‘Careca do INSS’ fez metade dos depósitos recebidos por empresa investigada pela PF
Apontado como operador das fraudes nas aposentadorias, Antônio Carlos Camilo Antunes destinou 49 milhões de reais para as contas da Arpar, alvo da CPMI

Uma empresa apontada pela Polícia Federal (PF) como parte da estrutura que lavava o dinheiro desviado do esquema de descontos ilegais nas aposentadorias recebeu em sua conta bancária cerca de 98 milhões de reais entre setembro de 2023 e fevereiro do ano passado. Metade desse valor — 49 milhões de reais — foi depositado pelo lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, considerado operador das fraudes que podem ter chegado a 4 bilhões de reais.
A empresa é a Arpar, Participação e Empreendimentos, que, segundo a polícia, faria a lavagem dos recursos e criaria barreiras com o objetivo de dificultar autoridades a seguir o rastro do dinheiro. “Fortes indícios demonstram que a Arpar atua como empresa de passagem, pois os recursos recebidos são rapidamente transferidos para terceiros, o que dificulta o rastreamento da origem e do destino dos valores”, diz o relatório da PF.
Investigadores estranharam o fato de Antunes ter enviado “sem justificativa aparente” para a Arpar praticamente todo o dinheiro que recebeu de sindicatos e associações envolvidas na fraude contra os aposentados: cerca de 53 milhões.
Parte do dinheiro que entrava nas contas da Arpar era devolvida para empresas ligadas a Antunes e para os sócios do lobista. Uma parcela de 3 milhões de reais foi destinada para o advogado Paulo Boudens, ex-chefe de gabinete do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), conforme revelou VEJA. A transferência dos recursos para Boudens ocorreu entre setembro de 2023 e fevereiro de 2024, período em que as fraudes no INSS atingiram seu ápice e o advogado trabalhava como assessor do senador.
As informações sobre a Arpar constam de relatório da PF que já está em posse da CPMI do INSS, instalada no Congresso para apurar as fraudes. Na semana passada, a comissão aprovou um requerimento pedindo a quebra de sigilo fiscal e bancário da empresa. Há ainda outro requerimento, ainda não analisado pelos parlamentares, cujo foco é a convocação dono da companhia.
Histórico
Boudens é figura conhecida na política. Em outubro de 2021, uma reportagem de VEJA revelou a existência de apropriação de salários de servidores do gabinete de Alcolumbre – a notória rachadinha. Ele assumiu a responsabilidade pelo crime, fez um acordo com a Justiça e se comprometeu a devolver o dinheiro desviado. Depois do escândalo, deixou a chefia de gabinete, mas continuou trabalhando diretamente com Alcolumbre. No ano passado, Boudens foi transferido para um cargo no conselho de assuntos políticos do Senado. Procurado, o advogado não retornou aos pedidos de entrevista.