Entre integrantes da cúpula do governo e próceres do PT, um critério não dito abertamente nas rodadas de discussão sobre quem deve ser o futuro ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) é a disposição do “supremável” em, uma vez empossado, tentar colocar um “freio” em Alexandre de Moraes, relator de processos sensíveis que miram o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Longe de ser uma preocupação pessoal com o futuro do capitão, que na última semana recebeu do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nova pena de inelegibilidade por abusos ao longo do mandato, o temor é que haja o chamado “efeito Orloff”, expressão cunhada nos anos de 1980 a partir de um comercial que tinha o mote “eu sou você amanhã”.
Aliados do presidente dão por certo que, mais cedo ou mais tarde, o STF sob a batuta de Alexandre poderá se virar contra o próprio governo. Por isso, candidatos à vaga da ministra aposentada Rosa Weber, que deixou a Corte em setembro, têm sido sondados nas entrelinhas sobre que movimentos fariam para tentar se contrabalançar a Moraes no tribunal, aliando-se, por exemplo, ao mais novo integrante do colegiado Cristiano Zanin, que livrou Lula do enrosco da Lava-Jato e tem como mantra o combate ao punitivismo desmedido.
Neste contexto, dizem, o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas e o advogado-geral da União Jorge Messias teriam perfil mais “moderado” que o hoje favorito à vaga Flávio Dino, ministro da Justiça.
Ao lado do decano Gilmar Mendes, Alexandre é um dos mais influentes da Corte e tem conduzido com mão de ferro – e penas na casa dos 17 anos – os julgamentos dos autores do quebra-quebra de 8 de janeiro. Junto a interlocutores, o ministro costuma repetir uma piada sobre a momentânea simpatia que governistas e petistas nutrem por ele.
Quando se reuniu com parlamentares na esteira do relatório final da CPI da Pandemia, que tinha Bolsonaro como alvo principal, por exemplo, ele ouviu de dois senadores elogios rasgados à sua atuação contra o então presidente. E retrucou de pronto: “Pena que o senhor não pensava assim quando votou contra mim na sabatina no Senado”. Entre risos e certo constrangimento, o congressista emendou: “mas eram outros tempos, né?”.
Em 2017, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou o nome de Alexandre depois de mais de 12 horas de sabatina. Foram 19 votos a favor e sete contra. No Plenário, foram 55 votos favoráveis, 13 contrários e 13 abstenções. Ele atribui a maior parte dos votos de rejeição ao seu nome a integrantes do PT. Na época, a hoje presidente do partido Gleisi Hoffmann e o líder governista Randolfe Rodrigues eram críticos abertos da escolha do ministro para a Suprema Corte.