Com Lula candidato a mais uma reeleição, a fila não anda no PT
Como ocorre desde a primeira eleição direta após a redemocratização, presidente inibe debate sobre quem pode sucedê-lo dentro do partido e da esquerda
Desde a redemocratização do país, Lula disputou seis das nove eleições presidenciais diretas realizadas. Nas outras três, não participou porque a Constituição não permitia (2010), porque sua sucessora Dilma Rousseff não aceitou abrir mão da candidatura em benefício do padrinho (2014) e porque estava preso pela Operação Lava-Jato (2018). Único político a conquistar três vezes a Presidência, o petista planeja concorrer novamente em 2026 — e não há por enquanto, entre governistas e oposicionistas, quem cogite algo diferente disso.
Os sinais de que a candidatura de Lula a um quarto mandato está consolidada são visíveis na estratégia do PT para as eleições municipais deste ano e as eleições gerais de 2026. O partido está deixando de concorrer em grandes capitais e abrindo espaço para nomes de outras legendas, como mostra reportagem da nova edição de VEJA, para fortalecer o leque de alianças em torno do mandatário.
“A lógica eleitoral do PT são composições absolutamente pragmáticas com quem quer que seja para realizar o propósito estabelecido: a reeleição de Lula”, diz Alberto Aggio, professor de Ciências Políticas da Unesp. “O PT, que sempre foi dependente do Lula, agora vê essa dependência se tornando integral. O que virá depois disso? Será bastante problemático”, acrescenta.
O tamanho do problema
Numa entrevista recente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o PT deveria começar a pensar no sucessor de Lula de olho na eleição de 2030. A presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann, rebateu e afirmou que essa discussão era “extemporânea”. “Nós precisamos fazer com que tudo dê certo, porque é isso que vai garantir a sucessão, inclusive a reeleição de Lula na próxima eleição”, declarou Gleisi. Não é um mero confronto de ideias.
Em 2018, quando estava preso pela Lava-Jato, Lula cogitou lançar Gleisi para disputar a Presidência contra Jair Bolsonaro, mas acabou optando por Haddad. Na formação do atual governo, Haddad foi escalado para a Fazenda, e Gleisi — apesar de cotada para algum ministério, o que continua a ocorrer — permaneceu à frente do partido. Desde então, os dois duelam sobre os rumos da política econômica, e o presidente até aqui tem ficado ao lado do ministro.
Os debates sobre temas diversos, como a meta fiscal, ecoam um duelo de fundo: tanto Haddad quanto Gleisi sonham em se consolidar como sucessor de Lula e concorrer ao Planalto. O presidente, como de costume, deixa a disputa correr solta, mas impede que um nome se consolide e passe a fazer sombra a ele. Como ocorre desde a eleição presidencial de 1989, a fila às vezes até parece que vai sair do lugar, mas nunca anda no PT e na esquerda.