A cerca de dez dias da posse dos novos deputados federais e senadores, e, por consequência, da eleição das mesas diretoras das duas casas, a expectativa é uma disputa fragmentada e pautada pela tensão em relação à participação do governo do presidente Jair Bolsonaro e do PSL nas articulações políticas.
Na Câmara, onde é mais comum uma multiplicidade de candidaturas, ao menos nove nomes estão postos na disputa até o momento. Atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ) segue sendo o favorito, mas a aproximação com o PSL para suprir a falta de partidos como MDB e PP, grandes bancadas que estão despontando com nomes na disputa, acabou afastando o PT e dificultando acordos com os demais partidos à esquerda.
No partido do ex-presidente Michel Temer, o atual vice de Maia, Fábio Ramalho (MG), e Alceu Moreira (RS) estão colocados. No PP, os nomes são os do ex-ministro da Saúde Ricardo Barros (PR) e do líder do partido, Arthur Lira (AL)
Os petistas articulam neste momento um bloco de oposição na eleição, que já inclui o PSB e PSOL e mira também PDT, PCdoB e Rede. Não é suficiente para eleger o presidente da Câmara, uma margem que exige cerca de 260 votos, mas basta para influenciar as eleições e, talvez, compor com outro candidato que se apresente como mais distante do governo Bolsonaro que Maia. Dentro desses partidos, João Henrique Caldas (PSB-AL) e Marcelo Freixo (PSOL-RJ) se colocam como candidatos.
Do outro lado, o deputado Capitão Augusto (PR-SP) ainda espera “furar” esse apoio do PSL ao atual presidente, pela proximidade pessoal com Bolsonaro. Novatos na Casa, como Kim Kataguiri (DEM-SP) e Marcel Van Hattem (Novo-RS) se colocaram na disputa mesmo com pouca ou nenhuma chance, visto que Kim não tem o apoio do DEM e o Novo possui apenas oito deputados eleitos.
Se candidatar ao cargo permite uma exposição política e de mídia frequentemente buscada pelos parlamentares. Esse recurso já foi utilizado, entre outros, pelo próprio Bolsonaro, que obteve quatro dos 513 votos em sua última tentativa de ocupar a Presidência, em 2017.
Senado
No Senado, a grande divisão continua sendo entre ser a favor ou contra a volta do senador Renan Calheiros (MDB-AL) ao comando da Casa. Renan, que oficialmente não diz ser candidato a presidente do Senado, acena ao governo Bolsonaro com a possibilidade de trabalhar pela aprovação de reformas e também conta com o ativo da eleição secreta, que diminui o custo político do voto nele, que responde a catorze inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao contrário da Câmara, a fragmentação é incomum no Senado, onde a disputa tradicionalmente acontece em uma composição entre os senadores de acordo com os tamanhos das bancadas. Desde 2001, todas as eleições foram vencidas pelo MDB – partido de Renan mas, também, origem de uma das opositoras, a senadora Simone Tebet (MDB-MS). E também não tiveram mais de três candidatos, sendo que as últimas cinco tiveram apenas dois postulantes.
Novamente na casa o governo aparece como um ator importante. Oficialmente, o PSL tem candidato, o senador eleito Major Olímpio (SP), mas integrantes do governo, como o ministro-chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni, se movimentam por Davi Alcolumbre (DEM-AP). Pesa contra Alcolumbre o fato de o DEM ter também três ministros no governo e o favorito para comandar a Câmara, o que provoca um sentimento de rejeição ao acúmulo de poderes por uma única legenda.
Também são nomes cotados os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE), Esperidião Amin (PP-SC), Alvaro Dias (Podemos-PR) e Ângelo Coronel (PSD-BA). Na esquerda, o PT perdeu peso e um bloco articulado por Cid Gomes (PDT-CE) – que inclui, além do PDT, o PPS, o PSB e a Rede – ganhou espaço na disputa. Cid não se coloca como candidato, mas apresenta disposição de construir um acordo com um candidato de oposição à Renan.
Os cotados
Na Câmara: Alceu Moreira (MDB-RS), Arthur Lira (PP-AL), Capitão Augusto (PR-SP), Fábio Ramalho (MDB-MG), João Henrique Caldas (PSB-AL), Kim Kataguiri (DEM-SP), Marcel Van Hattem (Novo-RS), Marcelo Freixo (PSOL-RJ), Ricardo Barros (PP-PR) e Rodrigo Maia (DEM-RJ).
No Senado: Alvaro Dias (Podemos-PR), Ângelo Coronel (PSD-BA), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Esperidião Amin (PP-SC), Major Olímpio (PSL-SP), Renan Calheiros (MDB-AL), Simone Tebet (MDB-MS) e Tasso Jereissati (PSDB-CE)