Alckmin dá largada em campanha sob pressão
No âmbito jurídico, Alckmin comemorou o envio do inquérito para apurar recebimento de caixa 2 à Justiça Eleitoral
Pressionado a apresentar melhores resultados nas pesquisas de intenção de voto e se firmar como o candidato do centro à Presidência da República, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) viveu momentos de susto e alívio em sua primeira semana longe do Palácio dos Bandeirantes. Se, por um lado, ele ficou fora das investigações da Operação Lava Jato no Estado, o tucano viu novamente seu desempenho eleitoral ser colocado em xeque.
No âmbito jurídico, Alckmin temia que o rótulo de “investigado pela Lava Jato” contaminasse sua campanha, e por isso comemorou o envio do inquérito para apurar recebimento de caixa 2 à Justiça Eleitoral. A avaliação interna agora é que a decisão dá ao tucano uma narrativa segura para se defender e não cair na vala comum da corrupção que aflige outros políticos.
“Não será danoso para nós (a apuração do caso pelo TSE). Danoso é ficar sem julgar e ele sempre ser citado como envolvido na Lava Jato. No meio de tudo isso que está acontecendo, Alckmin tem todas as condições de responder sobre esse caso na campanha”, afirma o deputado federal Silvio Torres, membro da executiva nacional do PSDB e principal aliado de Alckmin no Congresso.
Em pesquisa divulgada no domingo pelo Datafolha, o ex-governador aparece, no melhor dos nove cenários avaliados, com 8% das intenções de voto, atrás de seus principais adversários. Ele vê Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) herdarem votos do ex-presidente Luiz Inácio da Lula da Silva (condenado e preso na Lava Jato) e o crescimento da preferência pelo nome de Joaquim Barbosa – o ex-ministro do STF se filiou ao PSB para concorrer ao Planalto.
Em um dos cenários testados pelo instituto de pesquisas para São Paulo, Alckmin fica atrás de Lula e empata dentro da margem de erro com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), a ex-ministra Marina Silva (Rede) e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa (PSB).
O Datafolha mostrou ainda que, nesta largada da campanha ao Palácio do Planalto, o tucano deixa o governo com aprovação de 36% do eleitorado paulista, índice inferior aos 55% de José Serra em 2010 e aos 66% de popularidade que o próprio Alckmin registrou em 2006. Em nota, o tucano diz que neste momento “candidaturas seguras se misturam a meras possibilidades”.
Palanque duplo
A situação em São Paulo, aliás, é outra fonte de preocupação para Alckmin. A insistência do ex-prefeito João Doria em se lançar candidato ao governo mesmo sem a chancela de Alckmin, que sempre defendeu palanque único e chegou a sinalizar apoio a seu vice, o atual governador Márcio França (PSB), divide ainda mais o partido e levanta desconfianças sobre a real intenção do ex-prefeito de renunciar ao cargo com apenas 15 meses de mandato à frente da Prefeitura.
Aliados de Alckmin avaliam que Doria não desistiu de disputar a Presidência e que o resultado das próximas pesquisas podem detonar um movimento de pressão por parte dele. A isso se soma a possibilidade cada vez mais real de Barbosa se candidatar e passar a ocupar o palanque eletrônico de França – este sim classificado como aliado leal.
No xadrez eleitoral de Alckmin, há ainda outras peças a tirar da frente, talvez a principal delas seja estancar o crescimento do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) em São Paulo. Em campanha desde o ano passado, o parlamentar tem feito uma espécie de dobradinha com Doria, ao menos no discurso antipetista, posição que Alckmin resiste em assumir.
Sombra
A sombra da Lava Jato, porém, ainda ronda sua pré-campanha. A força tarefa de São Paulo pode pedir o compartilhamento das informações colhidas na esfera eleitoral e instaurar de forma independente um inquérito criminal contra Alckmin. Para piorar, na terça-feira, o senador Aécio Neves pode se tornar réu por corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF) e, na próxima semana, a Justiça de Minas pode prender o ex-presidente tucano Eduardo Azeredo que, assim como Lula, é condenado em segunda instância.
Ambos os julgamentos preocupam o entorno de Alckmin, aconselhado a “rifar” Aécio com declarações críticas e uma obstrução formal à sua pretensão de concorrer ao Senado. O grupo do senador mineiro já teria comunicado ao partido que ele desistiu de participar das eleições, o que ao menos reduziria o impacto na campanha nacional e também na disputa no Estado, onde seu afilhado, Antonio Anastasia, se dispôs a tentar um novo mandato no governo.
“Esses dois fatos (Aécio e Azeredo) contaminam o cenário mineiro, é claro, mas Anastasia tem posição sólida, é sério e vai saber formar uma candidatura vencedora e ainda ajudar Alckmin”, diz o deputado federal Marcus Pestana, para quem a “instabilidade é geral” na política hoje.
Oficialmente alheio à má fase, Alckmin tem se dedicado a formar uma coligação que garanta posição confortável até a data de registro das candidaturas, em 15 de agosto. A lista inclui PSD, PPS e PTB, por exemplo.