Ao apresentar denúncia contra o coronel reformado da Polícia Militar de São Paulo João Baptista de Lima Filho no âmbito do “quadrilhão do MDB”, o Ministério Público Federal (MPF) sustentou que ele intermediou o recebimento de 1 milhão de reais de propina em nome do presidente Michel Temer (MDB). Segundo a acusação pelo crime de organização criminosa, aceita ontem pela Justiça Federal do Distrito Federal, as vantagens indevidas teriam sido pagas pelo Grupo J&F. Coronel Lima se tornou réu ao lado do advogado e ex-assessor presidencial José Yunes e outras três pessoas.
“Seu papel na organização criminosa era o de auxiliar os demais integrantes do núcleo político na arrecadação da propina, em especial seu líder, Michel Temer, conforme já narrado na peça acusatória”, afirma o MPF, na acusação feita no dia 21 de março.
Recentemente, Lima e Yunes chegaram a ser presos de forma temporária por determinação do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da Operação Skala, um desdobramento do inquérito que investiga o próprio Temer por recebimento de propina na edição de um decreto que alterou regras em concessões portuárias.
A denúncia aceita ontem pela Justiça é um desdobramento, na primeira instância, da denúncia feita pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Michel Temer e outros aliados no ano passado. A acusação criminal foi barrada pela Câmara, mas o Ministério Público Federal pediu o desmembramento das investigações em relação a pessoas que não detinham foro privilegiado, como João Baptista Lima Filho e José Yunes.
Em março, procuradores da República da força-tarefa da Operação Greenfield confirmaram a denúncia feita por Janot e ainda acrescentaram novos acusados e fatos a partir de documentos coletados pela Operação Patmos, deflagrada em maio do ano passado depois de virem a público as delações premiadas de executivos do Grupo J&F.
A denúncia aditada cita relatos de delatores da J&F que apontam o coronel Lima como o receptor da propina em nome de Michel Temer. O ex-diretor de relações institucionais da JBS Ricardo Saud afirmou, em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), que Temer pediu a entrega de 1 de milhão de reais, em dinheiro vivo, numa empresa de Lima. Na busca e apreensão feita em um endereço do coronel, descobriu-se uma série de papéis que o relacionaram ao presidente.
“Tais elementos indicam que João Baptista Lima Filho faz a gestão do recebimento dos recursos e doações de campanha para Michel Temer há décadas e corroboram tudo o quanto exposto acerca das condutas mais recentes do coronel Lima no âmbito da organização criminosa”, afirma o MPF.
O Palácio do Planalto disse que não comentaria a acusação.