa vem traçando planos que embaralham as articulações da esquerda na Bahia e abrem mais um flanco de irritação.
Numa conversa recente, Rui Costa e o senador Jaques Wagner, líder do governo, foram questionados sobre seus planos e indicaram que os dois vão sair candidatos ao Senado em 2026. A entrada de Rui Costa na corrida quebra a aliança com outros aliados, como o PSD, e ainda põe em risco a candidatura de Wagner que, como é sabido, também não morre de amores pelo seu colega de partido. Ou seja, de um jeito ou de outro, Rui Costa continua rendendo intrigas.