Cabral cita ‘tratos’ com ministros do STJ e diz: ‘corrupção é uma praga’
Questionado por juiz sobre impacto dos desvios na atual situação fiscal do estado, o emedebista afirmou que 'cada real pode salvar uma vida'
No depoimento em que confessou mais uma série de crimes ao juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira, 4, o ex-governador Sérgio Cabral (MDB) disse ter sido “achacado por parlamentares federais” e “feito tratos” com ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Tribunal de Contas da União (TCU).
Cabral não entrou em detalhes, porque a primeira instância não tem competência para apurar supostos crimes de pessoas com foro privilegiado, mas disse estar à disposição do Ministério Público Federal (MPF) para tratar do assunto.
“Eu fui achacado por parlamentares federais, tive que fazer tratos com ministros do TCU e do STJ, que eu me coloco à disposição da procuradoria e do Ministério Público. Tive que fazer, organizar, deputados e senadores, enfim, tive que atender a presidente da República para beneficiar pessoas, tive que fazer uma série de coisas”, declarou Sérgio Cabral.
Em outro momento, ele afirmou que ajudou “o entendimento de uma empreiteira com o Judiciário”.
O depoimento desta sexta, um reinterrogatório, foi feito a pedido do próprio Cabral em uma ação penal que apura o pagamento de propina por empresas de ônibus durante seus governos. Na primeira oitiva, Cabral se manteve em silêncio. Preso desde novembro de 2016 e condenado a quase 200 anos de prisão, o emedebista mudou de advogado e passou a colaborar com a Justiça, confessando crimes
Questionado por Bretas diversas vezes sobre os desdobramentos do esquema de corrupção que comandou no governo do Rio, Cabral disse que “capitulou”, que “a corrupção é uma praga, a corrupção prejudica” e que, diante da atual situação fiscal do estado, “cada real pode salvar uma vida”. Hoje o ex-governador afirma que o ideal seria haver uma Lava Jato em cada estado.
“Quando o senhor [Bretas] diz nas decisões que a corrupção prejudicou o Rio de Janeiro, não tenho a menor dúvida, é uma pena que não se tenha Lava Jatos e pessoas como o senhor e o doutor Leonardo [Cardoso, procurador do MPF] em todos os estados do Brasil, porque o que aconteceu no Rio de Janeiro aconteceu com certeza em todos os estados da federação”, declarou.
Indagado pelo juiz sobre se teria algum conselho aos políticos, Sérgio Cabral pregou atenção à separação dos interesses público e privado. “Não cometam os erros da minha geração. Você começa com um desempenho político de expressão, passa a ter ao seu lado empresários desejosos dos seus interesses, a princípio legítimos, e a fronteira entre o legitimo e o ilegítimo vai se perdendo e você vai fragilizando seu conceito ético, seu conceito de regras e princípios. Foi isso que ocorreu comigo. Eu me sentia… ‘Bom, eu estou dobrando o metrô de extensão, por que não receber um recurso para mim e para meus companheiros e para a política? Eu estou fazendo o bilhete intermunicipal, por que não?’”, relatou.
“Andar na linha é muito melhor porque você dorme com tranquilidade. Eu não correspondi as expectativas da população em relação a isso”, completou.