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Emílio Odebrecht diz a Moro que caixa dois era ‘modelo reinante’

Em depoimento vazado, delator diz que Odebrecht fez doações não contabilizadas a campanhas políticas desde que seu pai, Norberto, comandava o grupo

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 18h52 - Publicado em 13 mar 2017, 17h32

Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro, o presidente do conselho administrativo da empreiteira que leva o nome da família, Emílio Odebrecht, disse que o caixa dois foi o “modelo reinante” em campanhas eleitorais no país até pouco depois da deflagração da Operação Lava Jato. O empresário depôs ao juiz federal como testemunha de defesa de seu filho, Marcelo Odebrecht, na ação penal em que ele é réu ao lado do ex-ministro Antonio Palocci e outros doze acusados. O processo apura o que o Ministério Público Federal chama de “conta-corrente da propina” mantida por Palocci, pelo PT e pela Odebrecht.

A pedido dos advogados do empresário, um dos 77 executivos da Odebrecht a firmarem acordos de delação com o Ministério Público Federal (MPF), o depoimento havia sido colocado em sigilo por Moro, já que as delações ainda estão em sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF). Um erro técnico da Justiça Federal do Paraná, no entanto, acabou disponibilizando os vídeos por algum tempo no sistema de consulta processual.

Em seu depoimento a Moro, que durou 37 minutos e foi tomado na sede da Justiça Federal em São Paulo, Emílio Odebrecht disse que a empreiteira pagava propina desde que seu pai, Norberto, fundador do grupo Odebrecht, liderava a “organização” – termo recorrentemente usado no depoimento para se referir ao conglomerado.

“Existia isso [caixa dois], e sempre foi um modelo reinante no país, que veio até recentemente. Houve impedimento a partir de 2014, 2015. Mas até então sempre existiu, desde a época de meu pai, a minha época, e também de Marcelo, todos os que foram executivos do grupo. Eu mesmo, na minha colocação, tive dois responsáveis”, lembrou.

Odebrecht relatou, no entanto, que, enquanto comandou o grupo, os ramos em que a empresa atuava eram mais restritos e, em razão disso, a distribuição de dinheiro “por fora” a campanhas políticas não era tão complexa quanto a descoberta pela Lava Jato: um departamento à parte, que contava com executivos para encaminhar o pagamento de propinas e caixa dois, eufemisticamente batizado de Departamento de Operações Estruturadas.

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“Na minha época eram dois negócios principais: a engenharia e a petroquímica. As coisas eram muito mais simples, não tinha a complexidade que a organização passou a ter em determinado período trabalhando em mais de vinte países, lidando com ‘n’ negócios”, afirmou Emílio Odebrecht.

O empresário negou a Moro, contudo, que houvesse um “departamento de propinas” na Odebrecht e disse não saber se Marcelo Odebrecht, o “príncipe dos empreiteiros”, foi o responsável pela sofisticação dos pagamentos irregulares.

“Não existe na organização departamento. Não existiu nada disso de formalizar. Existia um responsável por operacionalizar recursos não contabilizados. Foi dada essa nomenclatura não sei nem como e a imprensa vem repetindo, repetindo, repetindo e está se tornando uma verdade. E não é”, reclamou o empreiteiro.

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A algumas campanhas eleitorais, segundo Emílio Odebrecht, havia uma “mescla” entre recursos oficialmente doados e dinheiro de caixa dois. O empresário ainda ressaltou que “todos os partidos tiveram [caixa dois]”;

‘Palocci pode ter sido operador’

Questionado por Sergio Moro a respeito de doações eleitorais irregulares ao Partido dos Trabalhadores intermediadas pelo ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci, Emílio Odebrecht respondeu ao magistrado que o petista pode ter atuado como “operador” dos repasses. Preso em Curitiba desde setembro de 2016, Palocci é réu pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo.

“Eu não tenho dúvida que teve contribuição da organização ao partido [PT], não tenho dúvida. E não tenho dúvida que pode ter sido também ele [Palocci] um dos operadores que recebeu recursos para o partido. Agora, os detalhes disso, eu não saberia dizer”, disse Odebrecht.

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Em outro momento, o empresário ressaltou que não tratava diretamente com Palocci. “Quando existia pedido de ajuda à campanha, ele [Palocci] era, em determinado momento, quem tratava com a área operacional. Foi aí que ele teve como demandante do partido”, relatou.

Segundo as investigações da Lava Jato, Antonio Palocci teria acertado o pagamento ilegal de cerca de 200 milhões de reais pela empreiteira, de 2008 a 2013. O dinheiro sujo teria como destinatário final definido pelo PT o marqueteiro João Santana, também réu nesta ação penal. De acordo com os investigadores, o valor foi retirado de contratos da Braskem, braço petroquímico do grupo Odebrecht, com a Petrobras.

A força-tarefa da Lava Jato atribui ao ex-ministro o apelido de “Italiano” nas planilhas da empreiteira e anotações do celular de Marcelo Odebrecht apreendidas pela operação.

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Emílio Odebrecht disse que “com certeza” Palocci era identificado como italiano, mas ponderou que seria “leviano e irresponsável” se afirmasse categoricamente que o codinome no material recolhido se refere ao ex-ministro.

“[Italiano] pode ser também o Palocci identificado. Todo mundo que tinha descendência italiana também poderia estar. Eu mesmo tenho companheiros internos na organização que são de origem italiana que eu chamava de ‘italiano’. Não saberia dizer efetivamente se o italiano que se refere aí quer dizer o dr. Palocci, mas com certeza ele também era identificado como italiano”, concluiu.

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