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Após rebater Bolsonaro, diretor do Inpe deixará o cargo

Ricardo Galvão anunciou que será exonerado após falas sobre o presidente gerarem 'constrangimentos' e tornarem 'insustentável' sua permanência no cargo

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 ago 2019, 16h14 - Publicado em 2 ago 2019, 12h26

O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o engenheiro Ricardo Galvão, anunciou nesta sexta-feira, 2, após uma reunião com o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, que deixará o cargo. Galvão afirmou a jornalistas na saída do encontro no ministério que suas declarações rebatendo críticas do presidente Jair Bolsonaro a dados do Inpe sobre desmatamento criaram “constrangimentos” que tornaram “insustentável” sua permanência à frente do instituto, dirigido por ele desde 2016.

“Meu discurso com relação ao presidente criou constrangimentos. No entanto, eu tinha preocupação muito grande que isso fosse respingar no Inpe. Não vai acontecer. O ministro, inclusive, discutimos em detalhe como vai ser a continuação da administração do Inpe. Agora, é claro, diante do fato que a maneira que eu me manifestei em relação ao presidente, criou um constrangimento que é insustentável, então eu serei exonerado”, afirmou Galvão a jornalistas.

“Frente ao ministro Pontes não tive que defender nada, porque ele concorda inteiramente com os dados do Inpe, ele sabe como são os dados, foi só uma questão simples de comunicação que houve, que esperamos corrigir, temos que aprender com os erros, temos que corrigir no futuro”, completou.

Por meio de sua conta no Twitter, Marcos Pontes agradeceu a Galvão “pela dedicação e empenho”. “Tenho certeza que sua dedicação deixa um grande legado para a instituição e para o país”, escreveu Pontes, que dedicou “abraços espaciais” ao demitido. 

O diretor do Inpe foi acusado por Bolsonaro de estar “a serviço de alguma ONG” após a divulgação de dados do instituto que mostraram um aumento de 88% no desmatamento da Amazônia em junho em relação ao mesmo mês em 2018. O presidente afirmou que os números eram “mentirosos”.

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“Se toda essa devastação de que vocês nos acusam de estar fazendo e ter feito no passado [tivesse ocorrido], a Amazônia já teria sido extinta, seria um grande deserto”, disse Bolsonaro, durante um café da manhã com jornalistas estrangeiros. “A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos”, afirmou. “No nosso sentimento, isso não condiz com a realidade. Até parece que ele está a serviço de alguma ONG, que é muito comum”, atacou.

Ricardo Galvão reagiu às falas do presidente. Ele disse ter ficado escandalizado com as declarações e classificou a atitude de Bolsonaro como “pusilânime e covarde”. “A primeira coisa que eu posso dizer é que o senhor Jair Bolsonaro precisa entender que um presidente da República não pode falar em público, principalmente em uma entrevista coletiva para a imprensa, como se estivesse em uma conversa de botequim. Ele fez comentários impróprios e sem nenhum embasamento e fez ataques inaceitáveis não somente a mim, mas a pessoas que trabalham pela ciência desse país”, afirmou.

“Ele tomou uma atitude pusilânime, covarde, de fazer uma declaração em público talvez esperando que peça demissão, mas eu não vou fazer isso. Eu espero que ele me chame a Brasília para eu explicar o dado e que ele tenha coragem de repetir, olhando frente a frente, nos meus olhos”, declarou Galvão.

Ricardo Galvão iniciou a carreira no Inpe em 1970, fez doutorado em Física de Plasmas Aplicada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, e é livre-docente em Física Experimental na USP desde 1983.

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