Bolsonaro coloca em dúvida assassinato de indígena em aldeia no Amapá
Cacique foi encontrado com sinais de facada e PF e MPF investigam invasão de área por garimpeiros
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) voltou a afirmar que pretende legalizar o garimpo no país, o que inclui a liberação da atividade em terras indígenas. A declaração ocorre após indígenas relatarem a invasão de garimpeiros em reserva da etnia Waiãpi, no Amapá. O presidente também colocou em xeque as circunstâncias do assassinato do cacique Emyra Wajãpi, encontrado morto na semana passada com sinais de facada.
“Usam o índio como massa de manobra, para demarcar cada vez mais terras, dizer que estão sendo maltratados. Esse caso agora aqui… Não tem nenhum indício forte que esse índio foi assassinado lá. Chegaram várias possibilidades, a PF (Polícia Federal) está lá, quem nós pudemos mandar, já mandamos. Buscarei desvendar o caso e mostrar a verdade sobre isso aí”, disse o presidente ao deixar o Palácio da Alvorada.
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal investigam a morte de um cacique e a invasão de garimpeiros em terras indígenas da etnia Waiãpi no Amapá. De acordo com a equipe da Funai na região, a invasão teria começado na última terça-feira, 23, quando foi confirmada a morte do cacique, encontrado com sinais de facada dentro de um rio na região. Segundo relatos, o grupo de cerca de 15 invasores estava armado e ocupou as imediações da aldeia Yvytotõ. Os moradores da região tiveram que se abrigar em outra aldeia vizinha, chamada Mariry. Também há relatos de ameaças contra outros moradores nos últimos dias.
Bolsonaro questionou o fato de que as terras indígenas demarcadas no Brasil ficam em áreas “riquíssimas”. Ele também disse que Organizações Não Governamentais (ONGs) estrangeiras são contra a exploração de garimpo nessas propriedades porque querem que os índios continuem “presos num zoológico animal” e querem “ter para si a soberania da Amazônia”.
“Esses territórios que estão nas mãos dos índios, mais de 90% nem sabem o que tem lá e mais cedo ou mais tarde vão se transformar em outros países. Está na cara que isso vai acontecer, a terra é riquíssima. Por que não legalizaram indígena em cima de terra pobre? Não existe. Há um interesse enorme de outros países de ganhar, de ter para si a soberania da Amazônia”, disse o presidente.
Ele falou, ainda, que índio não faz lobby e não tem dinheiro. Na sequência, indagou: “Qual poder eles têm para demarcar uma terra deste tamanho? Poder de fora, será que não consegue enxergar isso? São milhares de ONGs na Amazônia”, declarou. Bolsonaro citou como exemplo a terra indígena Yanomami, homologada pelo ex-presidente Fernando Collor.
(Com Estadão Conteúdo)