Após ofensiva com deputados, Temer enterra denúncia na Câmara
Parlamentares, que receberam R$ 4,1 bi em emendas nos últimos dias, barram envio de acusação da Procuradoria-Geral da República por corrupção passiva ao STF
Por Da Redação
Atualizado em 3 ago 2017, 09h53 - Publicado em 2 ago 2017, 20h16
Tumulto durante discussão da denúncia contra Michel Temer na Câmara - 02/08/2017 (Evaristo Sá/AFP)
Continua após publicidade
Após uma intensa ofensiva nos últimos dias junto aos deputados, o presidente Michel Temer (PMDB) conseguiu que a Câmara dos Deputados negasse por 263 votos a 227 a autorização para que fosse encaminhada ao Supremo Tribunal Federal a denúncia contra ele por corrupção passiva, feita pela Procuradoria-Geral da República. Com a rejeição, o peemedebista só poderá ser processado por essa acusação agora quando não estiver mais no cargo, a partir de janeiro de 2019.
Em uma sessão que começou às 9h e se arrastou durante todo o dia por causa de uma guerrilha travada pela oposição, que tentava impedir a votação ou ao menos adiá-la para o início da noite – quando os governistas teriam de se expor em horário nobre na TV- , o prosseguimento da tramitação da denúncia foi rejeitado no início da noite. O número mínimo de votos para a denúncia ser rejeitada foi alcançado logo depois das 20h.
O principal argumento usados por aqueles que votaram a favor do relatório do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que recomendou o arquivamento da denúncia, era garantir a recuperação econômica, inclusive dando andamento às reformas propostas por Temer – além da trabalhista, já aprovada, o governo deve enviar as da Previdência e tributária. Outros argumentos foram a necessidade de dar estabilidade política ao país e a suposta fragilidade da acusação apresentada pela PGR.
O governo jogou pesado durante os últimos dias para garantir o mínimo de votos necessários para barrar a denúncia. A principal arma foi a liberação desenfreada de emendas para atender interesses paroquiais de deputados. Entre junho, quando a acusação da PGR chegou à Câmara, e julho, R$ 4,1 bilhões saíram dos cofres do governo federal para os parlamentares – no restante do ano, a liberação tinha sido de apenas R$ 102,5 milhões. O uso de emendas para conquistar deputados prosseguiu inclusive durante a sessão, com o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, negociando pessoalmente, dentro do plenário, o atendimento às demandas dos parlamentares.
Temer também exonerou dez ministros que são deputados federais para que eles reassumissem os seus mandatos para votar contra o prosseguimento da denúncia – três do PMDB (Max Beltrão, Leonardo Picciani e Osmar Terra), dois do PSDB (Bruno Araújo e Imbassahy), um do DEM (José Mendonça Filho), um do PSB (Fernando Bezerra), um do PV (José Sarney Filho), um do PTB (Ronaldo Nogueira) e um do PR (Maurício Quintella).
A sessão foi marcada por troca de acusações e houve ao menos um momento em que parlamentares quase se agrediram no plenário quando Paulo Pimenta (PT-RS) falava e foi chamado de “babaca”. Na sequência, Wladimir Costa (SD-PA), o deputado que ficou célebre após tatuar o nome de Temer no ombro, passou a girar dois “Pixulecos”, bonecos de Lula vestido como presidiário – a oposição foi para cima e rasgou os dois bonecos.
Logo depois, Carlos Zarattini (SP), líder do PT na Câmara, passou a jogar para o alto dinheiro falso que a oposição havia levado em malas para simbolizar a mala com 500 mil reais com a qual o ex-assessor especial de Temer Rodrigo Rocha Loures foi flagrado correndo em São Paulo após encontro com Ricardo Saud, diretor da JBS – para a PGR, o volume era para Temer.
A narrativa
Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, autor da denúncia, Joesley Batista se encontrou com Temer no dia 7 de março no Palácio do Jaburu, depois das 22h, fora da agenda, no porão do prédio, para tratar de assuntos de interesse do empresário, que gravou a conversa. O áudio foi entregue à PGR como parte de um acordo de colaboração premiada firmado por ele com o Ministério Público Federal – sua divulgação colocou Temer no centro do escândalo.
Continua após a publicidade
Ainda de acordo com Janot, Temer indicou Rocha Loures como seu representante para tratativas futuras com Joesley. Nos dias 13 e 16 de março, o empresário e o ex-assessor do presidente se encontraram para tratar de uma pendência envolvendo uma empresa de gás de Joesley que enfrentava problemas com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Para resolver a questão, os dois teriam acertado uma propina que poderia chegar a 38 milhões de reais – a mala com 500 mil reais teria sido, segundo a PGR, o pagamento da primeira parcela do acordo.
Temer ainda deve ser alvo de outras denúncias por Janot embasadas nas provas e indícios levantados na delação da JBS. Havia a expectativa de que o procurador-geral da República apresentasse mais duas acusações – por lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça -, mas ele pode juntá-las em uma só peça. A nova denúncia teria que passar pela mesma tramitação da acusação rejeitada pelos deputados nesta quarta-feira.
No Planalto
Temer passou o dia no Palácio do Planalto. De manhã, recebeu vários ministros – Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações), Henrique Meirelles (Fazenda), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Dyogo Oliveira (Planejamento) – e os governadores do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), e do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), além de deputados. Na parte da tarde, a agenda ficou vazia para que ele pudesse acompanhar a sessão na Câmara.
Continua após a publicidade
1/34 O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) puxa e tenta furar com os dentes o pixuleco que estava com o deputado Wladimir Costa (SD-PA) (Pedro Ladeira/Folhapress)
2/34 Movimentação na Câmara dos Deputados, em Brasília, membros da oposição pedem eleições diretas, durante a discussão sobre a denúncia contra o presidente Michel Temer - 02/08/2017 (Adriano Machado/Reuters)
3/34 O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) puxa e tenta furar com os dentes o pixuleco que estava com o deputado Wladimir Costa (SD-PA) (Adriano Machado/Reuters)
4/34 O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) puxa e tenta furar com os dentes o pixuleco que estava com o deputado Wladimir Costa (SD-PA) (Pedro Ladeira/Folhapress)
5/34 Manifestantes durante 'Ato Vígilia pelo Impeachment de Temer' em frente ao prédio do gabinete regional da Presidência da República, na avenida Paulista, em São Paulo (SP) - 02/08/2017 (Victor Moriyama/Getty Images)
6/34 O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) puxa e tenta furar com os dentes o pixuleco que estava com o deputado Wladimir Costa (SD-PA) (Pedro Ladeira/Folhapress)
7/34 Movimentação na Câmara dos Deputados, em Brasília, membros da oposição pedem eleições diretas, durante a discussão sobre a denúncia contra o presidente Michel Temer - 02/08/2017 (Adriano Machado/Reuters)
8/34 Deputados em clima de tensão no plenário durante sessão para votar parecer de denúncia contra Temer - 02/08/2017 (Wilson Dias/Agência Brasil)
9/34 Movimentação na Câmara dos Deputados, em Brasília, membros da oposição pedem eleições diretas, durante a discussão sobre a denúncia contra o presidente Michel Temer - 02/08/2017 (Adriano Machado/Reuters)
10/34 Deputados em clima de tensão no plenário durante sessão para votar parecer de denúncia contra Temer - 02/08/2017 (Wilson Dias/Agência Brasil)
11/34 Tumulto durante discussão da denúncia contra Michel Temer na Câmara - 02/08/2017 (Evaristo Sá/AFP)
12/34 Deputados brigam durante durante denúncia contra o presidente Michel Temer, em Brasília (Evaristo Sa/AFP)
13/34 Deputados brigam durante durante denúncia contra o presidente Michel Temer, em Brasília (Evaristo Sa/AFP)
14/34 Deputado Wladimir Costa (SD-PA) provoca tumulto com pixuleco durante discussão da denúncia contra Michel Temer na Câmara - 02/08/2017 (Gilmar Felix/Câmara dos Deputados)
15/34 Deputado Wladimir Costa (SD-PA) provoca tumulto com pixuleco durante discussão da denúncia contra Michel Temer na Câmara - 02/08/2017 (Gilmar Felix/Câmara dos Deputados)
16/34 Deputado Wladimir Costa (SD-PA) provoca tumulto com pixuleco durante discussão da denúncia contra Michel Temer na Câmara - 02/08/2017 (Gilmar Felix/Câmara dos Deputados)
17/34 Deputados a favor e contrários ao presidente Michel Temer almoçam no gabinete do vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG) - 02/08/2017 (Dida Sampaio/Protegido: Estadão Conteúdo)
18/34 Deputados a favor e contrários ao presidente Michel Temer almoçam no gabinete do vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG) - 02/08/2017 (Dida Sampaio/Protegido: Estadão Conteúdo)
19/34 Tem início a sessão plenária para analisar e votar o parecer do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) que não autoriza o STF a analisar a denúncia contra o presidente Michel Temer apresentada pela Procuradoria-Geral da República, em Brasília - 02/08/2017 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
20/34 O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), comanda sessão destinada a votar a admissibilidade da investigação contra o presidente Michel Temer - 02/03/2017 (Evaristo Sá/AFP)
21/34 Sessão plenária define o prosseguimento da denúncia contra o presidente Michel Temer pelo crime de corrupção passiva na Câmara dos Deputados - 02/08/2017 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
22/34 Na Câmara dos Deputados, em Brasília, membros da oposição pedem eleições diretas, durante a discussão sobre a denúncia contra o presidente Michel Temer - 02/08/2017 (Antonio Augusto/Câmara dos Deputados)
23/34 Oposição carrega mala com dinheiro falso e placas contra Temer durante o protesto na discussão da Câmara dos Deputados sobre a denúncia de corrupção passiva do Presidente - 02/08/2017 (Evaristo Sá/AFP)
24/34 Oposição pede a saída de Temer, durante a discussão dos deputados sobre a denúncia de corrupção contra o presidente - 02/08/2017 (Antonio Augusto/Câmara dos Deputados)
25/34 Deputados discutem no plenário da Câmara a denúncia de acusação contra o presidente Michel Temer - 02/08/2017 (Adriano Machado/Reuters)
26/34 Advogado de defesa Antonio Mariz, gesticula durante a discussão do parecer da CCJ pelo processo criminal em desfavor do Presidente da República, Michel Temer - 02/08/2017 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
27/34 Deputados discutem no plenário da Câmara a denúncia de acusação contra o presidente Michel Temer - 02/08/2017 (Antonio Augusto/Câmara dos Deputados)
28/34 Deputados da oposição protestam contra Michel Temer durante a decisão de acusação de corrupção passiva do Presidente da República, na Câmara dos Deputados, em Brasília - 02/08/2017 (Adriano Machado/Reuters)
29/34 Deputados discutem no plenário da Câmara a denúncia de acusação contra o presidente Michel Temer - 02/08/2017 (Adriano Machado/Reuters)
30/34 Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, chega ao plenário para sessão de votação do parecer da Comissão de Constituição e Justiça sobre denúncia contra o presidente Michel Temer - 02/08/2017 (José Cruz/Agência Brasil)
31/34 Deputados da oposição organizam manifestação contra Michel Temer durante a discussão sobre a denúncia do Presidente da República na Câmara dos Deputados, em Brasília - 02/08/2017 (Antonio Augusto/Câmara dos Deputados)
32/34 Deputados da oposição fazem uma entrada simbólica no plenário da Câmara com uma faixa e cartazes escritos 'fora, Temer' - 02/08/2017 (Wilton Junior/Protegido: Estadão Conteúdo)
33/34 Deputados da oposição organizam manifestação contra Michel Temer durante a discussão sobre a denúncia do Presidente da República na Câmara dos Deputados, em Brasília - 02/08/2017 (Antonio Augusto/Câmara dos Deputados)
34/34 Oposição carrega mala com dinheiro falso e placas contra Temer durante o protesto na discussão da Câmara dos Deputados sobre a denúncia de corrupção passiva do Presidente - 02/08/2017 (Adriano Machado/Reuters)
Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
a partir de 9,90/mês*
ECONOMIZE ATÉ 47% OFF
Revista em Casa + Digital Completo
Nas bancas, 1 revista custa R$ 29,90.
Aqui, você leva 4 revistas pelo preço de uma!
a partir de R$ 29,90/mês
*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.
PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis CLIQUE AQUI.