A deputada Flávia Arruda chegou ao primeiro escalão do governo Bolsonaro no início de abril pelas mãos do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e com o aval do presidente do PL, o notório ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado e preso no processo do mensalão. Responsável pela articulação política com o Congresso, pela distribuição de cargos a aliados e pela negociação de verbas, a ministra-chefe da Secretaria de Governo teria seu primeiro teste de fogo como coordenadora da estratégia oficial na recém-instalada CPI da Pandemia. Nos últimos dias, porém, ela viu parte de suas atribuições ser esvaziadas por colegas de outros gabinetes do Palácio do Planalto. O general Luiz Ramos, chefe da Casa Civil, e Onyx Lorenzoni, chefe da Secretaria-Geral, passaram a executar tarefas que antes eram de competência da ministra, que nem sequer foi avisada das mudanças.
Certamente com o aval do presidente Jair Bolsonaro, foi designada aos dois subordinados a tarefa de monitorar os temas sensíveis, antecipar problemas que devem surgir de agora em diante, dialogar com as principais lideranças do Congresso e até treinar ex-integrantes do governo convocados a prestar depoimento na CPI. Escanteada, Flávia desabafou com auxiliares que se sente desprestigiada e injustiçada. Auxiliares do presidente atribuem a ela trapalhadas que impediram que a Comissão Parlamentar de Inquérito fosse enterrada ainda no nascedouro.
Embora tenha tentado, o Planalto não conseguiu convencer senadores a retirar suas assinaturas do requerimento que deu origem à CPI, perdeu a guerra pela indicação dos membros da comissão e sequer conseguiu unir a própria base nos primeiros embates. Também caiu na conta da ministra, embora ela pouco ou nada tenha a ver com isso, a tentativa de retirar o senador Renan Calheiros do posto de relator, através de uma ação na Justiça. A manobra, classificada como atabalhoada, serviu apenas para acirrar os ânimos e carimbar uma grande derrota do governo já na largada. No mais recente embate entre Flávia Arruda e a dupla Ramos e Lorenzoni, a ministra minimizou os estragos que um depoimento errático de Eduardo Pazuello poderia provocar no governo. Ela não teria captado um detalhe capital: de acordo com o próprio ex-ministro da Saúde, quem mandava era o presidente da República. Ele simplesmente obedecia.
Publicado em VEJA de 5 de maio de 2021, edição nº 2736