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As articulações de Eduardo Cunha no retorno aos bastidores de Brasília

Principal nome por trás do impeachment de Dilma Rousseff recupera relevância política e faz movimentos que podem até beneficiar o governo do PT

Por Maiá Menezes Atualizado em 4 jun 2024, 10h53 - Publicado em 21 abr 2023, 06h00

Um velho conhecido está de volta aos bastidores do Congresso Nacional. Eduardo Cunha, o ex-superpoderoso presidente da Câmara dos Deputados e força motriz do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, tem circulado com desenvoltura em reuniões, jantares e rodas de conversa dos poderosos em Brasília. Demonstra, nos encontros, a atávica habilidade de costurar acordos nos quais busca se credenciar como interlocutor de grupos políticos que negociam apoio ao governo federal.

O retorno de uma das figuras mais controversas da história recente do país, que teve o mandato cassado e foi condenado a quinze anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro — desses, passou quatro atrás das grades —, soa inusitado a quem não pertence ao pantanoso universo do cerrado brasiliense. Em se tratando de Cunha, porém, a surpresa não existe. “Ele está em processo de retomada na cena política, tem habilidade de sobra para isso”, diz um de seus aliados mais próximos.

A cartada mais recente da velha raposa, como costumava ser tratado por amigos, é a articulação para que diversos personagens do União Brasil migrem para o Republicanos. Embora não tenha relação formal com nenhuma das legendas, Cunha, do PTB, se movimenta para aumentar o poder de influência do partido ligado à Igreja Universal. Evangélico fervoroso, ele mantém laços pessoais e ideológicos com o presidente do Republicanos, Marcos Pereira.

O racha no União começou quando a atual direção passou a disputar espaço com Wagner Carneiro, que comandava o diretório do Rio de Janeiro. Conhecido como Waguinho, ele é uma das principais lideranças da Baixada Fluminense e emplacou a mulher, Daniela, no Ministério do Turismo, ao apoiar a candidatura de Lula, no ano passado, em uma região fortemente bolsonarista. Tida como uma nomeação pessoal do próprio petista, a mulher do prefeito não fatiou a pasta a seus pares, atalho para a ira. Em represália, de um dia para o outro, Waguinho perdeu a senha para acessar os recursos do fundo partidário.

LAÇOS DE FAMÍLIA - Waguinho e a ministra Daniela: de saída do União Brasil
LAÇOS DE FAMÍLIA - Waguinho e a ministra Daniela: de saída do União Brasil (@waguinhobelfordroxo/Instagram)
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Instaurada a cizânia, Cunha deu o bote: intermediou a ida do prefeito para o Republicanos e conseguiu que seis deputados federais entrassem com pedido de transferência ao TRE para seguirem o mesmo caminho — a Justiça Eleitoral precisa autorizar a mudança porque o mandato pertence ao partido. “Somos um grupo só, para onde um vai, todos vão”, diz um dos parlamentares envolvidos na manobra.

A aproximação entre o grupo rebelde e o ex-deputado se deu por meio de Danielle Cunha, filha de Eduardo, eleita deputada federal também pelo União do Rio de Janeiro. Em seu primeiro cargo público, é ela que tem servido de biombo nos corredores de Brasília para o pai, que tem usado o carro oficial da filha em seus deslocamentos pela capital. Sob orientação do pai, Danielle ganhou a confiança de Waguinho e de Domingos Brazão, outro peso pesado da política fluminense de saída do partido. A aproximação rendeu inclusive a nomeação de um ex-assessor de Cunha para um cargo no Ministério do Turismo.

E, como onde está Cunha há sempre eletricidade, convém ficar de olho (tanto nele quanto nos seus aliados). Um dos bons amigos dele é Washington Quaquá, vice-presidente do PT, que não se cansa de causar constrangimento ao próprio partido ao fazer acenos a antigos desafetos. Na reunião que selou o apoio do Republicanos ao grupo dissidente do União Brasil, que soma quase 1 milhão de votos no Rio, lá estava Quaquá. O governo, aliás, tem buscado se aproximar do Republicanos em busca de reforço para sua frágil base de sustentação no Congresso. “Diferentemente do União, eles entregam o que prometem”, diz uma das pessoas que acompanham as negociações de perto, no Palácio do Planalto. “A questão é que essas bases escorrem pelas mãos, porque são movidas por interesses de grupos oportunistas”, diz o cientista político Antônio Carlos Mazzeo, da Unesp.

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Enquanto Cunha ganha relevância, leve e faceiro, o União, que elegeu uma das maiores bancadas na Câmara e detém nove cadeiras no Senado, corre o risco de ver uma debandada geral. Os diretórios estaduais de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Bahia, Amapá e Rio Grande do Sul já demonstraram descontentamento com a postura agressiva da direção nacional, sobretudo em relação à sede de poder de Antônio Rueda, vice-presidente da legenda. Algumas deserções já são dadas como certas. Os senadores Sergio Moro (PR) e Soraya Thronicke (MS), que não precisam de autorização da Justiça para mudar de legenda, devem anunciar sua desfiliação em breve. “Aguardamos o desfecho, isso virou um caso de polícia”, desabafa Thronicke, sem destino certo. O Republicanos, com a ajuda incansável de Cunha, está de braços abertos.

Publicado em VEJA de 26 de abril de 2023, edição nº 2838

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