O presidente Jair Bolsonaro manteve nesta terça feira, 11, o silêncio em relação aos diálogos vazados entre o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, enquanto Moro ainda era o juiz responsável pela operação em Curitiba.
Nas mensagens trocadas no aplicativo Telegram, repassadas ao site The Intercept Brasil por uma fonte anônima, Moro orienta Deltan sobre um possível informante em uma investigação contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reclama pelo intervalo longo entre uma fase da Lava Jato e outra, palpita sobre o momento em que ações da operação deveriam ser deflagradas e até antecipa o mérito de uma decisão.
Cumprindo agenda oficial em São Paulo, Bolsonaro encerrou uma coletiva ao lado do governador paulista, João Doria (PSDB), quando foi questionado por jornalistas a respeito das mensagens. Ele se reuniu com o tucano logo após chegar a São Paulo e com ele tratou da reforma da Previdência.
Em seguida, durante um evento com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), no qual foi condecorado com a Medalha do Mérito Industrial paulista, Bolsonaro citou e elogiou cinco ministros em seu discurso de cerca de 20 minutos: Paulo Guedes (Economia) e Fernando Azevedo (Defesa), que o acompanhavam, além de Tarcisio Gomes (Infraestrutura), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e Ricardo Salles (Meio Ambiente).
O presidente não tocou no nome de Moro nem mesmo quando exaltou a formação técnica de sua equipe ministerial. O ex-juiz é, ao lado de Guedes, um “superministro”, com uma pasta que absorveu as atribuições de outras e tem “carta branca” para trabalhar, nas palavras de Bolsonaro.
Referindo-se aos ensinamentos de seu guru econômico, o presidente disse haver “uma paixão, com todo respeito”, entre ele e Guedes. Sobre Azevedo, disse ser adequada a escolha de um general para a pasta da Defesa. Ele ainda exaltou a atuação de Freitas à frente da pasta da Infraestrutura e afirmou que Salles está “no lugar certo” para acabar com a “indústria da multa” do Ibama.
Jair Bolsonaro deixou a sede da Fiesp, na Avenida Paulista, sem falar com os jornalistas. Ainda nesta terça, ele participará de um jantar com empresários oferecido pelo presidente da entidade, Paulo Skaf.
Ao final da cerimônia no prédio da Fiesp, alguns manifestantes defendiam o ministro da Justiça com bandeiras do Brasil, cartazes de apoio à Lava Jato, buzinas, sinalizadores e rojões. “100% Moro”, dizia um dos cartazes.
Condecoração
Bolsonaro e Moro se encontraram na manhã desta terça-feira no Palácio da Alvorada e trataram do vazamento das conversas vazadas. Depois da conversa, eles foram juntos a um evento da Marinha, no qual o presidente condecorou o ministro com a Ordem do Mérito Naval.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa de Sergio Moro afirmou que “a conversa foi bastante tranquila”. “O ministro fez todas as ponderações ao presidente, que entendeu as questões que envolvem o caso”.
Nesta segunda-feira, 9, dia seguinte à publicação das reportagens do The Intercept Brasil, Moro disse que não vê “nada de mais” na troca de mensagens com Deltan Dallagnol e ressaltou que elas foram obtidas de maneira ilícita.