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Empresário investigado indicou advogado de Witzel para defender Edmar

Delação de ex-secretário da Saúde do Rio de Janeiro, obtida por VEJA, mostra que Manoel Peixinho foi indicado por José Carlos de Melo

Por Cássio Bruno, Ricardo Ferraz Atualizado em 16 ago 2020, 00h57 - Publicado em 15 ago 2020, 22h47

Um dos anexos da delação premiada do ex-secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Edmar Santos, revela que o empresário José Carlos de Melo indicou o advogado Manoel Messias Peixinho para defendê-lo no processo que apura irregularidades na contratação de empresas e compra de equipamentos para combate da pandemia de Covid-19. Peixinho é o atual advogado do governador Wilson Witzel no processo de pedido de impeachment na Assembleia Legislativa (Alerj).

O depoimento de Edmar foi tomado pelo Ministério Público Federal e faz parte de um dos 33 anexos da delação homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. VEJA teve acesso a dois deles. Segundo a versão do ex-secretário, ele recebeu a indicação durante uma conversa com Melo pelo telefone. Edmar conta ainda que esteve no escritório de Peixinho em duas ocasiões, mas “não se sentiu confortável para contratá-lo”.

José Carlos é um ex-jogador de futebol dos anos 80, que costuma circular pelos círculos políticos do governo do estado do Rio de Janeiro, como revelou Veja em 7 de junho. Ligado a bicheiros, ele é peça-chave nas investigações da Procuradoria-Geral da República (PGR) que envolve o governador e a primeira-dama Helena em suspeitas de corrupção na área da Saúde. É ele quem faz, por exemplo, a intermediação de contratos milionários entre empresários e o Palácio Guanabara e indicações em cargos estratégicos, além de ter financiado informalmente campanhas eleitorais de candidatos.

No documento, Edmar afirma também que “Peixinho seria bastante ligado a Cássio, ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo do Rio de Janeiro, até a chegada de André Moura”. O cargo foi ocupado por Cássio Rodrigues, no Palácio da Guanabara, durante as gestões de José Luis Zamith e André Moura. Rodrigues é advogado e chegou a atuar, ao lado de Peixinho, na defesa de Witzel no processo de impeachment que corre na Assembléia Legislativa do Rio.

O que dizem os citados

O governador Wilson Witzel publicou um vídeo em suas redes sociais de dois minutos e vinte segundos. Nele, Witzel afirmou que o ex-secretário estadual de Saúde Edmar Santos liderou o esquema de fraude na área durante a pandemia do novo coronavírus. Para o governador, Edmar está “desesperado” porque poderá “perder o cargo de tenente-coronel da Polícia Militar e do diploma de médico, usado para o crime, segundo as investigações”. Witzel ressaltou não temer “nenhuma delação”.

“Foi uma escolha (por Edmar Santos) absolutamente técnica. Infelizmente, tem sido uma enorme decepção para a população do estado do Rio de Janeiro. Há indícios de que ele se aproveitou da pandemia para liderar um esquema de fraudes na saúde”, declarou.

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Segundo Witzel, o ex-secretário “foi pego com a boca na botija”: “Edmar Santos é um homem desesperado. Foi pego com a boca na botija, oito milhões e meio de reais. E, agora, quer distribuir sua responsabilidade com outras pessoas, absolutamente sem provas. No processo penal, isso não vai funcionar. Edmar Santos será condenado e vai responder na cadeia sb seus fatos”, declarou Witzel referindo-se ao dinheiro encontrado pelos investigadores na Operação Mercadores do Caos, que prendeu o ex-secretário estadual de Saúde. O Ministério Público estadual até hoje não informou de quem era o dinheiro.

Manoel Peixinho declarou o seguinte: “Não posso me manisfestar porque recebi o Edmar no meu escritório na condição de advogado. O Código de Ética me impede fazer qualquer tipo de manifestação”.

Procurado por VEJA, Edmar Santos não atendeu às ligações. Os advogados de defesa disseram que não comentam casos envolvendo seus clientes.

Witzel assumiu em janeiro de 2019. Ex-juiz federal, ele foi alvo da Operação Placebo, ação do Ministério Público Federal e da Polícia federal que vinculou o governador a fraudes na construção de hospitais de campanha para tratamento de pacientes com novo coronavírus. Witzel e a primeira-dama Helena são investigados pela Procuradoria-Geral da república (PGR). A atual gestão também é o centro de duas outras operações: Mercadores do Caos e Favorito, que levou às prisões do empresário Mário Peixoto, principal fornecedor de mão-de-obra terceirizada do governo, e a do ex-secretário de Saúde Edmar Santos, entre outros suspeitos de desviarem dinheiro público em meio à pandemia de Covid-19.  

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Outros trechos da delação

Edmar Santos contou ainda ter sofrido ameaças dentro do presídio da Polícia Militar, em Niterói, na Região Metropolitana. O ex-secretário foi PM e, por isso, ficou detido no local. Segundo Edmar, a pressão ocorreu para que ele informasse se tinha fechado algum tipo de acordo de delação. O ex-secretário disse que um sargento, também preso, tentou obter informações sobre a colaboração premiada. Edmar afirmou que o militar dizia ser próximo ao deputado estadual Márcio Canella (MDB) e a outros políticos. Disse acreditar que o recado tenha vindo do grupo do Pastor Everaldo.

Na delação, Edmar Santos confirmou o que já se sabia: a disputa de poderes dentro do governo de Wilson Witzel entre os grupo de Pastor Everaldo e do empresário Mário Peixoto, como VEJA mostrou em reportagens. A secretaria Estadual de Saúde, epicentro das investigações de irregularidades na compra de equipamentos e na montagem de hospitais de campanha, é comandada pelo presidente nacional do PSC, partido que elegeu Witzel.

Edmar Santos afirmou também que a Organização Social Idab empregava funcionários indicados por deputados estaduais. O Idab administra sete unidades de pronto-atendimento no estado do Rio e geriu os Hospitais Zilda Arns, em Volta Redonda, e Anchieta, no Rio, destinados a pacientes com Covid-19.

 

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