Como Aécio Neves ensaia voltar ao topo do jogo eleitoral
A julgar por seus discursos, ele pretende retomar o cargo que ocupou no auge de sua trajetória: o governo de Minas Gerais

No início dos anos 2000, pouca gente no meio político duvidava do futuro de Aécio Neves. Neto do ex-presidente Tancredo Neves, ele vinha de quatro mandatos consecutivos como deputado e chegou a presidir a Câmara entre 2001 e 2002, quando foi eleito governador de Minas Gerais no primeiro turno, com 58% dos votos — depois, foi reeleito com 77% em 2006. Em 2010, quando encerrou a sua gestão, tinha 73% de aprovação, segundo o Datafolha, 1º lugar no ranking de governadores, o que lhe garantiu a ida ao Senado. A ascensão parecia que chegaria ao topo na disputa presidencial de 2014, quando esteve perto de derrotar Dilma Rousseff. A apuração, porém, deu-lhe a derrota, por três pontos de diferença, e marcou uma dura inflexão na sua trajetória.
Sem aceitar o primeiro revés eleitoral da carreira, questionou o resultado das urnas e se isolou politicamente. O pior viria a partir de 2015, quando foi tragado pela Lava-Jato, com acusações de corrupção envolvendo Furnas e Odebrecht. Foi gravado pelo empresário Joesley Batista, da JBS, pedindo 2 milhões de reais para custear sua defesa judicial. A sua irmã e braço direito, Andrea Neves, chegou a ser presa. Teve, ao final, as investigações arquivadas, mas o seu capital político minguou — foi apenas o 34º deputado federal mais votado em Minas em 2022 e murchou no cenário nacional. Agora, ensaia voltar ao topo e, a julgar por seus discursos, pretende retomar o cargo que ocupou no auge de sua trajetória: o governo de Minas Gerais.

Fora Aécio e alguns aliados mais fiéis, poucos acreditam na viabilidade do plano. A estratégia, no entanto, já foi traçada e posta em prática: comparar o seu governo com os outros que lhe sucederam. O alvo principal é o governador Romeu Zema (Novo), a quem tem criticado em inserções do PSDB e em suas redes sociais. “O PSDB, você se lembra, já mostrou que sabe fazer. E quem já fez pode fazer de novo”, diz em um vídeo. O tucano chega a entrar em contradição com algumas bandeiras históricas do partido: defende servidores públicos, reclama de benefícios fiscais a empresas e diz que grandes estatais não devem ser privatizadas. “Quando fui governador, Copasa, Cemig e Codemig eram motivos de orgulho dos mineiros e tinham resultados extraordinários. Hoje, estão sucateando as nossas empresas para entregá-las na bacia das almas. O PSDB está aqui para defender o patrimônio dos mineiros”, diz o tucano, reforçando que “Minas não está à venda”.
Ao mesmo tempo que ataca um governador de direita, em um estado inclinado recentemente a esse espectro político, Aécio mira o outro lado da polarização. Critica o governo Lula e a gestão de Fernando Pimentel, petista que comandou o estado antes de Zema. Em Brasília, ressurgiu nos últimos dias ao buscar uma saída intermediária para a batalha em torno da anistia a envolvidos em atos antidemocráticos e se disse satisfeito por desagradar a bolsonaristas e petistas. “Acostumou-se no Brasil a tachar quem é contra o PT de bolsonarista e vice-versa, mas o Brasil tem que abrir espaço para uma outra oposição, centrada, qualificada, democrática, como nós somos”, pregou. Questionado sobre disputar o governo, afirmou que não é hora de decidir. “É uma decisão para o ano que vem. Mas eu vou ajudar o PSDB a se reposicionar”, disse na quinta 25 ao Ponto de Vista, de VEJA.
Embora desconverse sobre se será candidato ao governo, a possibilidade já é tratada no seu círculo político. “Nas nossas pesquisas, ele aparece sempre em primeiro ou segundo lugar. Quando aparece em segundo, vence no segundo turno”, diz o deputado federal Paulo Abi-Ackel, presidente do PSDB-MG e um dos aliados mais fiéis de Aécio. A última pesquisa divulgada, da AtlasIntel, no entanto, mostra o ex-governador com pouco mais de 3% dos votos (veja o quadro). “Ele se manteve anos isolado. Seu partido perdeu força, deixando evidente que não fez um bom trabalho. O povo mineiro vai saber avaliar que ele não é uma boa alternativa”, diz a deputada estadual Leninha, presidente do PT mineiro. “Aécio não tem mais votos na direita, que o apoiou no passado mais pelo contraponto ao PT do que por outro motivo, e antes de os movimentos de direita se organizarem no país”, diz o vice-governador Mateus Simões (Novo), o candidato de Zema.
O derretimento político de Aécio nos últimos dez anos se confunde com o crepúsculo de seu partido. Após chegar duas vezes à Presidência com FHC, em 1994 e 1998, e fazer disputas equilibradas com o PT nas quatro eleições seguintes, o PSDB entrou em declínio. Em 2022, elegeu três governadores — Eduardo Leite (RS), Raquel Lyra (PE) e Eduardo Riedel (MS) —, mas perdeu todos para siglas mais promissoras. Aécio, que assume a presidência da legenda em novembro, vai ter trabalho para voar alto de novo.
Publicado em VEJA de 25 de setembro de 2025, edição nº 2963