Em artigo publicado nesta terça-feira 21 pelo jornal inglês Financial Times, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) rebate as afirmações feitas pelo seu sucessor na Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em texto divulgado semana passada no The New York Times, onde o petista condenado e preso pela Operação Lava Jato afirma que há um golpe de direita em andamento no Brasil para que ele não concorra às eleições deste ano.
FHC afirma que Lula retrata o país como uma “democracia em ruínas”, na qual a lei foi usada de maneira arbitrária para minar o petista e seu partido, o que, na visão do tucano, não é verdade. “A maneira como Lula da Silva escolheu se defender para o mundo, contudo, precisa ser confrontada. Em um artigo recente ele apresentou uma versão da história recente do Brasil que não tem relação com a realidade. Isso seria um problema para os historiadores, não fosse ele o influente político que ele é”, escreveu.
Em outro trecho, Fernando Henrique Cardoso também responde à declaração de Lula sobre a situação brasileira em 2003. “Também não é verdade, como Lula afirma, que o Brasil não tinha direção antes de ele assumir a Presidência, em 2003. É preciso lembrar que a estabilização depois de anos de hiperinflação começou com o Plano Real, lançado pelo ex-presidente Itamar Franco, e continuou no meu governo. Esse também foi um período marcado pelo estabelecimento de programas de bem-estar social que Lula posteriormente iria expandir”, ressalta o tucano.
Em seguida, FHC diz que a visão de Lula “é uma versão peculiar das últimas décadas da história do Brasil, na qual ele, às vezes, aparece como o salvador do povo e, às vezes, como vítima de uma conspiração de “elite”.
O ex-presidente escreve ainda que o caso de Lula não é isolado e que, no Brasil, há políticos de todos os partidos, incluindo do PSDB, na prisão. Ele argumenta que a situação do petista está dentro de um entendimento em vigor no país, de que pessoas condenadas em segunda instância começam a cumprir pena, sem perderem o direito de recorrer às cortes superiores.
Fernando Henrique Cardoso diz que não está “sempre confortável” com o tamanho das penas ou com prisões preventivas, mas finaliza ponderando: “É uma grave distorção da realidade, no entanto, dizer que há uma campanha direcionada no Brasil para perseguir indivíduos específicos. Meu país merece mais respeito.”
Artigo de Lula
Em seu artigo no jornal americano, o ex-presidente Lula acusou a existência de “um golpe de direita” que teria o objetivo de “marginalizar permanentemente as forças progressistas no Brasil”.
“Com todas as pesquisas mostrando que eu venceria facilmente as eleições de outubro, a extrema direita do Brasil está tentando me tirar da disputa. Minha condenação e prisão são baseadas somente no testemunho de uma pessoa, cuja própria sentença foi reduzida em troca do que ele disse contra mim. Em outras palavras, era do seu interesse pessoal dizer às autoridades o que elas queriam ouvir”, afirmou o petista.
O ex-presidente também criticou o juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato em Curitiba, que, junto com “seus promotores”, seria aliado das “forças conservadoras”. “Moro tem sido celebrado pela mídia de direita do Brasil. Ele se tornou intocável. Mas a verdadeira questão não é o Sr. Moro; são aqueles que o elevaram a esse status de intocável: elites de direita, neoliberais, que sempre se opuseram à nossa luta por maior justiça social e igualdade no Brasil.”
(Com Estadão Conteúdo)