Arthur Lira quer Lula em campo e apoio do PT a sucessor na Câmara
Deputado alagoano espera se reunir com o presidente ainda em fevereiro para discutir as eleições internas do próximo ano
Desde o início do ano, a ausência do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), em eventos importantes vem chamando atenção. O deputado desistiu, de última hora, de participar da cerimônia que lembrou um ano dos ataques de 8 de janeiro, capitaneada pessoalmente pelo presidente Lula, e também faltou a evento de abertura do Judiciário, na última semana. O presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além de diversos outros políticos marcaram presença nos dois atos.
O “sumiço” de Lira vem sendo interpretado como mais um sinal de que o governo não começou o ano com o pé direito em sua relação com o Legislativo.
Nos bastidores, o deputado pleiteia, ainda em fevereiro, uma conversa com Lula. Na mesa, estará a sua sucessão no comando da Câmara. A disputa será apenas em fevereiro de 2025, mas o Lira quer, desde já, o apoio do governo e do PT para o nome que será indicado por ele – no ano passado, a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse que seu partido poderia lançar um candidato na disputa, o que causou irritação.
Antes dessa negociação com Lula, dizem aliados de Lira, nada vai avançar. Publicamente, o presidente da Câmara tem evitado tratar do assunto e, em conversas reservadas, sugeriu que os três principais nomes já conhecidos como possíveis sucessores – os deputados Marcos Pereira (Republicanos-SP), Elmar Nascimento (União-BA) e Antônio Brito (PSD-BA) – desapareçam dos holofotes para não passarem um ano sob fogo cruzado.
Lira tem dito, ainda, buscar um perfil ideal para o posto e que não vai adotar o “coleguismo” como critério. Ter um aliado no comando da Câmara é tratado como prioridade de Lira, que quer manter a influência quando voltar para a planície. O deputado alagoano vislumbra dar um salto em sua carreira política e disputar uma cadeira ao Senado em 2026, o que lhe exige manter o protagonismo até lá.
Pessoas da mais estreita confiança de Lira não descartam, inclusive, que ele assuma algum ministério de Lula ao fim de seu mandato no comando da Câmara. Ele, claro, não admite essa possibilidade publicamente.
Ausência no 8 de janeiro
Para justificar a ausência em evento sobre os ataques às sedes dos três poderes, Lira ligou para o presidente na véspera, disse considerar o ato um erro e que serviria apenas para aumentar a polarização política, o que não ajudaria em nada a sua atuação junto a deputados dos mais diversos partidos.
A interlocutores, Lira também reclamou da organização do evento, encabeçada pela primeira-dama Janja, que deliberadamente excluiu o deputado do vídeo institucional transmitido na cerimônia. O caso poderia parecer menor, mas serviu para incendiar uma já ampla e complexa lista de reclamações.
Boicote em verbas e cargos
O comandante da Câmara e seus aliados veem uma espécie de boicote na liberação de verbas do Ministério da Saúde e das Cidades, apontam que Lula mantém as portas do Planalto e do Alvorada fechadas aos parlamentares e, ainda, que o governo não cumpre acordos. Em outras palavras, eles cobram mais acesso ao presidente, a cargos e a verbas – o que, na prática, apenas recicla os problemas de 2023.
No ano passado, Lira conseguiu, depois de ameaçar uma paralisação dos trabalhos, emplacar aliados em três ministérios, além de levar o comando da Caixa. Agora, seu grupo está de olho no Ministério da Ciência e Tecnologia, que pode ficar vago caso a ministra Luciana Santos confirme a candidatura à prefeitura de Olinda, e também em funções no segundo escalão, como a Funasa.
O problema, dizem, continua sendo o chefe da articulação política, ministro Alexandre Padilha, famoso entre os deputados do Centrão por “sorrir demais e entregar de menos”. Lideranças partidárias não escondem a intenção de sacar o petista da cadeira.