Membro da recém-criada Comissão Especial de impeachment do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), na Assembleia Legislativa (Alerj), o deputado estadual Mauro Bernardo dos Santos, conhecido como Subtenente Bernardo (PROS), tem a enteada nomeada na Fundação Leão XIII, órgão ligado à vice-governadoria. Além disso, dois filhos do parlamentar, que são policiais militares, estão cedidos à segurança da Alerj. Até o ano passado, um outro enteado e o cunhado de Bernardo estavam lotados em seu gabinete. PM aposentado, o político é pré-candidato a prefeito em Cabo Frio, cidade da Região dos Lagos. Pouco antes de ser detonada a crise no Palácio Guanabara, o militar contava com o apoio de Witzel para se eleger.
Larissa Cardozo Barbosa trabalha na Fundação Leão XIII desde junho de 2019. Filha da atual esposa do deputado Subtenente Bernardo, ela é chefe do Núcleo de Atendimento ao Cidadão de São Pedro da Aldeia, município também na Região dos Lagos do estado do Rio. Antes de ocupar este cargo no governo Wilson Witzel, porém, Larissa ficou lotada no gabinete do próprio padrasto. Na Alerj, Larissa exerceu a função de assessora parlamentar juntamente com o irmão dela, Peterson Cardoso de Oliveira, outro enteado de Bernardo. Os dois deixaram a Assembleia em maio daquele ano. O mesmo gabinete abrigou ainda Alexandre Siqueira Cardoso, cunhado do deputado indicado pelo PROS para compor a Comissão Especial.
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Clique e AssineBruno Demke Miranda Bernardo dos Santos e Rafael Bernardo Fonseca dos Santos, filhos legítimos do deputado Subtenente Bernardo, não ficaram de fora do plano político da família. Em fevereiro do ano passado, Bruno foi cedido à Coordenadoria Institucional de Segurança da Alerj. Quatro meses depois, o irmão Rafael seguiu para a Subdiretoria-geral de Segurança da Assembleia. VEJA apurou que os dois PMs foram requisitados pelo pai. Em 2013, Bruno e outro PM foram acusados de sequestrar e extorquir dinheiro de um traficante em Araruama. Eles chegaram a ser expulsos da corporação, mas voltaram depois de entrarem com um processo na Justiça. O caso foi revelado pelo jornal “Extra” em 5 de maio de 2019.
Procurado por VEJA, o subtenente Bernardo ainda não foi localizado pela reportagem. Ele é um dos 25 deputados escolhidos por seus partidos para fazerem parte do processo que decidirá o destino de Wilson Witzel, investigado por corrupção. A relação dos nomes está publicada na edição do Diário Oficial desta segunda-feira, 15. Outros dois parlamentares, por sua vez, acabaram de deixar a cadeia: Marcus Vinícius de Vasconcelos, o Neskau (PTB), e Marcos Abrahão (Avante). A dupla foi alvo da Operação Furna da Onça, braço da Lava-Jato. A ação da Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público Federal, em 2018, mirou políticos suspeitos de participarem do grupo criminoso chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral, que está preso.
Indicado pelo PSL, Gustavo Schmidt também compõe a comissão. Em março, ele ficou detido após participar de uma festa em Niterói, na Região Metropolitana, no auge da pandemia do novo coronavírus. À época, o acusaram de agredir dois PMs e desacatar uma delegada. Schmidt negou apesar das imagens que circularam na internet mostrarem o contrário da versão apresentada pelo deputado. Eleito na onda Bolsonaro, Schmidt rompeu com o clã presidencial e se aliou a Witzel, adversário de Jair Bolsonaro. Graças ao empresário Mário Peixoto, preso na Operação Favorito, o pai de Gustavo Schmidt, que é homônimo e funcionário de carreira, assumiu o cargo de assessor da presidência da Cedae, a Companhia de Água e Esgotos do Estado. Mas com status de diretor da empresa.
Enquanto isso, o deputado Pedro Brazão (o nome de batismo é Manoel Inácio), escolhido pelo PL, integra uma família de políticos com base eleitoral em bairros dominados por milícias, principalmente na Zona Oeste da capital. O chefe do clã é seu irmão Domingos Brazão, ex-deputado e conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Rio (TCE-RJ) por suspeita de corrupção. Em outubro do ano passado, a então procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, apontou Domingos como mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). Ele sempre negou a acusação. A Polícia Civil do Rio, que investiga o caso, até hoje não apresentou um mentor e nem a motivação do crime.
Vítima de um atentado a tiros em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, no mês passado, o deputado Márcio Canella é outro a integrar a comissão de impeachment de Witzel pelo MDB. Em abril de 2019, Canella foi alvo da Operação Metano, desencadeada pelo Ministério Público estadual e pela Polícia Civil. A ação teve como objetivo cumprir ordem judicial de afastamento do prefeito daquele município, Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho (MDB), e de outros servidores da prefeitura, além de cumprir mandados de busca e apreensão nas casas dos denunciados. Segundo a força-tarefa, as investigações apontaram o suposto envolvimento de Canella, ex-vice-prefeito de Belford Roxo, com o esquema de fraudes em licitações para contratar empresas prestadoras de serviços de coleta, transporte e destinação final de lixo. À época, o deputado negou participação.
Em 2008, o deputado João Peixoto, do Democracia Cristã, apareceu no centro de um caso relativo a fraudes no auxílio-educação na Alerj e de contratações de funcionários fantasmas. Naquele ano, duas deputadas foram cassadas: Jane Cozzolino e Renata do Posto. Apesar das acusações, Peixoto se livrou da punição e permaneceu com o mandato. Os parlamentares começaram a ser investigados pelo Conselho de Ética após denúncias de pessoas aliciadas com a promessa de que seriam incluídas no cadastro do programa federal Bolsa-Família. Com os documentos, os aliciadores nomeavam “laranjas” nos gabinetes com salários baixos. Eles davam preferência a mães e pais de muitos filhos porque a Assembleia oferecia a servidores 450 reais para cada criança. O benefício era o principal alvo da quadrilha.
Já Dionísio Lins (PP), Rodrigo Bacellar (Solidariedade), Val da Ceasa (Patriota) e Dr. Deodalto (DEM) têm forte influência em nomeações de aliados políticos na gestão Wilson Witzel. O trio que integra a comissão de impeachment votou pela abertura do processo de afastamento mesmo com indicações feitas no governo. Barcellar é cotado para ser o relator do grupo e, Chico Machado (PSD), o presidente. Na denúncia, Witzel é acusado de crime de responsabilidade na área da Saúde e por descumprir regras que influenciaram na rejeição de suas contas de 2019 pelo TCE-RJ.
Witzel tem até 10 sessões para apresentar a sua defesa. Feito isso, a Comissão Especial terá mais cinco sessões para preparar e apresentar o relatório final. Só então o documento volta a ser apreciado no plenário, precisando de pelo menos 36 votos a favor para ser aprovado. Caso os deputados confirmem o impeachment após todo esse rito, o governador, inicialmente, ficará afastado por 180 dias. Neste período, será criado o chamado Tribunal Processante, com cinco deputados, cinco desembargadores sorteados e mais o presidente do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), Cláudio de Mello Tavares. Será este grupo que determinará ou não a cassação definitiva de Witzel.
Os 25 membros da Comissão Especial do Impeachment publicados no Diário Oficial:
Novo – Alexandre Freitas
PSB – Renan Ferreirinha
PDT – Martha Rocha
DC – João Peixoto
PSDB – Luiz Paulo
PTB – Marcus Vinicius (Neskau)
PROS – Subtenente Bernardo
PSC – Leo Vieira
PSD – Chico Machado
AVANTE – Marcos Abrahão
Patriota – Val Ceasa
PMB – Marina Rocha
PODE – Bebeto
PSOL – Eliomar Coelho
REP – Carlos Macedo
SDD – Rodrigo Bacellar
PT – Waldeck Carneiro
PP – Dionísio Lins
PCdoB – Enfermeira Rejane
MDB – Márcio Canella
Cidadania – Welberth Rezende
DEM – Dr. Deodalto
PL – Pedro Brazão
PSL – Gustavo Schmidt
PTC – Valdecy da Saúde