Empregados da EBC denunciam censura às palavras ‘golpe’ e ‘ditadura’
Profissionais da emissora estatal afirmam que restrição veio depois que presidente Bolsonaro determinou comemorações para lembrar início do governo militar
Os funcionários da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), emissora oficial do governo, afirmam que estão proibidos de usar as palavras “golpe” e “ditadura” em reportagens sobre os 55 anos da ditadura militar, que começou no dia 31 de março. Nota assinada pela comissão de empregados e os sindicatos dos jornalistas e radialistas de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal afirma que a censura ocorre nas reportagens de TV, rádio e agências.
“A cobertura que evidenciou a proibição teve início quando o presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou que os quartéis deveriam comemorar a data. Houve repercussão na sociedade civil, no Congresso Nacional e em outros espaços de poder”, diz o documento.
Ainda segundo a comissão, nas reportagens e títulos que tratam sobre o assunto, “o termo ‘ditadura’ está sendo sistematicamente substituído por ‘regime militar’, a não ser quando as matérias trazem declarações do presidente para negar o fato: ‘para Bolsonaro, não houve ditadura no Brasil’. A palavra ‘golpe’ é ainda mais escondida. No lugar de ‘aniversário do golpe’, usa-se ‘comemoração de 31 de março de 1964′”.
“Não se sabe se a orientação veio do governo ou se os gestores da EBC se adiantaram a um possível desconforto governamental e implantaram a censura prévia que, mais do que tentar agradar os governantes utilizando para isso a comunicação pública, tentam reescrever e amenizar os fatos históricos”, diz o documento.
A manifestação também convoca os jornalistas e radialistas a irem trabalhar de preto, na segunda-feira, 1º. Procurado por VEJA, o Palácio do Planalto afirmou que não vai comentar o caso. A EBC não se manifestou até a publicação desta reportagem.