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Ex-executivo mentiu sobre conta para Lula em Madri, diz delator

Em depoimento à PF, lobista Milton Pascowitch afirma que Gerson Almada, ex-Engevix, contou  história “manifestamente inverídica” sobre depósitos em Madri

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 10 jan 2018, 11h13 - Publicado em 9 jan 2018, 22h18
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  • O lobista Milton Pascowitch afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que o ex-executivo da Engevix Gerson Almada mentiu ao atribuir uma conta na Espanha para uso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-ministro José Dirceu, ambos do PT.

    O depoimento, prestado dez dias após o levantamento do sigilo das confissões de Almada pelo juiz Sergio Moro, em dezembro, foi anexado aos autos nesta segunda-feira, 8. A força-tarefa da Operação Lava Jato pediu a Moro que as declarações do ex-vice-presidente da Engevix sejam investigadas.

    Em julho de 2017, Almada compareceu espontaneamente à Superintendência da PF em Curitiba para colaborar com as investigações. Ele afirmou saber de uma conta em Madri, na Espanha, administrada por Pascowitch, abastecida por propinas de contratos da Petrobras, supostamente em benefício de Lula e Dirceu. Ele afirmou ainda ter feito contratos dissimulados com o fim de pagar supostas vantagens indevidas a Dirceu.

    Em face das revelações de Almada, Pascowitch, que é delator da Lava Jato, prestou depoimento no dia 11 de dezembro. Ele afirmou à PF que “é manifestamente inverídica a afirmação feita por Gerson Almada de que administrava conta em Madri para pessoas do PT, possivelmente em favor de Luiz Inácio Lula da Silva e de José Dirceu” e que, enquanto colaborador, “forneceu em seu acordo todos os extratos de suas contas fora do Brasil, as quais eram mantidas apenas nos Estados Unidos nos bancos UBS e Credit Suisse”.

    Almada havia dito que firmaram contratos dissimulados com a empresa de comunicação Entrelinhas com o fim de pagar propinas a Dirceu. Ele entregou documentos aos investigadores para corroborar esta parte do depoimento. A respeito dos papéis do ex-executivo da Engevix, Pascowitch afirmou que “não se recorda especificamente desse pedido, mas que era comum a solicitação por parte da JD Assessoria [empresa do ex-ministro] para realização de pagamentos de serviços efetuados por terceiros, em razão da ausência de caixa para fazer frente aos seus contratos”.

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    O embate entre versões do executivo da Engevix, que passou a colaborar, e o delator Pascowitch, se deu nos autos da denúncia do Ministério Público Federal sobre propinas de R$ 2,4 milhões das empreiteiras Engevix e UTC para Dirceu. O petista teria recebido os valores durante e depois do julgamento do mensalão – ação penal em que foi condenado. A acusação da força-tarefa da Lava Jato foi ajuizada em 2 de maio e ainda não foi recebida por Moro.

    Almada pediu para falar antes de o magistrado decidir se coloca ou não os investigados no banco dos réus. Além do executivo e de Dirceu, são acusados Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão do ex-ministro; João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT; e Walmir Pinheiro Santana, ex-executivo da UTC. Pascowitch voltou a afirmar que “em relação à licitação dos oito cascos replicantes, foram pagos 0,5% para a Casa e 0,5% ao PT que viabilizaram as negociações e posterior assinatura do contrato”.

    Segundo o lobista, “foi paga comissão à JAMP pelos trabalhos de assessoria desempenhados, desde a concepção do projeto até a fase de produção dos cascos e que, após aprovação de Gerson Almada, ficou acordado pagamento de R$ 14 milhões para João Vaccari, sendo R$ 10 milhões pagos em dinheiro e R$ 4 milhões por meio de doações oficiais ao partido”. JAMP é a consultoria de Pascowitch por meio da qual ele admitiu que fazia pagamentos para agentes da Diretoria de Serviços da Petrobras. No entanto, Pascowitch voltou a reiterar que “os recursos eram destinados ao PT e em nenhum momento falou-se em pagamento a Lula ou José Dirceu”.

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    Defesas

    Em nota, o advogado Roberto Podval, que defende Dirceu, afirmou que “o que se tira dessas delações são mentiras de ambas as partes. Cada qual tentando vender mais do que tem e ainda sair com lucro.”

    Almada afirmou que, por orientação de seu advogado, não comentará a acusação, pois crê “que a investigação criminal irá aclarar a verdade”.

    Já o advogado Luiz Flávio Borges D’Urso, que defende Vaccari, divulgou uma nota sobre a acusação de Pascowitch. “O sr. Vaccari jamais negociou ou recebeu qualquer valor de origem ilícita. Na verdade, sendo tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, dirigiam-se a ele todos que pretendiam fazer doações ao partido e dele recebiam a orientação para que tais doações fossem na conta bancária do PT, expedindo-se o respectivo recibo e informando-se as autoridades competentes, tudo absolutamente legal. Fora disso nada é verdadeiro”, afirmou.

    A reportagem entrou em contato com a defesa de Lula, mas não obteve resposta.

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