Disputa por cargos deixa deputados bolsonaristas irritados com Crivella
Nos bastidores, parlamentares reclamam que prefeito do Rio de Janeiro, pré-candidato à reeleição, não abriu espaço na gestão municipal para abrigar aliados
Deputados bolsonaristas estão irritados com o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, do Republicanos. Nos bastidores, parlamentares reclamam que o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus não tem aberto espaço na prefeitura com cargos para que eles indiquem aliados. Crivella é pré-candidato à reeleição e busca apoio formal do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O grupo ameaça não fazer campanha para Crivella. A insatisfação aumentou, principalmente, porque, segundo esses políticos, o prefeito atendeu apenas as demandas levadas pelos vereadores ao seu gabinete.
A informação foi confirmada a VEJA nesta terça-feira, 4, pelo deputado federal Carlos Jordy (PSL). “Ouvi falar a respeito disso, sim. Tem gente chateada. Eu não vou apoiar o Crivella”, afirmou, sem dar detalhes. No caso de Jordy, o desgaste ocorreu depois que o Republicanos, partido de Crivella, decidiu lançar o empresário Alexandre Ceotto como pré-candidato à prefeitura de Niterói, município da Região Metropolitana e base eleitoral de Jordy. Ceotto é genro do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso na Operação Lava Jato. O deputado apoiará o delegado da Polícia Federal, Antônio Rayol, do Podemos.
Para atrair deputados bolsonaristas de olho na eleição municipal, Crivella até criou a Secretaria Especial de Turismo e Legado Olímpico. Mas a pasta não tem cargos suficientes para abrigar as indicações dos parlamentares, o que vem provocando indignação. O prefeito nomeou Camila Vieira de Souza para assumir a nova secretaria. Ela foi uma escolha da deputada estadual Alana Passos (PSL), fiel aliada de Jair Bolsonaro. Antes, a pasta funcionava como uma subsecretaria e tinha no comando Patrícia Amorim, ex-presidente do Flamengo.
Em junho, quando Marcelo Crivella anunciou a nova Secretaria Especial de Turismo e Legado Olímpico, Alana Passos negou ter indicado Camila Vieira de Souza. Em uma rede social, a deputada escreveu o seguinte: “Comunico aos meus eleitores do Rio de Janeiro que, eu, deputada estadual, não tenho candidato a prefeito na capital. Os encontros que tive com o prefeito Crivella foram republicanos. Só isso e nada mais”. Apesar disso, o marido dela, Robson Ferreira de Souza, tem influência na pasta mesmo não sendo nomeado. Além de Alana, compõem a bancada bolsonarista insatisfeita com Crivella os deputados estaduais Filippe Poubel, Anderson Moraes e Márcio Gualberto, todos do PSL; Dr. Serginho, do Republicanos; e Renato Zaca, do Solidariedade. Na Câmara Federal, segundo apurou VEJA, Márcio Labre, do PSL, também é um dos descontentes com o prefeito.
A situação ficou ainda mais insustentável na semana passada. Crivella atendeu a um pedido do senador Flavio Bolsonaro na mesma Secretaria Especial de Turismo e Legado Olímpico. O filho mais velho do presidente da República indicou um aliado para ser subsecretário: Leandro Alves de Almeida Santos. A nomeação saiu publicada no Diário Oficial em 28 de julho. Leandro ficará responsável, por exemplo, pelo Parque de Madureira, na Zona Norte. Os parlamentares, por sua vez, acreditavam que as nomeações feitas a pedido de Flavio seriam na conta da Secretaria de Ordem Pública (Seop), chefiada por Gutemberg Fonseca, ligado ao clã Bolsonaro, o que não ocorreu.
Outro problema dos deputados bolsonaristas com Crivella é que eles não estão sendo atendidos quando precisam dos serviços da prefeitura nos bairros onde possuem as suas bases eleitorais. Na lista, entre outras coisas, estão a falta de coleta de lixo e de infraestrutura, como asfalto. “Crivella só tem prestigiado os vereadores”, reclamou um parlamentar que pediu anonimato.
Crivella quer Bolsonaro em seu palanque, mas dificilmente o terá. Em princípio, o presidente não fará campanha para nenhum candidato nas eleições municipais. Por isso, ter a imagem associada a Bolsonaro e, ao mesmo tempo, contar com o apoio da estrutura da base bolsonarista, incluindo a dos deputados nas redes sociais, é fundamental para Crivella atrair os eleitores do capitão. O prefeito tem se esforçado para agradar o clã em suas agendas. Além das inaugurações de ruas, praças e até de sinal de trânsito, Crivella adotou medidas chanceladas por Bolsonaro em meio à pandemia do novo coronavírus, como a flexibilização do isolamento dos cariocas e o retorno do futebol.
Em março, Flávio e o irmão, o vereador carioca Carlos Bolsonaro, se filiaram ao Republicanos, ligado ao bispo Edir Macedo, dono da Igreja Universal. Rogéria, ex-mulher de Bolsonaro e mãe de Flavio e Carlos, também foi para a legenda, ocupada em sua maioria por evangélicos. Rogéria lançou-se recentemente pré-candidatura a vereadora na capital. A ida dos Bolsonaro para a sigla ocorreu porque o Aliança pelo Brasil, partido de Jair Bolsonaro, não será legalizado a tempo das eleições municipais deste ano.
Procurados por VEJA, Filippe Poubel, Dr. Serginho, Anderson Moraes e Renato Zaca negaram ter indicações na prefeitura. Alana Passou não deu retorno à reportagem. Márcio Gualberto e Márcio Labre não foram encontrados.