Interlocutores do presidente Jair Bolsonaro afirmam que ele decidiu atender aos apelos políticos e manter o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, no cargo. O presidente ainda não conversou com o ministro. A informação foi dada a Bebianno pelos colegas Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil, e Carlos Alberto Santos Cruz, da Secretaria de Governo.
Onyx e Santos Cruz fazem parte do grupo que trabalhou para amainar a crise entre Bolsonaro e Bebianno e garantir a permanência do ex-presidente do PSL no governo.
Chamado publicamente de mentiroso pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, em publicação no Twitter que acabou endossada por Bolsonaro, Gustavo Bebianno avisou que não pediria demissão, apesar da pressão, e que caberia ao presidente tomar a iniciativa se quisesse.
O acertado nas conversas é que Carlos não mais interferirá nas questões do governo. A garantia de que o filho do presidente será “controlado” a partir de agora, contudo, causa desconfiança de que essa parte do acordo será realmente cumprida.
O motivo da acusação de Carlos Bolsonaro contra o chefe da Secretaria-Geral da Presidência foi a declaração de Bebianno ao jornal O Globo de que não há crise no governo em função das denúncias sobre candidaturas laranjas no PSL, presidido por ele durante a campanha eleitoral, e que ele havia conversado com o presidente três vezes na terça-feira, 12.
Na quarta-feira 13, o “Zero Dois”, como Carlos é chamado pelo pai, corroborou seu ataque contra Gustavo Bebianno divulgando um áudio de WhatsApp em que o presidente se nega a conversar com o ministro.
A disputa entre Carlos e Bebianno é antiga. O ministro deixou vazar ainda na transição que o vereador integraria o governo, o que provocou críticas até mesmo de eleitores de Bolsonaro nas redes sociais condenando o nepotismo. Esse movimento tirou de Carlos a chance de despachar do Planalto.
Onyx e Santos Cruz foram ao encontro de Bebianno após conversarem com o presidente sobre o caso. Preocupados com a ação dos filhos, que em vários momentos têm trazido diferentes crises para o governo e com a proteção que eles têm recebido do pai, os “bombeiros” do Planalto entraram em campo.
Mais do que proteger Bebianno, esses interlocutores do presidente estão convencidos de que “é preciso estancar” essa ação dos filhos de Bolsonaro, que estariam prejudicando o país. Lembram que misturar família e governo nunca deu bons resultados e isso, mais uma vez, está sendo provado com seguidos episódios nestes menos de dois meses de nova administração.
Além das desavenças com Carlos, a tensão instalada entre Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno tem origem em suspeitas de financiamento de candidaturas laranjas pelo PSL. A crise ocorre no momento em que o Planalto tenta manter coesão para as negociações da pauta de votação mais importante no Legislativo, a da reforma da Previdência.
(com Estadão Conteúdo)