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Do governo à oposição: a repercussão dos diálogos entre Moro e Dallagnol

Filhos de Bolsonaro e o vice Mourão defendem o ministro e a Lava Jato; oposicionistas pedem anulação de ações contra Lula e falam em CPI e convocar ex-juiz

Por Emerson Voltare
Atualizado em 10 jun 2019, 20h05 - Publicado em 10 jun 2019, 17h10

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) ainda não se pronunciou sobre o caso do vazamento das conversas atribuídas ao seu ministro da Justiça, Sergio Moro – quando ainda era juiz -, com o procurador federal Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba.

Mas outras pessoas ligadas ao governo, a começar pelos filhos do presidente, defenderam o ministro e o procurador. “É impressão minha ou só no Brasil, uma imprensa utiliza uma invasão ilegal de algo privado, ignorando a invalidade judicial e ilegalidade, mas não se importa em divulgar, com o único intuito de queimar o governo Bolsonaro e favorecer o sistema? Acho que já vi isso antes”, escreveu o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).

O vereador ainda replicou uma mensagem postada pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que fala em “ataque orquestrado à Lava Jato”. “O objetivo claro é tumultuar processos e investigações, barrando o combate à corrupção no Brasil. A utilização organizada e criminosa de táticas hackers é mais uma etapa dessa guerra”, escreveu o senador.

Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez uma série de publicações nesta segunda-feira, 10, em suas contas das redes sociais. Em algumas delas usou a hashtag “Eu apoio a Lava Jato”. Também fez críticas ao jornalista Glenn Greenwald, fundador e editor do The Intercept Brasil, site que divulgou parte dos diálogos. “Glenn vendeu no exterior a tese de que o impeachment da Dilma foi golpe”, escreveu o parlamentar.

Filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) divulgou em sua conta do Twitter a nota publicada no domingo por Moro e chamou o vazamento de “criminoso”.

Já o vice-presidente general Hamilton Mourão (PRTB) classificou como “conversa privada” e minimizou a troca de mensagens entre Moro e Dallagnol. “Conversa privada é conversa privada, né? E descontextualizada ela traz qualquer número de ilações. Então o ministro Moro é um cara da mais ilibada confiança do presidente, é uma pessoa que, dentro do país, tem um respeito por parte enorme da população, haja vista as pesquisas de opinião que dão a popularidade dele”, afirmou Mourão, ao deixar o Palácio do Planalto na manhã desta segunda.

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Questionado sobre o fato de conversas privadas terem sido usadas por investigadores na Lava Jato, Mourão respondeu apenas que “é diferente”. O vice-presidente disse “não ver nada de mais” no caso e descartou a possibilidade de a troca de mensagens entre o então juiz e o procurador interferirem na Lava Jato. “Em relação aos processos ocorridos na Lava Jato, todos eles passaram por primeira, segunda e outros já chegaram na terceira instância. Então, eu não vejo nada demais nisso aí tudo.”

Mourão disse não ter tratado sobre o assunto com o presidente Bolsonaro, com quem se reuniu pela manhã, num encontro que não estava previsto nas agendas públicas. “De vez em quando, o presidente quer ter um tempo só para os dois [presidente e vice] conversarem. Não tocamos nesse assunto, tocamos em outras histórias”, afirmou. O general disse ter “visto por alto” a troca de mensagens atribuídas a Moro em uma emissora de televisão na manhã desta segunda.

A líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), contou que conversou pela manhã com Moro e disse que ele lhe garantiu que não há qualquer desvio de conduta legal ou moral nas mensagens que teria trocado com procuradores da Lava Jato e que foram publicadas no domingo pelo The Intercept Brasil.

“É cedo para tomar qualquer posição em relação a esse assunto, mas conversei com o ministro Sergio Moro, e ele me garantiu que não há qualquer desvio de conduta legal ou moral, e que as mensagens foram colocadas fora de contexto. Temos de esperar para ver o que vai acontecer, mas acredito na palavra de Moro”, disse.

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CPI

Parte do Congresso já vislumbra uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o caso. Na manhã desta segunda, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Acolumbre (DEM-AP). e do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, discutiram o cenário com o que foi publicado até o momento.

A deputada pelo Paraná e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que o processo contra Lula precisa ser anulado. Seguindo a mesma linha da defesa do ex-presidente, ela defendeu a anulação dos processos envolvendo o líder petista na Lava Jato. E aproveitou para atacar Moro e Dallagnol.

“Moro e Dallagnol atuaram combinados, com parcialidade e motivações políticas, para impedir a vitória eleitoral de Lula e do PT. Forjaram a acusação sem provas e armaram farsa jurídica contra Lula. Esse processo tem de ser anulado.”

O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), propôs a realização, por parte dos partidos de oposição, de ações conjuntas com objetivo de apurar a interferência de Moro nas investigações da Lava Jato. Segundo ele, entre essas ações está a possibilidade de criação de CPI para apurar a atuação do ex-juiz e dos procuradores da força-tarefa de Curitiba.

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A bancada do PSOL na Câmara vai protocolar um pedido de convocação de Moro para se explicar sobre a série de mensagens. O partido também vai abrir representação contra Deltan Dallagnol no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

De acordo com o líder do partido, Ivan Valente (SP), um dos requerimentos será para convocar Moro a prestar esclarecimentos ao plenário da Câmara e outro para que ele compareça à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Para que o ministro seja convocado, no entanto, os pedidos devem ser aprovados nas duas instâncias.

O líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO), que defende a Lava Jato, disse que irá levar a discussão na terça 11 para a reunião de líderes. “Se comprovarem isso (os diálogos), é inadmissível, usar o cargo e a estrutura de estado para incriminar e prender alguém. Independentemente de quem seja, fazer isso é errado, não podemos pactuar com isso que fere o estado democrático de direito”, afirmou Nelto.

Senado

No Senado, Moro não deve encontrar o mesmo clima de hostilidade. Isso não impedirá, no entanto, que requerimentos sejam apresentados a fim de cobrar esclarecimentos.

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O líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), já se manifestou nesse sentido. Segundo o congressista, a ideia é esperar que o ministro da Justiça vá ao Senado de forma voluntária para explicar o teor das conversas. Se não for por vontade própria, Randolfe apresentará um requerimento de convite ou até convocação.

Já Angelo Coronel (PSD-BA), aliado do governador Rui Costa (PT-BA), se movimenta nos bastidores para reunir assinaturas em favor da criação de uma CPI com a finalidade de investigar a Lava Jato. Para instalá-la, o senador precisa do apoio de um terço da Casa – 27 dos 81 parlamentares.

 

O líder do Podemos no Senado, Alvaro Dias (PR), declarou que o conteúdo das conversas entre Moro, Deltan e os demais procuradores da força-tarefa foi obtido por meio de uma “invasão criminosa” da privacidade de “agentes públicos da maior importância”. Na visão dele, o combate à corrupção é uma prioridade no país e deve estar acima de “preciosismos jurídicos”.

No lado oposto, estão os parlamentares do PT, como o líder do partido, Humberto Costa (PE). “Nós vamos buscar, em todas as esferas cabíveis, a apuração dos crimes da Lava Jato e a responsabilização dos seus autores.”

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