Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Centrão pode colocar agenda de Bolsonaro em xeque, diz presidente do Novo

Para Eduardo Ribeiro, temas como privatizações não são pauta do grupo; ele criticou a proposta de recriar a CPMF e o silêncio de Bolsonaro sobre a Lava-Jato

Por André Siqueira 3 ago 2020, 17h31

Sucessor de João Amoêdo na presidência nacional do Novo, o empresário catarinense Eduardo Ribeiro acredita que a aliança do Palácio do Planalto com os partidos do chamado Centrão pode colocar em xeque a agenda do governo do presidente Jair Bolsonaro. “A agenda de privatizações, por exemplo, não é uma pauta destes grupos, que sempre fizeram uso e defenderam a manutenção da força do Estado para se manter no poder”, diz.

A VEJA Ribeiro fez uma análise da gestão do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, único membro do partido à frente de um estado, comentou a proposta de reforma tributária enviada pelo ministro Paulo Guedes ao Congresso e criticou o silêncio de Bolsonaro em relação às declarações do procurador-geral da República, Augusto Aras, sobre a Operação Lava-Jato.

Abaixo os principais trechos da entrevista:

Minas Gerais é a principal vitrine do Novo no país, por ser o único estado governado por um representante do partido. Como o senhor avalia a gestão de Romeu Zema? Acredito que o governador tem se saído muito bem. Para fazer qualquer análise de sua atuação, é necessário levar em consideração que Zema pegou um estado completamente quebrado. O governador vinha fazendo um trabalho hercúleo para não atrasar pagamentos, administrar o estado de maneira correta, quando eclodiu a pandemia no país. Mesmo com todas estas dificuldades, Minas Gerais é, hoje, o estado com o menor número de mortes por 100 mil habitantes no país. Por isso, acredito que o trabalho tem sido bem feito.

Continua após a publicidade

No início do ano, o Novo criticou a proposta do governo de dar aumento aos servidores da segurança pública. Este foi o ponto mais baixo da gestão? A direção do Novo se posicionou contra o aumento, por acreditar que, além de não ser compatível com os ideais do partido, não era fiscalmente responsável. Mas, naquele momento, foi uma leitura política do governador. E isso tem de ser respeitado. Sempre defendo que haja uma independência entre a administração pública e a diretriz partidária.

Na eleição de 2018, João Amoêdo foi uma grande surpresa e terminou o primeiro turno na quinta colocação. Ele será o candidato do partido em 2022? Acredito que é cedo para definir algo desta natureza. Ser candidato à Presidência é algo bastante complexo, depende da conjuntura, do contexto da época. Exatamente por isso, é prematuro fazer qualquer prognóstico neste momento. No processo de escolha, muitas pessoas colaboram, dão ideias, mas poucas se colocam à disposição, poucos querem encarar o problema. João fez isso e isso mostra a sua grandeza e importância para a história do partido.

De que maneira as eleições municipais desse ano servirão como laboratório do Novo para 2022? Teremos candidatos a prefeitos em 30 cidades. Evidentemente, não significa que o Novo elegerá prefeitos em todos estes municípios. Até porque, o desempenho de um candidato depende de uma série de fatores ligados à realidade local destas regiões. Mas posso dizer que o partido tem totais condições de eleger e formar bancadas sólidas de vereadores neste ano, como um importante passo para chegar mais forte em 2022.

Continua após a publicidade

Nos últimos dias, temos visto uma movimentação de forças no Congresso Nacional. Como o senhor enxerga esta aproximação do governo com o Centrão e como o Novo, que tem oito deputados, se posiciona neste tabuleiro do Legislativo? Essa situação de oferta de cargos em troca de apoio passa, no curto prazo, uma impressão do governabilidade. O grande problema é que, no longo prazo, estamos no processo de retroalimentação de um sistema que existe há décadas no Brasil e que não conseguimos deixar para trás. Essa aliança pode colocar em xeque a agenda do governo. A agenda de privatizações, por exemplo, não é uma pauta destes grupos, que sempre fizeram uso e defenderam a manutenção da força do Estado para se manter no poder. Com relação ao Novo, nosso objetivo é consolidar nossa independência. O que vier de matéria sobre assuntos que consideramos benéficas ao Brasil, iremos defender. Não importa de onde venha. Agora, se for algo que consideramos prejudicial dentro de nossos princípios e valores, seremos contra. Muito se fala sobre sermos totalmente favorável à agenda econômica do governo, mas somos totalmente contrários à ideia de uma nova CPMF, por exemplo.

A reforma tributária do governo foi criticada pela demora na entrega do texto, mas também por trazer, em um primeiro momento, apenas uma unificação de PIS e Cofins. O que o senhor achou da proposta? Tenho profundo respeito pelo ministro Paulo Guedes. Acho, inclusive, que ele conseguiu emplacar uma reforma da Previdência ampla. Tínhamos a expectativa de que as reformas administrativa e tributária fossem enviadas e votadas no ano passado. Em 2020, vivemos um ano de crise sanitária sem precedentes. Em 2021, é natural que, pelo cálculo político, os parlamentares tentem não se desgastar com a votação de temas espinhosos, pensando em suas reeleições. Meu medo é que tenhamos perdido o timing das reformas. No meu entendimento, a reforma deveria ser ampla desde o início. Ao dividir, podemos perder força ao longo do caminho.

“Muito se fala sobre sermos totalmente favorável à agenda econômica do governo, mas somos totalmente contrários à ideia de uma nova CPMF, por exemplo”

Continua após a publicidade

Nas redes sociais, a semelhança de ideias rendeu ao Novo o apelido de “PSL de sapatênis”. Como o senhor enxerga esse tipo de comparação? Essa é uma visão binária. Quando uma matéria é votada, você vota sim ou não. Analisar desta forma – se vota com o governo é governista e se vota contra, é oposição – é algo extremamente raso e simplista. Mas vejo este tipo de comentário como algo natural da política. Tentar colar pechas ao partido é do jogo. Ao longo do tempo, perceberão que coerência tem valor.

Outra bandeira do partido é a defesa da Operação Lava-Jato. Como o senhor enxerga a declaração do procurador-geral, Augusto Aras, que pediu que o ‘lavajatismo não perdure’ no país? Vejo com bastante preocupação. O Novo sempre defendeu as operações da Lava-Jato. O Brasil é um país com histórico de impunidade. As investigações e prisões trouxeram à população a sensação de que as coisas estavam mudando. À medida em que você coloca isso em xeque, é passada a sinalização de que tudo pode voltar ao que era antes.

O presidente Jair Bolsonaro não hesita em tecer comentários sobre decisões do STF que afetam seus apoiadores, como no caso do inquérito das fake news, mas silencia em relação à postura de Aras. Como o senhor vê esta dualidade? Me parece que é por conveniência. Em período eleitoral, é conveniente esbravejar contra corruptos e se apoiar em ações como a Lava-Jato, mas durante o governo não emitir nenhuma opinião. Gostaria muito de saber o que o presidente pensa a respeito deste tipo de conduta.

 

“Em período eleitoral, é conveniente esbravejar contra corruptos e se apoiar em ações como a Lava-Jato. Gostaria muito de saber o que o presidente pensa (dos ataques à operação)”

Na aprovação da Lei Aldir Blanc, de incentivo a trabalhadores da cultura, o Novo foi o único partido contrário por entender que se tratava de “privilégios setoriais”, como disse Amoêdo em uma rede social. Em temas quase consensuais como este, se manter preso a este tipo de argumento não expõe o partido excessivamente?

O que entendemos é que, se a pessoa tem essa necessidade, ela terá esse direito. Isso já estava no primeiro pacote [do projeto de auxílio emergencial aprovado pelo Legislativo]. O que faz uma pessoa ser melhor que a oura? O Novo não é contra cultura ou esporte. Apenas consideramos que todos são iguais. Isso, é lógico, causa desgaste político, porque são temas que têm apelo grande. Estamos ali para defender nossos princípios, mesmo apanhando nas redes sociais.

Continua após a publicidade

Qual a grande ambição do senhor enquanto presidente do Novo para um futuro próximo? Eleger o próximo presidente da República com uma grande bancada no Congresso Nacional.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 9,98 por revista)

a partir de 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.