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Cabral: Crivella recebeu US$ 1,5 milhão de Eike para apoiar Paes em 2008

Emedebista afirmou a Marcelo Bretas que o atual prefeito do Rio havia recebido uma proposta de US$ 1 milhão de Armínio Fraga para apoiar Fernando Gabeira

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 abr 2019, 21h55 - Publicado em 5 abr 2019, 21h11

Na sequência de confissões que tem feito à Justiça em processos a que responde na Operação Lava Jato, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) afirmou nesta sexta-feira, 5, ao juiz federal Marcelo Bretas que o atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella, “vendeu” seu apoio à campanha de Eduardo Paes (MDB) no segundo turno da eleição à prefeitura carioca em 2008. De acordo com Cabral, a seu pedido, o empresário Eike Batista pagou 1,5 milhão de dólares a Crivella, que naquele ano ficou fora da parte final da disputa, entre Paes e o ex-deputado federal Fernando Gabeira.

O depoimento de hoje, um reinterrogatório, foi feito a pedido do próprio Cabral em uma ação penal que apura o pagamento de propina por empresas de ônibus durante seus governos. Na primeira oitiva, Cabral se manteve em silêncio. Preso desde novembro de 2016 e condenado a quase 200 anos de prisão, o emedebista mudou de advogado e passou a colaborar com a Justiça, confessando crimes.

Segundo Cabral, após o fim do primeiro turno de 2008, Marcelo Crivella ligou para ele e pediu uma reunião no Palácio das Laranjeiras. No encontro, o atual prefeito carioca teria relatado que o economista Armínio Fraga, ligado à campanha de Gabeira, havia lhe oferecido 1 milhão de dólares e que apoiaria o então candidato do PV se o grupo dos emedebistas “não fizesse nada”. O ex-governador afirma que não houve testemunhas do pedido.

Em seguida, conforme Sérgio Cabral, ele ligou para o José Carlos Lavouras, ex-conselheiro da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), que passou a ligação a Jacob Barata Filho, dono de empresas de ônibus. Ele pediu que o empresário “cobrisse” a oferta de Armínio Fraga, mas Barata não aceitou, dizendo que ou ajudava a campanha de Eduardo Paes no segundo turno ou faria o pagamento a Marcelo Crivella. Segundo Cabral, Paes recebeu 6 milhões de reais da “caixinha da Fetranspor” na eleição de 2008, via caixa-dois.

Com a negativa de Jacob Barata, Sérgio Cabral afirma ter procurado Eike Batista e pedido que ele pagasse 1,5 milhão de reais a Marcelo Crivella. “’Preciso de 1,5 milhão de dólares para dar ao Crivella e tem que ser amanhã’, porque o segundo turno estava correndo. Aí ele falou ‘tudo bem, não tem nenhum problema’”, contou o emedebista. A “oficialização” do acordo, segundo Cabral, foi selada em uma reunião na casa de Eike entre ele, Cabral, Paes, Crivella e Mauro Macedo, primo de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus.

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R$ 30 milhões a Pezão, R$ 3 milhões a Aécio

Cabral admitiu ainda que a “caixinha da Fetranspor” injetou, sempre em caixa-dois, 5 milhões de reais em sua campanha ao governo estadual em 2006 e outros 20 milhões de reais na de 2010, além de 30 milhões de reais à do ex-governador Luiz Fernando Pezão (MDB) em 2014.

O dinheiro destinado à contabilidade paralela da campanha de Pezão, segundo Sérgio Cabral, veio de um acordo com a Fetranspor em troca de um ato do Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Detro) que beneficiou as empresas de ônibus.

Da parte que lhe caberia no acerto, 40 milhões de reais, Cabral afirmou que repassou 1 milhão de reais a cada um dos dez conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE), 4 milhões de reais a Jonas Lopes, 2 milhões de reais ao ex-secretário da Casa Civil Régis Fitchner, 300.000 reais a 400.000 reais ao operador de propinas Carlos Miranda. Em função do repasse aos membros do TCE, Sérgio Cabral relatou ter pedido à Fetranspor que o valor total de sua parte chegasse a 60 milhões de reais.

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Segundo Sérgio Cabral, ele ainda repassou 1,5 milhão de reais da Fetranspor e 1,5 milhão de reais da empreiteira OAS à campanha de Aécio Neves (PSDB) à presidência da República, todos recursos de caixa-dois. O ex-governador contou que Aécio, com quem tinha “relação afetiva”, estava “muito deprimido, muito para baixo” porque a ex-ministra Marina Silva (então no PSB) o havia ultrapassado e ocupava a segunda posição nas pesquisas do primeiro turno presidencial. O acerto que beneficiou a campanha do tucano foi feito, de acordo com Cabral, entre José Carlos Lavouras, da Fetranspor, e um homem chamado Oswaldo “que era a pessoa que cuidava do dinheiro dele”. Aécio Neves teria ligado ao emedebista depois, para agradecer.

O ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) Jorge Picciani (MDB) também recebeu 1,5 milhão de reais da Fetranspor.

‘Caixinha’ desde 1987

Em seu depoimento a Marcelo Bretas, Sérgio Cabral relatou ainda que as empresas de ônibus reunidas na Fetranspor pagaram propina entre 1987, no governo de Moreira Franco, até a sua gestão, passando pelos mandatos de Leonel Brizola, Marcelo Alencar e Anthony e Rosinha Garotinho. Segundo Cabral, havia “caixinhas da Fetranspor” no Executivo fluminense e na Assembleia Legislativa do estado (Alerj), que ele presidiu entre 1995 e 2002.

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“[Na Alerj] Tinha uma caixinha que eu administrava, girava em torno de 700.000 reais, 800.000 reais por mês. Eu tirava 300.000 reais para mim e fazia uma divisão com os deputados de acordo com a importância de cada deputado. Isso durou de 1995 a 1998”, disse.

Sérgio Cabral afirmou que em 1997, quando foi assinada a extensão por 15 anos do número de linhas de ônibus no estado, a Fetranspor pagou a ele e ao então deputado Jorge Picciani (MDB) 15 milhões de reais no total. O emedebista conta ter aberto uma conta no exterior para receber sua parte e que Picciani comprou uma fazenda no norte de Mato Grosso com o dinheiro.

Sobre o período entre 2003 e 2006, quando foi senador, Cabral contou que continuou a receber, por intermédio de Jorge Picciani, entre 200.000 reais e 400.000 reais em intervalos de três em três meses. O ex-governador não sabe se o dinheiro vinha da caixinha da Fetranspor.

Depois de eleito governador, em 2006, o emedebista disse que passou a receber 420.000 reais mensais das empresas de ônibus, que totalizavam 5 milhões de reais por ano. O valor passou a ser destinado a seu sucessor, Luiz Fernando Pezão, quando ele assumiu o governo fluminense, em abril de 2014.

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