Apesar de negar que tenha ambições nacionais para 2018, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), usou as redes sociais para comemorar a informação de que seu nome provoca interesse até mesmo fora de São Paulo. Além de comentar a notícia em sua página no Twitter e no Facebook, Doria telefonou para o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) — que relatou ter sido abordado por pessoas no interior do Piauí curiosas com “esse tal de Doria” — para dizer que tinha ficado contente com a notícia.
“Fico feliz em saber que nosso trabalho está despertando curiosidade em todo o país”, escreveu o tucano nas redes sociais. Afilhado político do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) – que confirmou na semana passada ter interesse de disputar o Palácio do Planalto em 2018 – João Doria já aparece à frente dele em pesquisas para a sucessão de Michel Temer (PMDB) na Presidência. Além de Alckmin, o prefeito, há pouco mais de dois meses no cargo, superaria também o atual presidente e políticos tradicionais, como o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) e o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Desde que foi eleito em primeiro turno, no entanto, o prefeito nega ter intenção de disputar o cargo e ressalta que Alckmin é o seu candidato ao Planalto. Aliados do governador, por outro lado, articulam para que Doria saia da prefeitura em 2018, mas concorra ao governo do Estado. É uma solução que resolve dois problemas: garante ao PSDB um palanque próprio em São Paulo – ameaçado pelo vice-governador, Márcio França (PSB) – e tira o prefeito da disputa com Alckmin pela Presidência.
Um dos mais próximos aliados do governador, o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o deputado estadual Fernando Capez (PSDB) disse ser “possível” que o partido pressione Doria a ser candidato ao governo de São Paulo. No entanto, Capez fez questão de ressaltar que o prefeito “não quer e não vai ser candidato a presidente”. Em agenda pública ao lado do prefeito na manhã de domingo em Parelheiros, na Zona Sul da capital, o presidente da Alesp defendeu a “dorialização” da política.
Aliados
Fernando Capez foi um dos primeiros parlamentares do PSDB a apoiar a candidatura de Doria à prefeitura no início das prévias da legenda, quando o favorito era o então vereador Andrea Matarazzo, hoje no PSD. Além de retirar o prefeito da disputa presidencial, o movimento de Capez visa frear as especulações de que Alckmin vai apoiar uma candidatura de Márcio França à sucessão para o Palácio dos Bandeirantes.
Caso seja candidato à Presidência ou ao Senado, ele terá de renunciar seis meses antes da eleição, abrindo espaço para que França assuma o governo e se candidate à reeleição. Presidente estadual do PSDB, o deputado Pedro Tobias segue na mesma linha do comandante do legislativo paulista.
“Doria é uma estrela do partido e quem tem mais chances de ser candidato a governador. A população o apoia. Ele está preparado para disputar qualquer cargo, mas já deixou claro que o seu candidato a presidente é o Geraldo Alckmin”
Pedro Tobias, presidente do PSDB-SP
Antes cotado para a disputa em São Paulo, o ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes, que era filiado ao PSDB, vai assumir a vaga de Teori Zavascki no Superior Tribunal Federal (STF). O nome do ex-governador e senador José Serra (PSDB-SP) também é lembrado como opção para 2018, mas tucanos avaliam que ele perdeu força após deixar o Itamaraty.
Confiança
Auxiliares de Alckmin reconhecem que o prefeito surge como uma opção forte para a sucessão paulista, mas ponderam que o governador tem uma relação de lealdade recíproca e de confiança com Márcio França. A possibilidade de apoiar o pessebista, portanto, não está descartada.
Desde que assumiu a Prefeitura, Doria adotou uma intensa agenda pública que inclui atividades midiáticas nos fins semanas e uma forte atuação nas redes sociais – pratica que já está sendo, inclusive, copiada pelo seu padrinho político. Com presidenciáveis tucanos já citados em delações da Odebrecht na Operação Lava Jato, o chefe do Executivo paulistano passou a ser lembrado como opção para 2018.
Doria negou, porém, que pretenda deixar o mandato antes de 2020 para disputar outro cargo. Procurada, a assessoria do prefeito não quis se manifestar sobre as declarações de “apoio” a seu nome.
Pomba
O vice-governador Márcio França minimiza as declarações dos tucanos sobre Doria, mas deixa claro que a decisão de seu partido sobre a eleição em São Paulo será tomada à revelia do PSDB. “Em festa de tucano, pomba (símbolo do PSB) não pia. A decisão do PSB será guiada pelos nossos interesses, que não necessariamente são iguais aos do PSDB”, afirmou.
Aliados de França e dirigentes pessebistas garantem que ele será candidato a governador em qualquer cenário. A avaliação é de que não haveria outra opção, uma vez que ele, com a eventual saída de Alckmin do cargo, será governador por pelo menos nove meses em 2018. Sendo assim, ele não poderia concorrer a nenhum outro cargo e não teria nada a perder.
O PSB sinalizou ao governador, porém, que apoiaria um tucano em São Paulo se ele não se viabilizar no PSDB e disputar o Palácio do Planalto pelo partido aliado. Interlocutores de Alckmin na cúpula nacional do PSDB vão reforçar nesta semana a pressão para que o partido antecipe para o fim de 2017 a escolha de seu candidato a presidente.
(Com Estadão Conteúdo)