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Bolsonaro pediu a Moro que interferisse em inquérito que envolve Carlos

Inquérito sigiloso que apura fake news no STF chegou ao vereador, apontado como mentor do chamado gabinete do ódio

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 abr 2020, 15h08 - Publicado em 24 abr 2020, 12h52

Sergio Moro não mencionou em vão, em seu discurso de despedida, o incômodo do presidente Jair Bolsonaro com inquéritos específicos em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF). Interlocutores do ex-juiz da Lava-Jato informaram a VEJA que a gota d’água para o pedido de demissão de Moro foi o fato de Bolsonaro exigir que a Polícia Federal e o ministro da Justiça dessem um jeito de segurar uma investigação que aponta para a participação do vereador Carlos Bolsonaro em um esquema de ataques virtuais a autoridades e propagação de fake news.

Nos últimos dias, Bolsonaro recebeu informações de que o inquérito sigiloso que apura fake news e ofensas contra autoridades, tocado pelo ministro Alexandre de Moraes no STF, obteve indícios contundentes  do envolvimento do vereador Carlos, o filho Zero Dois e apontado como criador do chamado gabinete do ódio — um grupo que usaria as dependências do Palácio do Planalto para promover campanhas virtuais contra adversários do governo. Mais que isso: os investigadores colheram elementos sugerindo que essas são financiadas por empresários ligados ao presidente.

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“A água está subindo”, disse o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, para Moro, se referindo ao  inquérito, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, mas que tem na linha de frente um delegado da Polícia Federal, responsável pela  parte operacional como levantamento de dados, quebra de sigilos telemáticos e bancários.

Interesses políticos

O presidente tentava cotidianamente receber informações de Maurício Valeixo sobre o andamento das investigações e era ignorado. O diretor-geral da PF acabou exonerado nesta quinta-feira (23). Moro também se recusava a interferir no caso. Ao anunciar seu pedido de demissão, o ministro denunciou a interferência do presidente da República na Polícia Federal. Bolsonaro, segundo ele, queria colocar uma pessoa de confiança para ter acesso a informações e relatórios de inteligências de investigações em andamento.

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“O presidente me disse mais de uma vez expressamente que ele queria ter alguém do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligencia, seja diretor ou superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. As investigações têm que ser preservadas”, disse Moro.

De acordo com o ex-juiz da Lava-Jato, Bolsonaro não queria trocar apenas o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, mas sim a maioria dos superintendentes, dentre eles o do Rio de Janeiro e de Pernambuco. “Não é só a troca do diretor. Havia a intenção também de trocar superintendentes. Novamente o superintendente do Rio de Janeiro. Outros superintendentes viriam em seguida. O superintendente da PF de Pernambuco. Sem que fosse uma razão, uma causa para que fossem realizados esses ciclos de substituições que fossem aceitáveis”, disse Moro.

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Em setembro do ano passado, o presidente foi informado que havia uma trama em curso contra um de seus aliados, o deputado Hélio Lopes, conhecido como Hélio Negão. No mesmo mês, o senador Fernando Bezerra, líder do governo no Senado, foi alvo de uma operação da PF, com buscas e apreensões em gabinetes do Congresso. Isso causou a revolta de alguns parlamentares, que recamaram com Bolsonaro.

“Falei para o presidente que seria uma interferência política. ele disse que seria mesmo”, afirmou Moro.

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