Braço direito de Jair Bolsonaro e responsável por uma delação premiada que colocou o antigo governo no centro de uma trama golpista, o tenente-coronel Mauro Cid disse a aliados que não pretende recorrer à justiça para tentar reverter a decisão do Exército que barrou sua promoção à patente de coronel.
A interlocutores, ele afirma se sentir injustiçado por ter sido o principal apenado até o momento – além de jogar por terra a carreira militar, parlamentares bolsonaristas viraram-lhe as costas e ele ainda tem de arcar com os custos de sua defesa, estimados em cerca de 1 milhão de reais.
Embora formalmente não houvesse nenhuma denúncia contra Cid nem ele estivesse sido afastado do posto por ordem judicial, a decisão de não promovê-lo teve a política como principal ingrediente. Partiu do ministro da Defesa José Múcio Monteiro a avaliação de que não faria nenhum sentido premiar um militar que incendiou o país ao afirmar, em sua colaboração à Justiça, que o ex-presidente Bolsonaro e figuras de proa das Forças Armadas se reuniam para discutir uma virada de mesa nas eleições presidenciais.
A decisão de, por ora, não tentar reverter o veto do Exército à sua promoção leva em conta o fato de, desde que foi colocado em liberdade pela segunda vez, no início de maio, ele ter de fornecer informações relevantes aos investigadores para manter seu acordo de delação. Ele tem ajudado os policiais com dados sobre a joias do Estado brasileiro vendidas nos Estados Unidos por ordem de Bolsonaro e preenchido lacunas diante de descobertas documentais da PF.
Mauro Cid, que chegou a ter a delação desacreditada pelo subprocurador-geral Carlos Frederico Santos, do Ministério Público Federal, e, em um primeiro momento, tivera seu papel no enredo golpista minimizado por setores militares, que o consideravam apenas um cumpridor de ordens, perdeu qualquer veio de proteção na caserna com o avanço das investigações.
Entre outras coisas, elas mostraram sua participação no monitoramento clandestino do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e em articulações de reuniões que debateram como manter Jair Bolsonaro no poder mesmo após sua derrota nas eleições presidenciais de 2022.