Bolsonaro sobre escritório em Israel: ‘Casamento começa no namoro’
Presidente visita pela segunda vez o Museu do Holocausto e planta árvore no jardim onde Lula cumpriu o mesmo gesto em 2010
O presidente Jair Bolsonaro esquivou-se nesta terça-feira, 2, de informar se o novo escritório de negócios do Brasil em Jerusalém terá status diplomático. “Todo casamento começa com namoro e noivado”, afirmou, em uma indicação de que este será apenas um primeiro passo para sua esperada transferência total da embaixada brasileira de Tel Aviv para a cidade sagrada.
Bolsonaro anunciou a medida no domingo 31 na residência oficial do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. O escritório deverá englobar as áreas de comércio, ciência e tecnologia e inovação. A expectativa de Netanyahu, que disputa sua reeleição em 9 de abril, era extrair a transferência da embaixada brasileira. O tema, entretanto, é polêmico dentro do próprio governo Bolsonaro.
O presidente deu a declaração depois de plantar uma muda de oliveira no Bosque das Nações. Trata-se de um gesto protocolar de todo chefe de Estado em visita a Israel, já realizado em 2010 pelo então presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Pouco antes, ele havia visitado o Yad Vashem, o Museu do Holocausto, um emblemático complexo histórico em Jerusalém sobre o massacre de mais de 6 milhões de judeus pelos nazistas durante a II Guerra Mundial.
“Aquele que esquece seu passado está condenado a não ter futuro”, disse Bolsonaro ao deixar o prédio, mencionando ser esta a frase mais propícia para aquele momento de reflexão.
O presidente aproveitou o momento, no Bosque das Nações, para novamente criticar os governos anteriores, aos quais acusa de não terem mantido a relação devida com Israel. Mencionou especificamente o episódio da recusa, pelo governo de Dilma Rousseff, da indicação de Dani Dayan como embaixador israelense em Brasília, em 2015. Dayan era envolvido com a política de expansão de assentamentos de Israel em territórios palestinos. Sua nomeação fora divulgada pelo gabinete de Netanyahu antes de o Itamaraty ter concedido o aval.
“Passamos por dois governos de esquerda, o último inclusive não aceitou as credenciais do embaixador indicado por Israel. Logicamente, fiquei muito constrangido naquela época”, relatou Bolsonaro. “Agora, Deus me deu a graça de ser presidente, e cumpriremos essa missão da melhor forma possível e buscando também relacionamento com países que contribuem para o bem do nosso povo.”
Segundo Bolsonaro, seu governo se completa com o de Israel.
Protesto
A visita de Bolsonaro ao Museu do Holocausto não passou despercebida por seus opositores em Israel. Um grupo de quinze manifestantes protestou contra sua presença em Israel na entrada principal do local, com cartazes com fotos do presidente e gritos, em hebraico, de: “Bolsonaro apoia os nazistas” e “Vergonha”.
O presidente começou seu tour pelo Hall da Memória, onde chefes de Estado costumam homenagear as vítimas do Holocausto. No local há gravações no chão dos nomes de todos os judeus mortos nos campos de concentração da Alemanha nazista e uma pira conhecida como Chama Eterna. Também reúne um centro de pesquisas com vídeos, fotos e documentos sobre o Holocausto.
Bolsonaro depositou uma oferenda floral no local e, de forma simbólica, puxou a alavanca que aviva a chama. A cerimônia foi acompanhada pelo coral infantil Ankor.
Antes dessa homenagem, o presidente visitara a exposição de fotografias Flashes of Memory. O Yad Vashem foi fundado em 1953 e sua denominação tem origem em um versículo bíblico: “E a eles darei a minha casa e dentro dos meus muros um memorial e um nome (Yad Vashem) que não será arrancado.” (Isaías 56:5.). Bolsonaro já havia ido ao complexo do museu em sua visita a Jerusalém em 2017.
“Fui tocado ao tocar na Terra Santa”, afirmou. “Eu amo Israel”, repetiu uma vez mais o presidente, que se valeu da situação para citar sua frase favorita, do Evangelho de São João: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.