Marqueteiro das campanhas presidenciais petistas, o publicitário João Santana disse, em acordo de delação premiada, que a ex-presidente Dilma Rousseff afirmou a ele que parte de seus serviços de propaganda eleitoral seria quitado via caixa dois, classificado por ela como a “forma tradicional” de realização de campanhas. Aos investigadores da Operação Lava Jato, Santana declarou que “negociações informais” para pagamentos se intensificaram durante o período de Dilma Rousseff, “com a participação direta” da petista.
Em um dos depoimentos de sua delação, Santana disse que, entre maio e junho de 2014, em um almoço íntimo no Palácio da Alvorada, em Brasília, Dilma lhe assegurou que atrasos de pagamento não ocorreriam e que uma pessoa de “total confiança” seria responsável pelo programa de pagamentos. Essa pessoa, disse o delator, é o ex-ministro Guido Mantega. Na época, João Santana ainda não tinha recebido pagamentos pela campanha de 2010 e pressionava para que não houvesse atrasos nos repasses.
Meses depois, por volta de outubro e novembro de 2014, já durante as investigações da Operação Lava Jato, a então presidente Dilma comentou com João Santana, durante um almoço, que o empreiteiro Marcelo Odebrecht estava mandando recados velados sobre as investigações a respeito do petrolão. Na opinião de Dilma, Odebrecht estava vazando informações sobre pagamentos ilegais na campanha como forma de mandar um “recado” à presidente. Pressionada pelo empreiteiro, Dilma tratou de se certificar de que os pagamentos ao casal João Santana e Mônica Moura tinham sido feitos de “forma segura” via caixa dois. Para Dilma, a atuação de Odebrecht contra ela poderia acabar causando prejuízos também ao próprio empresário, já que a petista tinha conhecimento de que ele era um notório financiador, via caixa dois, dos serviços de João Santana em campanhas no exterior.
A estratégia de Dilma, relatou Santana em sua delação, era a de que, confrontada com as suspeitas de caixa dois, poderia apresentar os “altos valores oficiais da campanha” como argumento de defesa. Por via das dúvidas, a petista recomendou que o casal de marqueteiros permanecesse o maior tempo possível fora do Brasil. “Qualquer novidade, ela avisaria”, disse João Santana às autoridades.
No fim de novembro de 2014, com a intensificação do cerco da Operação Lava Jato, Mônica Moura, esposa e sócia de Santana, teve de fazer uma viagem às pressas a Brasília. Novamente, foi alertada por Dilma de que deveria ficar fora do país para sair do radar das autoridades. Qualquer novidade, garantiu a presidente, seria repassada por intermédio do e-mail secreto que ela e Mônica Moura compartilhavam.
Em nota, a assessoria de Dilma Rousseff lamentou que o sigilo da delação premiada do casal João Santana e Mônica Moura tenha vindo a público somente agora e disse que o teor dos depoimentos revela “contradições e falsos testemunhos”. “Dilma Rousseff, contudo, reitera o que apontou antes: João Santana e Monica Moura prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores”, disse.