Poucos dias após classificar, em convenção do PSDB, o petismo e o bolsonarismo como “duas mentiras“, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin voltou a comentar sobre seus adversários nas eleições presidenciais de 2018. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo desta segunda-feira, 3, Alckmin comenta que deseja fazer um pit stop da vida política e reconhece que seu partido “não vivia um bom momento” quando concorreu ao cargo de presidente e terminou o primeiro turno na quarta colocação, com 4,76% dos votos.
‘Diria que, se [a eleição de 2018] tivesse tido um curso mais natural, o quadro seria diferente. Na realidade, vivemos uma crise política. E houve dois fatos importantes: o impeachment da Dilma [Rousseff] e a prisão do Lula. O PT se vitimizou. Depois veio a facada do Bolsonaro, me solidarizei e reitero a solidariedade, mas teve impacto. No fim, foi um plebiscito sobre Lula e PT, e venceu o anti-PT. Como Bolsonaro estava na frente, o rio correu para o mar”, avaliou o tucano.
“Sempre achei que teria um candidato mais à esquerda e um mais ao centro. O PSDB não vivia um bom momento, o Bolsonaro começou antes — e não tiro os méritos dele. Acabou avançando e o voto útil foi para ele. Quero dizer que não tenho nada contra o presidente, pessoalmente. Até simpatizo com seu jeito simples, mas discordo totalmente da agenda do governo, acho que está fazendo o Brasil perder tempo”, prosseguiu o ex-governador paulista.
Alckmin vê uma “falta de agenda” no governo de Bolsonaro. “Temos 13,2 milhões de desempregados, cadê a agenda de produtividade? O Brasil não cresce, ficou caro para quem vive aqui, e tem dificuldade de exportação. Onde está essa agenda? Cadê a reforma tributária, fiscal? Eles não têm uma agenda e a única proposta é voltar com a CPMF, que é um imposto ruim, em cascata, que onera as cadeias produtivas. A questão da política externa… Uma ideologização, que não é da velha, é da antiga, da antiquíssima política. Precisa dizer para ele que o Muro de Berlim caiu faz quase 30 anos”, criticou.
Com bens bloqueados por decisão da Justiça, que investiga repasses não declarados da Odebrecht para a campanha de 2014, Alckmin nega qualquer prática corrupta: “Fui prefeito aos 24 anos. Hoje tenho 66, um apartamento de dois quartos e um sítio de 5 alqueires em Pindamonhangaba. Mais nada. Abri mão da aposentadoria especial. Vivo com 5.000 reais do INSS. Se há um cuidado que eu sempre tive é o ético. Agora, pode ter questionamento? Pode. É explicar”.
Sobre seus planos futuros, o ex-governador de São Paulo, que é médico, definiu como prioridades dar aulas, buscar novas especializações, como um curso de acupuntura, e participar como convidado especial do programa Todo Seu, de Ronnie Von, na TV Gazeta. Novos projetos políticos não constam nos planos de curto prazo, segundo ele.
“Na política eu vou fazer um pit stop. Gosto muito de estudar. O futuro… É stop, mas é pit. Vamos deixar. O futuro a Deus pertence”, declarou.