Um grupo de deputados federais do Rio de Janeiro compareceu no Palácio da Guanabara, sede oficial do governo do estado, para declarar apoio oficial ao candidato à presidência da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL), aposta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na disputa à cadeira de comando da Casa Legislativa, nesta quarta-feira, 20.
O convite foi feito pelo governador em exercício, Cláudio Castro (PSC). Em meio a deputados bolsonaristas, estava também a deputada federal Flordelis dos Santos (PSD-RJ), ré apontada pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) e pela Polícia Civil fluminense como a mentora e mandante do assassinato do próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, e alvo de um processo de cassação no Conselho de Ética da casa.
Flordelis está sob monitoramento de tornozeleira eletrônica por ordem da 3ª Vara Criminal de Niterói, na região metropolitana do Rio, após uma testemunha ter relatado um ataque à bomba no quintal de sua casa. Ela também está proibida de sair de casa entre 22h e 6h.
Quando se tornou ré, o MP do Rio também viu indícios de rachadinha e nepotismo no gabinete federal da parlamentar.
O processo de cassação de Flordelis está parado na Câmara dos Deputados e só deve ser retomado em meados de fevereiro. Ontem, o promotor do MP do Rio Carlos Gustavo Coelho de Andrade recorreu à 2ª instância TJ do Rio para que Flordelis seja afastada do cargo parlamentar. A decisão caberá à 2ª Câmara Criminal do tribunal, composta por cinco desembargadores. Ainda não há data marcada para o julgamento.
O registro fotográfico do encontro no Palácio da Guanabara foi feito pela deputada Clarissa Garotinho (PL), que também apoia o favorito do clã Bolsonaro na eleição da Câmara federal. Além de Arthur Lira, deputados bolsonaristas como Otoni de Paula (PSC), Daniel Silveira (PSL), Hélio Negão (PSL) e Luiz Lima (PSL) marcaram presença no evento, que ocorreu no período da tarde. Outra cerimônia ocorreu também na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), onde o grupo foi recebido pelo presidente da casa, André Ceciliano (PT).
Lira justificou sua presença nos eventos como uma ação para ouvir os pedidos do Rio de Janeiro. Entretanto, nos bastidores, o comentário é de que a aproximação ocorre devido à aliança do clã Bolsonaro com o governador em exercício, empossado após o afastamento pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) do governador Wilson Witzel (PSC), adversário político do presidente. Witzel é alvo de um processo de impeachment no Tribunal de Justiça do Rio, composto por uma comissão mista de deputados estaduais e desembargadores. Cláudio Castro, por sua vez, também é investigado no esquema que afastou seu antecessor.
Conforme VEJA mostrou em dezembro de 2019, Lira foi acusado pela ex-mulher, Jullyenne Lins, de coletar propina enquanto era deputado estadual em Alagoas. Ele se notabilizou por ser da tropa de choque do ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB), afastado do cargo e preso no âmbito da Operação Lava Jato – hoje, ele está em regime domiciliar, também monitorado por meio de uma tornozeleira eletrônica. A ex-mulher de Lira também acusou o deputado de agredi-la com socos, murros e pontapés.
Tanto Flordelis quanto Lira negam as acusações.