O primeiro debate do segundo turno entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro neste domingo, 16, na Band teve troca de acusações — principalmente sobre quem estava mentindo –, comparações entre os governos de cada um, promessas como a de não mexer no Supremo Tribunal Federal e de não privatizar a Petrobras e quase nenhuma discussão sobre economia ou os problemas mais relevantes do país, como investimentos em saúde e educação.
No início do debate, dominaram o confronto temas como os programas de transferência de renda (Auxílio Brasil e Bolsa Família), o combate à pandemia – com Lula na ofensiva e Bolsonaro na defensiva na maior parte do tempo — e as supostas ligações de um e outro candidato com grupos do crime organizado, como as milícias do Rio de Janeiro (no caso do presidente) ou a facção criminosa paulista PCC (no caso do petista).
Depois, o debate passou por temas variados, mas se perdeu muitas vezes na comparação entre os governos de ambos – uma das frases mais ditas foi “procura no Google”, uma estratégia de que ambos lançaram mãos para pedir ao telespectador que procurasse na internet como o seu governo havia se saído em alguma área – e nas acusações de que um ou outro estava mentindo sobre determinado tema.
Promessas
Nos raros momentos em que assumiram posições, Bolsonaro se comprometeu a não mudar a composição do Supremo Tribunal Federal (STF), que hoje tem onze membros, dos quais dois – Nunes Marques e André Mendonça – foram indicados por ele. O vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos) chegou a defender em entrevista recente que o número fosse aumentado para 15, para que Bolsonaro tomasse o controle da Suprema Corte.
Lula também deixou claro que não irá privatizar a Petrobras, enquanto tentava se desvencilhar o tempo todo das tentativas de Bolsonaro de colar nele o esquema de corrupção que tomou conta da estatal durante os governos petistas. O fato quase surpreendente é que Bolsonaro foi assessorado durante o debate pelo ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, que havia rompido, mas se reaproximou do presidente durante a eleição.
Outros temas surgiram no atropelo, já nas considerações finais. Bolsonaro optou pelo discurso moral e conservador que marca a sua trajetória política. Disse que defende um “país sem ideologia de gênero” e que o “lado de lá quer liberar as drogas”. Também se declarou contra o aborto e o MST, pregando “respeito ao homem do campo”, à propriedade privada e ‘à vida desde a sua concepção”. “Esse é o país que queremos, não o retrocesso, a corrupção, a roubalheira e o desrespeito com as religiões”, concluiu.
Já Lula chamou o adversário de “ditadorzinho”. “Meu adversário é efetivamente o cara que tem a maior cara de pau para contar inverdades daqui. Quem aprovou a lei de liberdade religiosa fui eu”, disse. “Ele é um pequeno ditadorzinho, que quer ocupar a Suprema Corte. Diz todo santo dia que quer colocar os dele lá. Eu quero governar democraticamente”, complementou. Lula também destacou que pretende consertar o país para que todos voltem a ter condições de fazer um “churrasquinho aos finais de semana”. Para Lula, Bolsonaro se incomoda tanto com isso porque “ele pensa que só ele é quem pode”.
Temas ausentes
O grande tema ausente do debate foi a economia. Com exceção de promessas rápidas de manter os programas de transferência de renda, quase nada foi dito sobre como tirar o país da estagnação social e econômica que já enfrenta há alguns anos.
Com exceção de citações rasteiras a uma provável reforma tributária (segundo Lula, para fazer com que ricos paguem mais impostos e os pobres, menos) e críticas às privatizações (“Privatização não serve para nada”, disse o petista), nada muito profundo foi discutido. Bolsonaro, que confirmou a manutenção de Paulo Guedes como ministro da Economia em um eventual segundo mandato, fustigou Lula com uma pergunta que atormenta o petista nos últimos dias: “Quem será o seu ministro da Economia, Lula?”, perguntou. O ex-presidente, mais uma vez, desconversou.