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Como a bancada governista virou o grande obstáculo para o avanço da CPMI do INSS

A oposição espera poder virar o jogo nas próximas semanas, rompendo a blindagem que dificulta o aprofundamento das investigações

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 2 nov 2025, 08h00

Instalada há mais de dois meses, a CPMI que investiga o escândalo das aposentadorias dos idosos ainda não produziu nenhuma grande revelação. Antes dela, a Polícia Federal já havia identificado o funcionamento da engrenagem criminosa, apontado o nome dos personagens envolvidos e iniciado o rastreio do dinheiro roubado. A expectativa é que essa terceira etapa do trabalho produza as novidades mais aguardadas. A PF descobriu, por exemplo, que o advogado Eric Fidelis, filho do ex-diretor do INSS André Fidelis, recebeu 5,1 milhões de reais das entidades envolvidas na fraude. A suspeita é que o advogado foi usado para ocultar o pagamento de propina ao pai. Eric foi convocado para depor. É bem provável que ele compareça munido de um habeas corpus que lhe permitirá ficar em silêncio, assim como ocorreu com outros investigados. Dependendo do que o advogado disser — ou não disser —, essa trilha é capaz de levar à compreensão de como o esquema conseguiu operar durante cinco anos, desviar cerca de 4 bilhões de reais, cooptar autoridades e atravessar dois governos.

A Polícia Federal aponta André Fidelis como suspeito de ter recebido propina em troca de emitir autorizações para que associações e sindicatos envolvidos na trama pudessem operar fraudulentamente descontos nas aposentadorias dos idosos. O repasse ao filho do ex-diretor foi feito pelo lobista Antônio Carlos Antunes, conhecido como “o Careca do INSS”, tido como o principal operador do esquema. André Fidelis assumiu o cargo no INSS em 2023, apadrinhado pelo senador Weverton Rocha (PDT-MA). O parlamentar é um político influente no Ministério da Previdência. Seu partido comanda a pasta desde o início do governo Lula. O congressista não nega ter apoiado a indicação do ex-diretor. “Ele um dia apareceu no meu gabinete pedindo apoio político. A única coisa que pedi a ele foi para nos ajudar a diminuir a fila do INSS no Maranhão”, diz o parlamentar, ressaltando que depois disso não teve mais contato com Fidelis, que foi convocado para depor, mas não compareceu alegando problemas de saúde.

Weverton conta que a última notícia que teve sobre o ex-diretor foi repassada pelo então ministro da Previdência, Carlos Lupi, antes da eclosão do escândalo. “Um ano depois da nomeação, o Lupi me procurou para uma conversa e disse: ‘aquele rapaz que você apoiou, não estou gostando do serviço dele, não está me trazendo resultados, vou tirá-lo. Tem algum problema pra você?’.” É tudo muito peculiar. A nomeação para o cargo de diretor do INSS é uma prerrogativa exclusiva do ministro da Previdência, não precisa de apoio político de ninguém e muito menos do aval do Senado. Carlos Lupi, presidente do PDT, mesmo partido do senador, foi demitido após a descoberta das fraudes contra os idosos. Foi a segunda passagem dele pelo ministério — e também a segunda demissão. Em 2011, durante o governo Dilma Rousseff, Lupi foi exonerado após usar um avião de uma entidade beneficiada por convênios irregulares assinados durante sua gestão. Weverton era assessor especial do ministro e também perdeu o posto.

COINCIDÊNCIAS - Weverton Rocha: indicação de diretor acusado, churrasco em sua residência com um dos suspeitos e carona em avião usado por lobista
COINCIDÊNCIAS - Weverton Rocha: indicação de diretor acusado, churrasco em sua residência com um dos suspeitos e carona em avião usado por lobista (Andressa Anholete/Agência Senado; Kebec Nogueira/Metrópoles/.)

Vice-líder do governo Lula, o senador é tido como responsável por uma até hoje não muito bem explicada decisão da presidência do Congresso. Logo depois da revelação das fraudes, o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-­AP) decretou sigilo de 100 anos sobre informações acerca da visita de lobistas aos gabinetes parlamentares. Já se sabe que o Careca do INSS mantinha contatos com vários políticos. Um deles era exatamente Weverton Rocha. O senador confirma que, embora não tenha relação alguma com o lobista, ele esteve três vezes no seu gabinete e uma vez em sua residência. O Careca do INSS, porém, teria aparecido durante um churrasco sem ser convidado. “Ele furou uma das minhas ‘costeladas’, que todo mundo conhece em Brasília”, jura o senador. “A pessoa que o levou disse que ele foi para uma conversa (sobre negócios). Aí eu disse: ‘só atendo no meu gabinete!’.” Uma reportagem do portal Metrópoles revelou outra coincidência: Weverton e o Careca do INSS usavam até recentemente um avião que pertence ao advogado que defende o lobista exatamente no caso das aposentadorias. Parlamentares de oposição apresentaram requerimentos para ouvir o piloto da aeronave e o próprio senador. “Não sou investigado, não tem ninguém do PDT envolvido, não há de se falar em depoimento na comissão”, afirmou o senador a VEJA.

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Em uma CPMI de maioria governista, é improvável que a convocação de Weverton Rocha seja aprovada. Foi o que aconteceu quando aliados do Planalto conseguiram impedir o depoimento do sindicalista José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Lula e vice-presidente do Sindnapi, uma das entidades suspeitas de participar do esquema de descontos fraudulentos. Foi assim também quando a base se mobilizou para evitar a convocação do advogado Paulo Boudens, braço direito de Davi Alcolumbre, que recebeu 3 milhões de reais de uma empresa ligada ao Careca do INSS. “Há uma evidente ação do governo Lula para proteger determinadas pessoas e impedir o avanço das investigações”, acusa Kim Kataguiri (União Brasil-SP), autor do pedido de convocação do parlamentar maranhense. Tamanho esforço só aumenta as suspeitas em torno de personagens como Weverton Rocha e Paulo Boudens. A oposição espera poder virar o jogo nas próximas semanas, rompendo a blindagem que dificulta o aprofundamento das investigações.

Publicado em VEJA de 31 de outubro de 2025, edição nº 2968

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