Funkeiros, jogadores e joias com quilos de ouro de mais de R$1 milhão: a lista de clientes de deputado preso
Parlamentar que fez fama como joalheiro fabricou peças exclusivas para MC Poze do Rodo, Ludmilla, Vini Jr., Neymar e Adriano Imperador
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Atualizado em 3 set 2025, 16h03 - Publicado em 3 set 2025, 15h35
Preso pela PF no Rio nesta quarta-feira, 03, o deputado estadual Tiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, era um velho conhecido da Polícia Civil do Rio e do Ministério Público. Mas, para além da sua ficha extensa, que inclui ligação com as três facções criminosas que dominam o tráfico no Rio, e de uma condenação, ele fez fama fabricando joias extravagantes para celebridades do mundo do funk e do futebol. No ano passado, em entrevista a VEJA, ele revelou que a mais cara de todas até então foi para o MC Poze do Rodo: um cordão com mais de três quilos de ouro cravejado de pedras preciosas e que, segundo o joalheiro, custou “bem mais de R$ 1,2 milhão”. Os preços para celebridades iam de R$ 500 mil a R$ 1,2 milhão, em média. “Poze gosta de chamar a atenção, e acho bacana. Ele veio de comunidade, passou por diversas dificuldades. Ele representa a favela venceu”, comentou a VEJA ao falar da joia.
No Instagram, Poze do Rodo gosta de ostentar a peça. Numa das fotos, a legenda diz: “nem de ouro eu gosto”. Com a cantora, Ludmilla ele também estabeleceu uma relação próxima. Num post, Tiego aparece na garupa da artista num jet ski. A estrela do funk se tornou amiga desde que TH a presenteou com o par de alianças que selou sua união com Brunna Gonçalves. “Te amoooo”, já escreveu ela para Tiego na rede. Em shows da turnê Numanice, a cantora usou um colar com pingente “Lud” em ouro branco 18 quilates e pedras de diamante da TH Joias. Ela já possuía um com o nome “Ludmilla”.
Na festa de aniversário do empresário em 2022, a cantora Ludmilla compareceu, chamando o anfitrião de “mano”.
O joalheiro, na verdade, conta com um designer para criar peças exclusivas, mas o contato com o cliente e o toque final são com ele. Para Neymar, ele fez um cordão, encomenda de um amigo do jogador. Já Vini Jr comprou diretamente dois cordões quando estava no Flamengo. Adriano Imperador era outro cliente com quem tinha proximidade: uma encomenda, de “valor considerável”, de acordo com TH, ganhou a pedido o formato da Igreja da Penha.
O casal Lore Improta e Léo Santana também celebrou com alianças da marca. A conquista desse nicho no ramo de joias foi rápida. Há cerca de dez anos, ele fez um bracelete para MC Tikão, seu conhecido de Madureira. Depois dele, foi a vez de Nego do Borel pedir item igual, cujo valor não passava de R$ 7 mil. “No início era só ouro amarelo. Agora que o pessoal começou a ficar mais sofisticado, a usar ouro banco com diamantes”, ressaltou o empresário a VEJA. Após os MCs, ele chegou aos pagodeiros e em seguida aos jogadores de futebol.
Fontes da polícia contaram a VEJA no ano passado que ele teria também grandes chefões do tráfico como clientes. Um nome citado foi o de Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, do Terceiro Comando Puro (TCP). O Laboratório de Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil identificou na época em que TH era investigado por lavar dinheiro das três facções do Rio que, embora fosse sócio com a mulher da empresa TH Joias, esta não era declarada em seu imposto nem contava com registros oficiais de receita ou movimentação financeira.
A origem do hoje político está no Morro do Fubá, entre os bairros de Campinho e Cascadura, na Zona Norte. Seu pai, Juberto, foi presidente da associação de moradores da comunidade e trabalhava com compra e venda de ouro. Ainda criança, ele se mudou para o asfalto, morando a maior parte do tempo em Bento Ribeiro. Aos 19 anos, ele, que é o filho mais novo de cinco irmãos pelo lado paterno, passou a seguir os passos do pai, vendendo joias e liderando ações sociais no subúrbio. Todos os anos, patrocina uma festa tradicional de Dia das Crianças na praça conhecida como Rala Coco, em Rocha Miranda.
Chegada ao MDB
O empresário entrou no MDB, em 2022, após se aproximar do deputado federal Gutemberg Reis. Nesta quarta, ele foi expulso do partido por Washington Reis, presidente estadual da legenda e irmão de Gutemberg. Outro irmão do clã de Caxias, o deputado estadual Rosenverg Reis, líder do MDB na Alerj, ratificou a expulsão, divulgando que a “liderança não compactua com ilegalidades, repudia conduta criminosa e confia na Justiça”.
Em julho de 2022, Tiego foi condenado a 14 anos, 11 meses e 22 dias de prisão pela Justiça do Rio por lavagem de dinheiro das três facções do Rio, corrupção ativa, colaboração com o tráfico e organização criminosa. Entre 2017 e 2018, chegou a ficar quase dez meses atrás das grades no complexo de Bangu. Ao ser detido, ele morava em Valqueire. Pouco tempo depois de sair da prisão, se mudou para o Recreio, e depois para a Barra. Morador do Condomínio Mansões, reduto de alto luxo na Barra, podia a exercer o mandato que seria de Rafael Picciani – o político quis continuar no comando da Secretaria estadual de Esporte e Lazer após a morte de Otoni de Paula Pai – graças a um Habeas Corpus. Ele, que era segundo suplente do MDB, nega todas as acusações.
Com mas de 200 mil seguidores, o perfil do político é recheado de fotos e vídeos em sua mansão, de joias extravagantes – até um pingente em forma de cartão de crédito “Bradesquinho” ele já fez -, participando de cultos evangélicos e ao lado de políticos. Cláudio Castro e Rodrigo Bacellar estão entre os que aparecem lá. Embora já tenha prestigiado o governador em uma festa de aniversário, o emedebista dizia que a relação era somente política. O mesmo ele afirmava sobre Bacellar.
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