Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Balanço pífio

Em quatro anos de Lava-Jato, o Supremo Tribunal Federal abriu apenas oito processos e condenou um único investigado, que está solto

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h06 - Publicado em 14 dez 2018, 07h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Na terça-feira 11, o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou um balanço sobre o andamento da Operação Lava-Jato. Num relatório de seis páginas, o ministro Edson Fachin, relator do caso, condensou os resultados. Depois de quatro anos e nove meses de trabalho, a parte brasiliense da maior investigação de corrupção de todos os tempos instaurou 300 inquéritos, que geraram 6 000 petições e expedientes protocolados por investigadores, investigados e órgãos envolvidos nos processos. Foram assinados 110 acordos de delação premiada e recuperados 782 milhões de reais do dinheiro público desviado. Parece um estrondoso sucesso, mas a numeralhada esconde um resultado pífio. Isso porque os acusados da prática de crimes em série, como parlamentares e ministros, não sofreram até agora nenhuma punição. Em outras palavras, quase cinco anos depois, Brasília não conseguiu levar um único criminoso à prisão.

    Apesar dos milhares de petições e expedientes citados, há somente oito processos em andamento e um único condenado — o deputado Nelson Meurer (PP-PR). O parlamentar, que foi pilhado nas primeiras fases da Lava-Jato, em 2014, foi sentenciado a treze anos, nove meses e dez dias de prisão, mas continua livre, leve e solto pelo Congresso Nacional. Em Curitiba, onde o caso começou a ser investigado, o balanço mostra uma outra realidade. Ao longo dos mesmos quatro anos e nove meses, a Lava-Jato curitibana recuperou 12,3 bilhões de reais desviados e instaurou 82 processos, que resultaram em 226 condenações. Ao todo, 48 pessoas já cumprem pena por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Entre elas estão o ex-­presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e figurões que não tinham foro privilegiado e, portanto, não eram detentores do direito à mamata de responder pelos seus crimes nos morosos tribunais superiores de Brasília.

    Há várias explicações para essa diferença gritante de resultados entre a Lava-Jato brasiliense e a curitibana. A principal delas é a falta de sintonia entre as instituições que atuam no caso. No Paraná, procuradores e policiais agem no mesmo compasso. Benfeitas, as investigações logo viram processos. Ágil, a Justiça costuma julgá-­los em menos de um ano. Em Brasília, acontece exatamente o inverso. Na semana passada, o coordenador do grupo de trabalho da Lava-Jato na Procuradoria-Geral da República, José Alfredo de Paula Silva, apontou duas razões que, segundo ele, influenciam esse desempenho medíocre. A primeira é o arquivamento de ofício, ou seja, quando o juiz decide encerrar um inquérito por entender que já se estendeu demais sem chegar a uma conclusão. A segunda diz respeito à decisão do STF de enviar alguns casos de corrupção à Justiça Eleitoral por entender que se trata de caixa dois, crime cujas penas são bem menores. Esse é apenas um pedaço menor de um problema maior, que é a qualidade das investigações.

    Andrea Neves
    MOROSIDADE – Andrea Neves, irmã de Aécio: buscas dezenove meses depois (Douglas Magno/O Tempo/Estadão Conteúdo)
    Continua após a publicidade

    Desordenadas e incompletas, as investigações dos policiais e procuradores levam os ministros a arquivar os inquéritos por falta de provas — e quando os consideram crimes de caixa dois é porque as investigações não conseguiram encontrar as provas de que se tratava, na verdade, de casos de corrupção. Enquanto procuradores acusam juízes de leniência, e os juízes acusam policiais e procuradores de promover investigações incompetentes, a impunidade vai reinando. No mesmo dia em que o STF publicava seu balanço, o senador Aécio Neves e sua irmã, Andrea, eram alvo de um mandado de busca e apreensão. O tucano é suspeito de receber 128 milhões de reais em propina, segundo delatores da JBS. De lá para cá, Aécio já disputou uma eleição e está prestes a assumir o novo mandato de deputado federal. Ele foi denunciado em maio de 2017. O pedido de busca foi feito pela Polícia Federal em 10 de setembro, no auge da campanha eleitoral. A solicitação foi deferida pelo STF na terça-feira — ou seja, entre a denúncia e a busca, passaram-se dezenove meses, tempo mais que suficiente para que eventuais provas desapareçam.

    Publicado em VEJA de 19 de dezembro de 2018, edição nº 2613

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.