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Entre a omissão e a estratégia, a encruzilhada de Freire Gomes

Ex-comandante do Exército entrou na mira da Polícia Federal por não ter denunciado que um golpe estava sendo planejado

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 Maio 2024, 17h12 - Publicado em 18 fev 2024, 09h06
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  • A quebra do sigilo telefônico do tenente-coronel Mauro Cid revelou que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro informou e atualizou o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, sobre as intenções golpistas arquitetadas por uma ala de militares e chanceladas pelo ex-presidente.

    Até então, a atuação de Freire Gomes era conhecida sobre dois episódios. O militar evitou a retirada de manifestantes em frente ao Quartel-General do Exército e, ao mesmo tempo, era apontado como o principal responsável pela força não aderir a um golpe – em delação, Cid afirmou que o comandante se opôs à medida, enquanto o chefe da Marinha, Almir Garnier, mostrou-se favorável.

    Agora, a Polícia Federal quer ouvir Freire Gomes para apurar se ele foi omisso após ter conhecimento de havia um planejamento golpista em andamento e não ter alertado nenhuma autoridade superior.

    Em mensagem de voz enviada ao comandante no dia 9 de dezembro, Mauro Cid diz que quer “atualizá-lo” e informa que Bolsonaro vinha sendo pressionado a tomar uma medida “mais pesada” onde ele vai “obviamente, utilizando as forças”.

    Cid, na sequência, afirma que Bolsonaro “enxugou o decreto”. “Aqueles considerandos que o senhor viu e enxugou o decreto, fez um decreto muito mais resumido, né?”, afirmou.

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    De acordo com a Polícia Federal, o plano inicial era decretar um golpe de Estado e prender os ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco. Depois, a pedido de Bolsonaro, a medida foi alterada e passou a prever somente a prisão de Alexandre de Moraes.

    A PF identificou que Freire Gomes participou de uma reunião no Palácio da Alvorada em 7 dezembro de 2022 – ou seja, dois dias antes da mensagem encaminhada por Mauro Cid. Segundo as investigações, esse teria sido um dos momentos em que um plano golpista teria sido discutido.

    No meio do caminho

    Nos últimos dias, militares da ativa se debruçaram sobre as mensagens em busca de decifrar a atuação de Freire Gomes. Uma reclamação recorrente é a de que as informações estão sendo liberadas a conta-gotas, o que impede a força de ter conhecimento completo sobre o que aconteceu.

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    Conforme o que se tem até aqui, há uma avaliação de que Freire Gomes estava em uma encruzilhada. Ao mesmo tempo em que tinha conhecimento de que algo irregular estava sendo encabeçado pelo seu chefe direto, o plano só funcionaria se houvesse o emprego das tropas – o que dependeria de uma determinação direta do comandante que, como se sabe, não aconteceu.

    Além disso, outra análise feita é a de que o cargo de comandante é político e de indicação direta do presidente da República. Portanto, se houvesse alguma insurgência, além de representar uma quebra de hierarquia, a função poderia ser substituída por alguém que topasse a intentona proposta por Bolsonaro e seu séquito – o que também teria um efeito danoso.

    Conforme mostram as investigações, Freire Gomes vinha sendo pressionado por militares a encampar a proposta de um golpe. Em conversas, o general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro, encaminhou mensagem que apontava que “a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”. Braga Netto também chegou a chamar o militar de “cagão”.

    Assim, dizem defensores de Freire Gomes, ele atuou de uma maneira estratégica ao não aderir ao golpismo e, ao mesmo tempo, não fazer alarde com a proposta. Resta saber, agora, se a Polícia Federal vai concordar com esses argumentos.

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