A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender até o dia 4 de abril a possível prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez com que a estratégia do “plano A” voltasse a ganhar força no PT. Com Lula fora da cadeia, ao menos por enquanto, os petistas voltaram a acreditar na capacidade de transferência de votos do ex-presidente ou, em uma hipótese mais remota, que o líder máximo do partido possa escapar da Lei da Ficha Limpa e disputar a eleição.
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região analisa nesta segunda-feira o recurso da defesa do ex-presidente contra a decisão da 8ª Turma que confirmou a condenação do petista a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no final de janeiro. Se mantida a decisão, Lula poderá ser preso caso o STF rejeite o habeas corpus no dia 4 de abril.
A possibilidade de Lula assistir ao processo eleitoral de dentro de uma cela fez com que aumentassem as especulações sobre a escolha de um substituto para o ex-presidente. Os nomes mais cotados são o ex-ministro Jaques Wagner e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Depois da decisão do STF cresceu a percepção dentro do PT de que Lula não será preso e, mesmo que seja impedido de se candidatar, será o principal cabo eleitoral da eleição presidencial.
A ideia da legenda é manter a pré-candidatura de Lula, registrar o nome do ex-presidente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no dia 15 de agosto, e só indicar outro nome caso o registro seja barrado com base na Lei da Ficha Limpa. “Vão ter que deixar a digital, não vai ser o PT quem vai tirar o Lula”, disse o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, vice-presidente do PT.
O objetivo é potencializar a capacidade de transferência de votos do ex-presidente. Embora a decisão do STF de suspender a possível prisão do petista tenha sido comemorada como uma “vitória momentânea”, o partido tem consciência de que dificilmente Lula escapará da Lei da Ficha Limpa.
Segundo um auxiliar próximo do ex-presidente, “quanto mais o PT mantiver a estratégia de dizer que Lula é candidato, mais força eleitoral ele vai ter”. Até a semana passada, petistas avaliavam que, preso e impossibilitado de fazer campanha, Lula adiantaria a escolha de um sucessor.
O petista recebeu a notícia sobre a suspensão da possível prisão durante caravana pela região Sul. Pessoas que acompanham o périplo do ex-presidente apontam ainda outro impacto político positivo da decisão do STF. Para eles, desde o julgamento do TRF-4, a pauta sobre a prisão de Lula se sobrepôs à da candidatura. Agora acontece uma nova inversão de agendas.
Candidatos
Petistas se apoiam em pesquisas internas para acreditar que qualquer nome indicado por Lula pode chegar ao segundo turno da eleição presidencial. Jaques Wagner é o preferido do partido, mas a viabilidade de seu nome vai depender do impacto da Operação Cartão Vermelho, da Polícia Federal, que o acusa de desviar mais de R$ 80 milhões para caixa dois eleitoral.
Já Haddad sofre resistência internas do PT devido à forma como se relacionou com o partido durante sua passagem pela prefeitura de São Paulo, mas é hoje um dos homens mais próximos de Lula, responsável pelo programa de governo do PT.
Em reunião com reitores de universidades públicas no sábado, em Florianópolis, Lula fez um gesto a Haddad que foi interpretado por petistas como um sinal. “Eu com o Haddad formamos uma dupla dessas como Messi e Suárez”, disse ele, ao lado do ex-prefeito, em referência ao ataque do Barcelona.