Wajngarten confirma que Pfizer enviou carta oferecendo vacinas ao Brasil
O ex-chefe da Secom foi questionado sobre afirmações dadas em entrevista a VEJA e confirmou o envio do documento oferecendo vacinas ao governo Bolsonaro
A CPI da Pandemia ouviu nesta quarta-feira, 12, o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência Fabio Wajngarten. Ele falou sobre o atraso na compra de vacinas contra a Covid-19 pelo Ministério da Saúde e as campanhas do governo federal em temas como isolamento social e “tratamento precoce”. Além disso, foi questionado sobre afirmações dadas em entrevista a VEJA e mentiu sobre trechos da entrevista (ouça o áudio).
Após tergiversar, Wajgnarten confirmou a existência de uma carta da Pfizer enviada ao governo Bolsonaro em 12 de setembro com o objetivo de negociar a compra de vacinas. Segundo ele, em novembro, mandou um e-mail à farmacêutica e posteriormente a isso, em 17 de novembro, se encontrou com o CEO da Pfizer Carlos Murillo, em seu gabinete.
À comissão, o ex-secretário negou a existência de um ‘aconselhamento paralelo’ a Bolsonaro para tratar do combate à pandemia, fato denunciado pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. “Nunca participei, não confirmo e desconheço qualquer coisa nesse sentido”, afirmou.
Em certo momento, o depoimento foi suspenso pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). Isso porque Wajngarten negou ter chamado o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de “incompetente”. “O senhor só está aqui por causa da entrevista [a VEJA]. Se não fosse isso, ninguém lembraria que você existia, não tem outra razão para estar aqui. É baseado no que você falou“, disse Aziz. “Por favor, não menospreze a nossa inteligência, ninguém é imbecil aqui”, acrescentou. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) lembrou que, como testemunha, o ex-chefe da Secom não deveria mentir em seu depoimento. Áudio de VEJA mostra que Wajngarten definiu, sim, como “incompetente” a atuação do Ministério da Saúde nas negociações com a Pfizer.
A VEJA, Wajgnarten apontou “ineficiência” na compra de vacinas por parte da gestão do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Por este motivo, disse o ex-secretário, foi autorizado pelo presidente Bolsonaro a intermediar as negociações com a farmacêutica Pfizer para aquisição de 70 milhões de doses do fármaco. Ele chegou a se reunir com diretores da empresa, discutiu cláusulas, mas o acordo não prosperou.
A convocação de Wajngarten atendeu a requerimentos dos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, e Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Randolfe lembra que, na entrevista a VEJA, o ex-secretário de Comunicação disse que o Ministério da Saúde teria sido o responsável “pelo atraso das vacinas”. “[Wajngarten] informa possuir e-mails, registros telefônicos, cópias de minutas do contrato, dentre outras provas para confirmar sua afirmação”, justifica.
Para Alessandro Vieira, o depoimento pode esclarecer “todas as questões de publicidade e comunicação oficial do governo” durante a pandemia. O parlamentar pretende explorar temas como “isolamento social, vacinação e emprego de medicamentos sem eficácia comprovada”.
Na terça-feira 11, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres abriu a semana de depoimentos na comissão. Ele falou sobre o processo de liberação de vacinas contra a Covid-19 e também sobre a tentativa do presidente Jair Bolsonaro de mudar a bula da cloroquina, remédio comprovadamente ineficaz contra a doença. Nesta quinta-feira, a CPI irá ouvir o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo. Os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich e o atual chefe da pasta, Marcelo Queiroga, já falaram na comissão. Na próxima semana, outros membros e ex-membros do governo Bolsonaro devem ser ouvidos.