Os últimos preparativos de Moraes para responder Fux no julgamento de Bolsonaro
Relator reuniu votos antigos do colega para expor contradições e deve contar com apartes de Cármen Lúcia

O julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) promete novos embates entre os ministros nesta quinta, 11. Após o longo voto divergente de Luiz Fux, que defendeu a anulação de atos processuais, questionou a competência do Supremo e absolveu Jair Bolsonaro e outros réus de crimes centrais, o relator Alexandre de Moraes prepara uma ofensiva técnica para rebater os argumentos do colega.
Segundo apuração nos bastidores, Moraes encomendou uma extensa pesquisa sobre votos antigos de Fux, incluindo habeas corpus e recursos anteriores. O objetivo é demonstrar a incongruência entre a jurisprudência que o ministro seguiu em outros casos e o entendimento específico adotado no julgamento dos réus mais conhecidos da trama do golpe.
A estratégia envolve ainda a participação da ministra Cármen Lúcia, que deve conceder apartes durante a sessão para que Moraes possa apontar, em tempo real, os paradoxos do voto de Fux. Entre eles, a admissão da sobreposição dos crimes de golpe de Estado e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, bem como a tese de que o processo não deveria tramitar no STF.
Reações silenciosas durante a fala de Fux
A movimentação reforça o clima de tensão observado desde a leitura do voto de Fux, marcado por reações silenciosas de ministros que tomavam notas e requisitavam documentos em meio à exposição. Moraes, em particular, recebeu sucessivas levas de papéis e fez anotações com caneta vermelha e marcadores de texto, sinalizando que preparava uma resposta contundente.
Paralelamente, o relator segue finalizando os ajustes da dosimetria das penas para os réus que considerou culpados — decisão que deve marcar o desfecho do julgamento, nesta sexta-feira, 12. Hoje, 11, votam ainda os ministros Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, e a expectativa é pela condenação de Bolsonaro e dos outros sete réus do primeiro grupo de acusados no processo.
O embate entre relator e divergente, além de expor divisões internas sobre a interpretação das provas e a condução processual, deve determinar a força e o alcance das condenações no caso mais simbólico ligado ao ataque às instituições democráticas.