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Bendine nega propina e diz que contrariou interesses da Odebrecht

Apesar de explicação do ex-presidente da Petrobras à PF, Sergio Moro converteu a prisão temporária dele em preventiva, isto é, sem prazo para terminar

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 18h00 - Publicado em 31 jul 2017, 20h11
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  • Preso na 42ª fase da Operação Lava Jato, o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine prestou depoimento nesta segunda-feira à Polícia Federal. Suspeito de ter recebido 3 milhões de reais em propina da Odebrecht, Bendine negou a acusação do Ministério Público Federal (MPF) e argumentou que contrariou a empresa enquanto presidente do banco estatal e da petrolífera. Apesar das alegações de Aldemir Bendine, o juiz federal Sergio Moro atendeu ao pedido do MPF e transformou a prisão temporária dele em preventiva, ou seja, agora não há prazo para Bendine deixar a cadeia.

    O ex-executivo das estatais relatou que em 2014, quando ocupava a presidência do Banco do Brasil, reuniu-se com o executivo da Odebrecht Ambiental Fernando Reis. No encontro, intermediado pelo publicitário André Gustavo Vieira da Silva, também preso, Aldemir Bendine disse ter ouvido demandas de Reis por financiamento a obras em Angola e Portugal que, de acordo com ele, não foram atendidas pelo banco.

    Bendine também citou entre episódios recentes que deixaram “algumas rusgas” com Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, a negativa do Banco do Brasil por financiamento da Arena Corinthians, em São Paulo, e a rejeição de garantias dadas pela empreiteira em outro projeto. Aldemir Bendine atribuiu as desavenças com o empresário à “personalidade difícil” de Odebrecht.

    Depois de sua nomeação à presidência da Petrobras, Bendine afirmou à PF que se reuniu uma vez com Odebrecht e Fernando Reis em Brasília, na casa de Vieira da Silva, e que também se encontrou com Emílio Odebrecht e Newton de Souza, ex-presidente do grupo, no escritório de Advocacia Matos Filho, em São Paulo.

    No encontro com Marcelo Odebrecht, em maio de 2015, Aldemir Bendine relatou à PF que o empreiteiro “praticamente se resumiu a reclamar da postura do governo em relação à Operação Lava Jato” e pretendia, com essa postura, fazer com que o ex-presidente da petrolífera levasse um recado ao governo da então presidente Dilma Rousseff. Segundo Bendine, ele deixou claro a Odebrecht que não fazia parte “do executivo do governo”.

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    A reunião com Emílio Odebrecht, de acordo com Aldemir Bendine, aconteceu em setembro de 2015 e foi “tensa, com reclamações pesadas por parte do grupo em função de uma série de cancelamentos de negócios”. Bendine afirmou à Polícia Federal que, “mesmo não explicitamente”, se sentiu ameaçado pelo tom da conversa.

    Apesar das reuniões com representantes da empreiteira, o ex-presidente da Petrobras relatou à PF que não retirou o bloqueio à Odebrecht em obras da petrolífera, endureceu as negociações com a Braskem, braço petroquímico da empresa, em um contrato de compra de nafta, e deu um prejuízo de 5 bilhões de reais à empreiteira ao cancelar, “por motivos técnicos”, um contrato de afretamento sondas de perfuração.

    Em seus acordos de delação premiada, Marcelo Odebrecht e Fernando Reis deram a versão de que Aldemir Bendine, por meio de André Gustavo Vieira da Silva, cobrou propina da empreiteira em dois momentos. No primeiro, quando Bendine estava à frente do Banco do Brasil, Vieira da Silva teria procurado a empresa e pedido 17 milhões de reais em troca do prolongamento de um empréstimo da Odebrecht Ambiental no banco estatal. Segundo os delatores, esse primeiro valor não foi pago.

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    Já em 2015, quando o executivo estava prestes a ser nomeado para o comando da Petrobras, Vieira da Silva teria voltado a fazer contato. Dessa vez, de acordo com Odebrecht e Reis, a solicitação foi de 3 milhões de reais e acabou cumprida, em três parcelas de 1 milhão de reais, entregues no apartamento de Antônio Carlos Vieira da Silva, irmão do publicitário. A contrapartida, dizem Odebrecht e Reis, era uma espécie de proteção à construtora dentro da petroleira em meio à Operação Lava Jato.

    Em seu depoimento, Aldemir Bendine negou que tenha encarregado André Gustavo Vieira da Silva a tratar de propina com a empreiteira e questionou a versão dos delatores. “Porque [Marcelo Odebrecht] não perguntou se era verdadeiro que um terceiro estaria solicitando pagamentos indevidos em nome do depoente”, diz o relatório da oitiva de Bendine à PF.

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