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Debate da TV Globo com candidatos a prefeito do Rio pode ser cancelado

Ainda não houve acordo após emissora anunciar encontro com participação de apenas quatro concorrentes devido à pandemia

Por Cássio Bruno Atualizado em 23 set 2020, 14h51 - Publicado em 23 set 2020, 14h46

Previsto inicialmente para 12 de novembro, o debate da TV Globo com os candidatos a prefeito do Rio de Janeiro no primeiro turno das eleições municipais poderá não ocorrer. O encontro é o último na televisão aberta e o mais importante antes do pleito. Por causa das restrições da pandemia do novo coronavírus, a emissora de maior audiência do país anunciou, na última segunda-feira, 21, que os confrontos entre os concorrentes nas capitais só vão acontecer se houver um acordo para que apenas os quatro mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto mais recentes do Ibope ou do Datafolha participem. As entrevistas em estúdio foram canceladas. No Rio, a decisão provocou irritação e está longe de um consenso.

No comunicado oficial, a Globo cita como exemplo justamente o Rio de Janeiro e também as cidades de São Paulo e Belo Horizonte, onde há dez ou mais candidatos. No formato utilizado na última eleição, cada debate poderia ter pelo menos 200 pessoas aglomeradas em um mesmo ambiente, segundo os cálculos da própria Globo. Além dos políticos, haveria assessores e funcionários da TV que trabalhariam na organização do evento. “No planejamento para cobrir as eleições municipais, acreditou-se que o país chegaria a outubro com taxas de contágio sob controle, o que, infelizmente, não ocorrerá”, diz um trecho da nota divulgada pela direção de jornalismo.

As coordenações das campanhas dos candidatos no Rio se movimentam nos bastidores para levar à TV Globo uma contraproposta. Inicialmente, a ideia é que o debate ocorra com todos os candidatos cujos partidos obedeçam a cláusula de barreira, mas sem a presença de assessores. Alguns políticos, inclusive, já se encontraram para discutir uma estratégia. A maioria ouvida por VEJA não concorda com a proposta da emissora. Na última pesquisa Datafolha, feita em dezembro do ano passado, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) apareceu na liderança. Em segundo lugar, ficou o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) e, em terceiro, o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). A deputada estadual Martha Rocha (PDT) estava em quarto. Freixo, no entanto, desistiu de concorrer. Nas amostragens internas dos partidos, Paes lidera e, Crivella, é o vice.

“Lamentamos que, por conta da pandemia, a emissora tenha que tomar uma atitude desta magnitude, que prejudica sobremaneira este espaço democrático, onde as propostas são postas à mesa. Gostaríamos que houvesse um debate entre as assessorias de campanha e os representantes da Globo, para que se estudasse outras alternativas, mas, no caso desta ser a única forma, esperamos que, ainda assim, este acordo possa existir, para que o debate não se cale nesta emissora, que há décadas cumpre este papel importante do processo eleitoral”, afirmou Martha Rocha, em nota.

O deputado federal Luiz Lima (PSL-RJ), que entrou na disputa recentemente, disse, em princípio, não aceitar a proposta da TV Globo. “Temos um número recorde de candidatos na eleição do Rio de Janeiro e, possivelmente, as diferenças entre eles serão pequenas, muitas vezes dentro da margem de erro das pesquisas. O debate é excelente para o eleitor definir o seu candidato. A apresentação pessoal e a discussão de ideias, questionando posições dos seus adversários e propondo soluções, é a forma mais transparente para a comunidade conhecer suas opções. Não há sentido assim em excluir candidatos do debate”, afirmou o parlamentar.

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O PT, da candidata Benedita da Silva, é contra. “Entendemos que as TVs criem regras para proteger as pessoas do contágio da Covid, mas é preciso um esforço maior de todos para que o eleitor não seja privado do direito de conhecer as propostas dos candidatos. O debate é uma tradição política muito positiva, e não podemos abrir mão dessa conquista da nossa democracia”, ressaltou a deputada federal petista.

Em nota, a Rede Sustentabilidade, que lançou a candidatura de Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo, discorda da emissora: “A Rede não concorda com a posição da TV Globo quanto ao critério usado para restringir o número de participantes nos debates. E reivindica que todos os candidatos, independente do cumprimento da cláusula de barreira, tenham a oportunidade de participar de todos os debates”.

Fred Luz, também ex-dirigente do Flamengo e candidato pelo Partido Novo, afirmou que não abrirá mão de participar do debate da Globo: “Dentro do processo democrático, os debates no primeiro turno das eleições servem para apresentação dos candidatos, suas ideias e propostas. Ao querer limitar a participação aos quatro mais bem posicionados de pesquisa, a TV Globo tira dos eleitores esta oportunidade. Nas eleições passadas, o Novo não cumpria os requisitos da legislação e ficou de fora. Agora, está habiltado para isso e não abre mão de participar. Acredito que, com esta medida, a Globo esteja prejudicando os candidatos menos conhecidos e beneficiando aqueles já conhecidos e que têm altíssima rejeição”.

Candidata pelo PSC, a ex-juíza Glória Heloíza não aprovou a proposta. “Recebi com preocupação as justificativas e o protocolo proposto para os debates eleitorais deste ano, visto que o momento máximo da nossa democracia exige transparência, igualdade e oportunidade, pilares essenciais para as eleições de 2020. A Rede Globo, como um dos maiores veículos de comunicação de nosso país, possui grande responsabilidade social de fortalecer o processo democrático, dando publicidade ampla a todos os candidatos, sem distinção ou qualquer discriminação. Pessoalmente, prefiro não participar de um debate que não tenha a presença dos demais candidatos, mas acredito no bom senso e na Rede Globo como grande patrocinadora da transparência e da igualdade de condições”, disse.

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A deputada federal Clarissa Garotinho, que concorrerá pelo PROS, também é contra: “Não concordo. Os debates eleitorais são importantes porque equilibram a disputa, dão chance àqueles que não possuem grandes tempos de TV, mostram o preparo dos candidatos sem a produção dos marqueteiros de campanha. As televisões são concessões públicas e precisam contribuir com a democracia, que passa pelo processo de escolha dos candidatos. E, sem dúvida, nada auxilia mais esse processo do que o debate eleitoral”.

Com a saída de Marcelo Freixo, a candidata do PSOL será a deputada estadual Renata Souza. “A proposta de se fazer o debate apenas com os quatro mais bem colocados nas pesquisas empobrece a discussão e a escolha democrática. Tenho certeza que a emissora encontrará uma saída sem que haja essa perda para o eleitor“, disse a parlamentar.

A coordenação de campanha de Marcelo Crivella informou apenas que o caso ainda não foi discutido com o candidato do Republicanos. Procuradas por VEJA, as assessorias de Eduardo Paes e Paulo Messina ainda não responderam. Cyro Garcia (PSTU), Fernando Bicudo (PTB), Henrique Simonard (PCO) e Suêd Haidar (PMB) não foram localizados pela reportagem.

A íntegra do comunicado emitido pela TV Globo:

“Desde o início da pandemia, a Globo tem se esforçado ao máximo para esclarecer o público sobre como evitar o contágio pelo coronavírus. Como prestam 1 serviço essencial, seus jornalistas não pararam de trabalhar, mas seguem 1 rígido protocolo para evitar ao máximo que adoeçam.

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No planejamento para cobrir as eleições municipais, acreditou-se que o país chegaria a outubro com taxas de contágio sob controle, o que, infelizmente, não ocorrerá. Há outro aspecto: o elevado número de candidatos a prefeito em quase todas as cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, para citar apenas 3, com 10 ou mais candidatos. Isso impõe grandes desafios.

Para se ter uma ideia, com 10 candidatos, considerando que cada 1 possa ser acompanhado de apenas 2 assessores (no passado esse número era superior a 10), haveria 30 pessoas ligadas às campanhas no estúdio num debate de 1º turno. Acrescentando a equipe da Globo minimamente necessária para realizar o evento com qualidade, esse número supera 200 pessoas, incluindo jornalistas, câmeras, produtores, profissionais da sala de controle técnico, tecnologia, comunicação, operações e segurança (num debate normal, com plateia e convidados, é o dobro disso). Não há protocolo sanitário que garanta a saúde aos profissionais da Globo e aos candidatos.

Além disso, a severidade da legislação eleitoral não permite que a Globo possa exigir que sejam cumpridas as medidas de precaução (realização de certo número de testes necessários anteriores ao debate, afastamento entre as campanhas no estúdio, respeito aos espaços delimitados pelos painéis de acrílico, posicionamento no estúdio, uso de máscara o tempo todo por assessores). Também não permite que o candidato seja impedido de participar do debate ou dele afastado caso não cumpra as medidas. Isso é grave. Recente ato oficial em Brasília mostrou que, mesmo medidas de precaução, como painéis de acrílico separando autoridades, uso de máscaras e presença limitada a 1 mínimo, não evitaram que 1 surto fosse atribuído ao evento.

A alternativa de fazer 1 debate de forma remota não é possível. Os candidatos precisam ser tratados de forma equânime e ter as mesmas condições, e o público precisa perceber isso. Um candidato pode injustamente ser acusado de estar com ponto eletrônico, de estar recebendo ajuda de assessores, por exemplo. A transmissão pode cair num momento importante do debate, e a Globo ser injustamente acusada de ser a culpada ou, da mesma forma, e também de forma injusta, o candidato ou sua campanha serem acusados de terem provocado a interrupção para fugir de 1 momento difícil.

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Por tudo isso, a Globo decidiu que só fará debates no 1º turno onde haja acordo entre os partidos para que apenas os 4 mais bem colocados candidatos na pesquisa eleitoral mais recente (Ibope ou DataFolha) participem dos debates. A Globo vai lutar por esse acordo. O debate de 2º turno permanece com a data prevista.

Da mesma forma, as entrevistas em estúdio com os candidatos também não serão feitas. A característica dessas entrevistas é terem tempos iguais para todos e mesmo grau de dificuldade. São feitas em muitos dias consecutivos, com os candidatos sentados próximos dos entrevistadores e dos câmeras. E os candidatos comparecem a elas com assessores. É impossível conhecer o nível de exposição de candidatos ao vírus durante uma campanha. Não se pode garantir como interagem com os eleitores nas ruas. Os estúdios da Globo são ambientes altamente controlados para evitar contágio de seus profissionais. O risco de submeter suas equipes ao coronavírus por dias seguidos de contatos com candidatos em permanente exposição às ruas é muito alto. Pelas mesmas razões elencadas sobre debates, não é possível realizá-las de maneira remota.

Essas medidas são válidas para todas as 4 emissoras Globo (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Recife onde há eleições) e recomendadas a todas as suas afiliadas, que seguem o mesmo protocolo.

Fora esses pontos, a Globo fará uma cobertura das eleições ainda mais extensa que em anos anteriores, com assuntos temáticos, abordando com mais intensidade aqueles de maior interesse do público revelados por pesquisas, esmiuçará os planos dos candidatos, a viabilidade deles e como pretendem alcançá-los, os pontos polêmicos de cada candidatura, ouvindo diariamente os candidatos sobre os temas abordados, mas de forma segura. E divulgará pesquisas eleitorais do Ibope e/ou DataFolha.

O jornalismo fará o que tem feito ao longo de toda essa pandemia: oferecer informação de qualidade, mas seguindo todos os protocolos sanitários. E precisa dar o exemplo. Não pode cobrar dos outros o que não faz para si.” 

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