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Cientista político, D’Avila quer disputar governo de SP pelo PSDB

Admirador de FHC, ele avalia João Doria e José Serra como 'excelentes nomes', mas rejeita desistir de prévias e se engaja na pré-campanha: 'vou até o fim'

Por Guilherme Venaglia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 20h09 - Publicado em 6 nov 2017, 19h38

O cientista político Luiz Felipe D’Avila, de 54 anos, quer ser governador de São Paulo. Ele voltou a se filiar ao PSDB em 2017 após uma década dedicado ao Centro de Liderança Pública (CLP), um instituto de capacitação de gestores públicos, convidado pelo presidente estadual do partido, Pedro Tobias, com a promessa de disputar o Palácio dos Bandeirantes na eleição de 2018 – além da bênção do atual governador, Geraldo Alckmin (PSDB).

Em entrevista a VEJA, D’Avila defende prévias para a escolha do candidato do partido e garante que vai disputar a vaga mesmo que estejam na disputa “excelentes nomes”, como o ex-governador e senador José Serra e o prefeito de São Paulo, João Doria. “Eu vou disputar as prévias, eu não vou desistir porque não me interessa outro cargo. Eu não quero ser senador, não quero ser deputado, eu quero disputar o governo do Estado de São Paulo.”

Sobre Doria, D’Avila disse acreditar que o ideal seria ele permanecer à frente da prefeitura de São Paulo: “Eu acho que nós devemos cumprir os mandatos para os quais somos eleitos. O eleitor esperava, quando escolheu o João Doria, que ele ficasse quatro anos no poder em São Paulo”.

Oficialmente, o único outro pré-candidato tucano ao governo de São Paulo é o secretário estadual do Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro. Na semana passada, o nome do vice-prefeito de São Paulo, Bruno Covas, também passou a ser ventilado.

Apresentando-se como a união entre a continuidade do PSDB no poder em São Paulo (onde já está direta ou indiretamente há 22 anos) e a renovação de lideranças, ele indica alguns pontos do seu programa para disputar a eleição: defende a descentralização do poder do governo federal e a retomada do legado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com a desestatização e “o fortalecimento das instituições”.

FHC, por sinal, é uma grande referência para o novo aspirante tucano a governador: autor de uma obra sobre os nove maiores estadistas brasileiros, ele inclui nessa lista o ex-presidente, retratado em um quadro na sua sala. Ao comentar uma frase célebre de outro ilustre da lista, o ex-chanceler Oswaldo Aranha, de que o Brasil “é um deserto de homens e de ideias”, ele argumenta que a discussão “a longo prazo” terminou no país quando FHC deixou o poder, em 2003.

O pré-candidato recebeu VEJA na sede do CLP, no 1º andar do edifício Ruth Cardoso, em São Paulo.

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Depois de tanto tempo na iniciativa privada, porque o senhor quer ser candidato ao governo de São Paulo? Como surgiu a ideia de disputar o cargo pelo PSDB?

Há quase dez anos eu me dedico ao terceiro setor, na melhoria da gestão dos recursos públicos em governos estaduais e municipais. Parte da minha candidatura é fruto desse trabalho, de formar lideranças e atuar na melhoria da gestão pública no Brasil. O convite concreto partiu do presidente do PSDB em São Paulo, Pedro Tobias. Conversei com prefeitos do partido e ouvi que eu era um bom nome, porque conciliava a renovação com a experiência em gestão pública. No CLP, trabalhei com muitos administradores do PSDB ao longo dessa década, implementando políticas públicas. Então, a minha candidatura já parte com a simpatia e respaldo desses prefeitos. Depois de receber o convite e antes de aceitá-lo, conversei com o governador Geraldo Alckmin. Falei também com o presidente Fernando Henrique Cardoso, com o senador José Serra e com o prefeito João Doria. A minha preocupação foi respeitar o ritual do partido.

Existe a especulação de que o senador José Serra pode ser candidato a governador, assim como o secretário David Uip (Saúde) e até o prefeito João Doria. Se esses nomes entrarem na concorrência, o senhor ainda assim disputaria as prévias?

Eu vou disputar prévias. Isso foi o que eu disse desde o início para o PSDB. Outras pessoas têm todo o direito de fazer isso e seriam excelentes nomes. José Serra é um dos melhores gestores públicos que o Brasil tem e, portanto, ele ter vontade de disputar a eleição em São Paulo é natural. O João Doria, como prefeito de São Paulo, também tem todo o direito, assim como o David Uip, que vem sendo um excelente secretário da Saúde. Agora, eu vou disputar as prévias, eu não vou desistir porque não me interessa outro cargo. Eu não quero ser senador, não quero ser deputado, eu quero disputar o governo do Estado de São Paulo, o convite foi feito para isso e eu vou até o fim. Acho muito bom o processo de prévias, ele legitima as candidaturas.

O PSDB comanda o governo direta ou indiretamente há 22 anos. Não é o momento de uma alternância de poder?

Há alternância de poder, é só a mesma sigla no governo. O PSDB está há 22 anos em São Paulo porque boa gestão dá voto. É justamente o reconhecimento desse bom governo que permite ao partido continuar vencendo as eleições para o governo do Estado. Você quer mudança quando o governo não está entregando as coisas que a população espera. O que eu acho, e me proponho a fazer parte, é que tem de haver uma renovação de nomes dentro do próprio PSDB.

Para a Presidência da República, o PSDB tem dois nomes já colocados, Alckmin e o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto. Ainda tem Doria, que oficialmente descarta ser candidato. Como o senhor vê possíveis prévias neste cenário? 

Não vejo problema algum na disputa de prévias. Disputa é saudável e vai fazer com que os militantes pensem quem é o melhor candidato para 2018. Sem prévias, como você vai ter renovação no partido? Qual a chance de existirem pessoas novas? Vira decisão de cúpula. Agora, eu acho que nós devemos cumprir os mandatos para os quais somos eleitos. O eleitor esperava, quando escolheu o João Doria, que ele ficasse quatro anos no poder em São Paulo. Mas eu entendo o contexto atual, com muitas pessoas avaliando que a eleição vai ser novamente dominada pela polarização entre PT e PSDB e que o Doria seria o grande símbolo do outro espectro. Mas tem uma outra narrativa, que é a economia começando a se recuperar e o desemprego a cair lentamente, com economistas prevendo um crescimento de 3%, derrubando o mau humor das pessoas. Vejo muito mais o eleitor buscando alguém que seja o símbolo da continuidade, das reformas, da previsibilidade das políticas públicas e do retorno da confiança. Nesse caso, o cenário aponta muito mais para o governador Geraldo Alckmin. É uma disputa de narrativas – e o partido vai ter que escolher qual prevalecerá.

Vejo muito mais o eleitor buscando alguém que seja o símbolo da continuidade, das reformas, da previsibilidade das políticas públicas e do retorno da confiança. Nesse caso, o cenário aponta muito mais para o governador Geraldo Alckmin.

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Em uma série de vídeos batizada de Soluções para o Brasil, o senhor defende a emancipação de estados e municípios e diz que existe um “excesso de poder concentrado em Brasília”. Se o senhor for governador, vai buscar reverter essa situação? Como?

Vou defender justamente a descentralização do poder, uma bandeira extremamente importante. Quanto mais poder para os governos locais, maior e melhor é a capacidade de resolver os problemas que efetivamente afetam a vida das pessoas. Essa transferência de recursos primeiro para Brasília e depois voltando para os municípios criou uma dependência excessiva do governo federal e prejudicou a criação de políticas locais de acordo com o contexto de cada realidade. Hoje, 80 ou 90% dos governos do Brasil vive única e exclusivamente do Fundo de Participação dos Municípios, ou seja, vive de mesada do governo federal. Esse é um município que não tem nenhum incentivo para fazer uma boa gestão. Descentralização requer devolver poder e receita para estados e municípios, que terão de viver da própria geração de renda. Com isso, os governos serão muito mais ágeis para resolver os problemas locais.

Não corremos o risco de acentuar as desigualdades regionais do Brasil dessa forma?

Muito pelo contrário, cada região vai ter que descobrir a sua vocação econômica e o que tem que fazer para se desenvolver. Cada região do Brasil tem a sua vocação. Veja bem o que houve com o Centro-Oeste, uma riqueza e uma potência da agroindústria. Por quê? Porque houve desenvolvimento, pesquisa, que conseguiram fazer com que o consumo do solo dessas regiões se tornasse propício à agricultura de larga escala. A questão da descentralização do poder obrigará estados e municípios a investir em vez de depender de mesada do governo federal.

O senhor defendeu a gestão de mais de vinte anos do PSDB em São Paulo. O estado, no entanto, tem um atraso generalizado no cronograma de obras, em especial as do Metrô. Como pretende superar esse problema?

Depende muito do que está na alçada do governo estadual e o que é responsabilidade do governo federal, por conta da insegurança jurídica no Brasil. Vou dar um único exemplo que agilizaria muito as obras públicas, o recurso do performance bond [cláusula em licitações que terceirizaria para uma seguradora a administração do contrato]. Atrasos deixam de ser um ônus do estado e passam a ser das seguradoras. Elas terão o poder de substituir as empresas que estiverem liderando um consórcio, caso as obras não estejam sendo cumpridas no prazo e orçamento determinados, sem ter de recorrer à Justiça. Muitas obras estão paradas por questões jurídicas, não por má gestão do Estado de São Paulo. Por isso, o governo federal tem que promover um acordo para mudar as leis, com normas que tragam segurança jurídica para o país. Isso é essencial, principalmente para projetos de longo prazo, como é a questão da infraestrutura.

Luiz Felipe d'Avila
D’Avila entre “os grandes estadistas brasileiros”: na foto, Ulysses Guimarães, Oswaldo Aranha e FHC (Ricardo Matsukawa/VEJA.com)

O senhor é bastante elogioso à gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que teve um papel inaugural no Brasil nesta questão de venda e concessão de empresas estatais. Nas eleições presidenciais seguintes, o PSDB fez defesas tímidas desse projeto. O partido errou?

Tudo que mostra indefinição e insegurança passa a imagem de que você não sabe o que quer. E o PSDB, a meu ver, errou sim, ao não defender o legado do governo FHC. Precisávamos ter feito uma defesa muito maior do governo – e não só da privatização, mas de todas as coisas importantes que foram conquistadas. Por exemplo, o fortalecimento das agências regulatórias, as privatizações com critérios, a questão do fortalecimento das instituições, coisas extremamente importantes para a democracia brasileira que não foram defendidas com a ênfase devida. E foram justamente os governos seguintes que colocaram em risco esses pilares e causaram essa enorme recessão no Brasil. A insegurança jurídica e a intervenção indevida do Estado na economia de forma atabalhoada provocaram a maior recessão econômica da história recente do Brasil. Temos que resgatar essas bandeiras do PSDB que foram tão importantes para o fortalecimento das instituições democráticas do país.

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Tudo que mostra indefinição e insegurança passa a imagem de que você não sabe o que você quer. E o PSDB, a meu ver, errou sim, ao não defender o legado do governo FHC. Precisávamos ter feito uma defesa muito maior do governo – e não só da privatização, mas de todas as coisas importantes que foram conquistadas.

Em 2014, o senhor lançou uma obra sobre os grandes estadistas brasileiros, incluindo FHC entre os nove maiores. Outro deles, Oswaldo Aranha, tem uma frase clássica segundo a qual “o Brasil é um deserto de homens e ideias”. Ainda é?

Nós temos uma crise de liderança, que reflete uma falta de discussão sobre o país que queremos. Nesse caso, acho que ainda vivemos em um deserto. O que temos hoje é resultado da polarização ideológica que empobreceu as alternativas de país que nós temos. Deixamos de discutir ao longo prazo, falar em legado, e passamos a discutir coisas muito imediatistas. Só se pensa hoje, em política, questões de curto prazo pensando na próxima eleição. A discussão de reformas estruturais, de pensamento a longo prazo, terminou com o fim do segundo mandato de FHC. De lá para cá, não discutimos mais que país vamos deixar para nossos filhos e netos. Nesse ponto, o debate piorou muito, em teor e em conteúdo.

Quais são os próximos passos da sua candidatura?

Eu já estou me movendo. Tenho visitado as cidades e conversado com lideranças locais. Estou fazendo, também, uma coisa que vai ser importante no meu discurso, que é a discussão da vocação econômica dos municípios. É minha grande bandeira hoje. Quero sentar com cada prefeito e ver a pauta de exportação de cada cidade, o que eles vendem, o que importam. Entendo que essa é a melhor forma para produzirmos bens de maior valor agregado. É justamente sofisticando essa pauta de produtos que nós vamos aumentar a renda das pessoas. Isso e a retomada da competitividade, que caiu muito nos últimos anos, em comparação a outros países da América do Sul.

https://www.instagram.com/p/Ba_4HwADMTY/

 

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