Delação de Cunha vai atingir diretamente Temer, Moreira e Padilha
Delação do ex-deputado, revelada pela coluna Radar On-Line, já teria mais de cem anexos; de acordo com jornal Folha de S. Paulo, ministros serão implicados
A negociação da delação premiada do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com o Ministério Público Federal – antecipada pela coluna Radar On-Line no dia 3 de julho – deve atingir o coração do governo federal.
Além do próprio presidente Michel Temer (PMDB), dois de seus principais ministros – Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), ambos do PMDB – devem ser implicados nos mais de cem anexos da sua colaboração, segundo informação publicada nesta quinta-feira pela jornalista Mônica Bergamo, no site do jornal Folha de S.Paulo.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República, Padilha e Moreira integravam o grupo que comandava a bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, da qual Cunha foi integrante, e teria formado uma organização criminosa que depois chegou ao Palácio do Planalto com a ascensão de Temer ao poder.
A previsão é a de que Cunha conclua a sua parte na negociação entregando documentos e revelando crimes seus e de terceiros até o final da próxima semana. O ex-deputado estaria utilizando uma sala no Complexo Médico-Penal de Pinhais, onde está preso em Curitiba (PR), para passar aos seus advogados as informações que pretende entregar ao Ministério Público.
Se confirmada, a delação de Cunha viria em um momento delicado para o governo Temer. Enfrentando uma denúncia por corrupção passiva, apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o presidente busca convencer os parlamentares – responsáveis por analisar o futuro da acusação – de que o governo está firme e de que as acusações contra ele são infundadas. Se o ex-presidente da Câmara comprometer de forma significativa Temer, por certo isso influenciaria a decisão dos deputados, quando optarem por votar contra ou a favor da aceitação da denúncia.
Levantamento de VEJA mostra que, até agora, 42 dos 66 parlamentares que compõem a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) tem posição indefinida diante da acusação da PGR. Por outro lado, dezenove deputados já se manifestaram a favor da aceitação, enquanto apenas cinco se comprometem a votar contra a denúncia. Outro acordo de delação que está sendo negociado e pode impactar o governo é o do doleiro Lúcio Funaro, que é apontado pelas investigações da Operação Lava Jato como operador de propinas para o PMDB.
De acordo com a delação do empresário Joesley Batista, do grupo JBS, eram essas – Cunha e Funaro – as duas colaborações que o presidente Michel Temer e seus aliados próximos se esforçavam em evitar. Na fatídica gravação de conversa no Palácio do Jaburu entre Joesley e Temer, ambos são citados em diálogos que indicariam, de acordo com os investigadores, o consentimento do presidente com o pagamento de propinas pelo empresário a ambos, em troca de não delatarem.
Na segunda-feira, por decisão do juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, foi preso o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima (PMDB), outro aliado próximo de Temer, com base em fatos relatados por Funaro. Segundo o doleiro, Geddel pressionava sua esposa para que não fizesse acordo de colaboração. A narrativa bate com a professada por Joesley, que identificava o ex-ministro como seu antigo interlocutor, no grupo do PMDB, a respeito de seus interesses e do andamento das investigações.