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Ex-ministro da Saúde de Lula estranha apoio de Nise Yamaguchi à cloroquina

Oncologista, que integra gabinete de crise de Bolsonaro e é cotada para substituir Mandetta, participou do governo petista na gestão de José Gomes Temporão

Por Edoardo Ghirotto
8 abr 2020, 13h55

A defesa da oncologista Nise Hitomi Yamaguchi do uso de hidroxicloroquina em pacientes com sintomas brandos de Covid-19 pegou de surpresa os especialistas da área da saúde. Entre os médicos que estranharam essa tomada de postura está o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão, que foi chefe de Yamaguchi no período em que ela trabalhou para a pasta durante a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo o currículo da oncologista, ela foi representante do Ministério da Saúde em São Paulo entre 2008 e 2011.

“Ela é muito respeitada no campo da oncologia clínica e tem um forte viés humanista em sua conduta. Desse ponto de vista, as referências são as melhores possíveis. Mas fiquei surpreso com a incursão dela nesse campo, que é completamente distinto da sua prática profissional. Eu, pessoalmente, discordo da proposta”, disse Temporão a VEJA.

Temporão chefiou a Saúde entre 2007 e 2011. Ele afirmou que o cargo exercido por Yamaguchi em sua administração era de caráter protocolar e voltado para a gestão do SUS. “Era mais uma formalidade, não tinha um papel técnico”, disse. Mas, uma reportagem publicada pela revista Piauí, em agosto de 2007, atribui a Yamaguchi a indicação de Temporão para o ministério. Ela teria sugerido o nome do médico ao cardiologista Roberto Kalil, que cuida da saúde de Lula desde a época em que o petista era sindicalista.

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, defende mais recursos para a Saúde
O ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão defendeu a atuação de Mandetta à frente da pasta (Walter Campanato/Agência Brasil/VEJA)

Hoje, Yamaguchi integra o gabinete de crise que o presidente Jair Bolsonaro montou para combater a doença. Temporão diz não manter contato há muito tempo com a oncologista e não sabe dizer o que a levou a apoiar o uso da hidroxicloroquina no tratamento geral do novo coronavírus. A liberação do remédio para todos os pacientes é uma das divergências entre Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O presidente é um dos entusiastas do medicamento, que apresentou resultados promissores contra a Covid-19, mas que ainda não foi respaldado por estudos científicos aprofundados.

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“É muito precoce propor o uso preventivo ou profilático [da hidroxicloroquina]. Na literatura não temos nenhum artigo validado cientificamente sobre isso. Sou membro da Academia Brasileira de Medicina e todos estão esperançosos de que algum estudo sairá nas próximas semanas e poderá significar uma mudança na abordagem terapêutica. Mas, infelizmente, até o momento não temos nenhuma evidência robusta sobre a medicação”, declarou Temporão.

O ex-ministro afirmou acreditar que Yamaguchi defende o remédio com a melhor das intenções, mas lamentou que o posicionamento da oncologista esteja inserido num contexto político conturbado e que possa ser manipulado por interesses alheios à saúde e à medicina.

“Qualquer tipo de recomendação tem grande impacto no imaginário das pessoas, porque elas estão inseguras. Todo mundo ficará alucinado se você falar que tem algo para curá-las ou protegê-las. No contexto que vivemos, não é razoável tomar decisões individuais. O razoável é encaminhar essas propostas de forma institucional. A polêmica surge quando isso ocorre no campo pessoal. Você fulaniza a questão num professor ou num doutor. Se existem evidências, então elas devem ser submetidas aos pares, como falamos na ciência. É frágil colocar essa questão no nome de uma pessoa”, disse.

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Nos últimos dias, Yamaguchi passou a ser cotada como uma possível substituta de Mandetta, que por pouco não foi demitido por Bolsonaro na segunda-feira, 6. Temporão, que teve de lidar com a pandemia de H1N1 durante a sua gestão, disse que qualquer mudança no ministério será prejudicial para o enfrentamento do coronavírus.

“O período da H1N1 não teve essa dimensão, mas foi de grande tensão. Sei o que o Mandetta está passando por lá. Diante do contexto atual, digo que o trabalho exercido por ele é heroico”, declarou. “Qualquer mudança seria péssima, independentemente do nome. Um processo como esse requer união, harmonia e transparência. São preceitos fundamentais para enfrentar uma pandemia tão grave. Agora, o momento é de mostrar firmeza em torno do Mandetta e seguir as orientações da Organização Mundial da Saúde”, declarou Temporão.

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